sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Humorista de Bagé


Depois de serem festejados como uma renovação do humor e até jornalismo brasileiro - não são uma coisa muito menos a outra - o CCQ se viu na posição de vidraça quando uma de suas estrelas, Rafinha Bastos, passou do limite e acabou sendo suspenso. Insatisfeito de ter virado bode expiatória, a coluna de Flávio Rico, no UOL, noticia que ele teria pedido demissão à direção da Band. O episódio da piada infeliz com a cantora Wanessa foi apenas a gota d'água de uma série de frases e declarações quedemonstram que o sucesso subiu à cabeça dele e de outros CCQs. Tendo como mentor Marcelo Tas, deviam ter aprendido com ele o segredo do sucesso de seu Marcelo Tas, nos anos 80: o personagem conseguia encurralar seus entrevistados se fazendo de bobo. Os CCQs, pelo contrário, abordam suas vítimas como donos da verdade, com o objetivo explicito de humilhá-los. Quando não conseguem, a edição com as animaçõezinhas engraçadinhas se encarregam de faze-lo.
Um video na Internet estrelado pelo próprio Rafinha nesse período sabático mostra que o episódio não serviu para que ele calçasse as sandálias da humildade. Numa sequencia ambientada numa churrascaria, ele dá a entender que agora não pode fazer piada com criança para evitar encrenca. Ou seja, que ele está sendo censurado. Não é bem assim. Censura é quanto o governo quer intervir num quadro do Zorra Total que brinca com o cotidiano de milhões e cariocas que usam o metro. Satiriza algo do cotidiano que é a "encochação" nos vagões lotados, que é responsabilidade do sistema de transporte público e não dos criadores do quadro. O caso de Rafinha é diferente, trata-se do tenue limite entre o que é engraçado e o que é ofensivo pura e simplesmente. Alguém me disse que, ao brincar com Wanessa, ele errou a velha piada do cúmulo da pontaria. Sim, porque nem piada não foi, porque não teve graça. Nada pode condenar mais um comediante do que não ter graça.A última foi uma grosseria contra uma repórter que questionou sua piadas que teria feito durante um show: “Chupa o meu grosso e vascularizado cacete”:
Rafinha talvez ache que siga a linhagem de Lenny Bruce e Andy Kaufman, mas na verdade acabou caindo no estereótipo do gaúcho grosso imortalizado por Luis Fernando Verissimo. Ou seja, o Humorista de Bagé.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A morte de Steve Jobs


Poucas notícias de falecimento me chocaram tanto nos últimos anos, seja pela precocidade - 56 anos - como pela relevância. Steve Jobs é o Thomas Alva Edson da virada do século XX para o XXI.. Só que ao contrário daquele ganancioso inventor, ele não criou praticamente nada, mas enxergou o futuro como ninguém fez, nem mesmo sua nemesis - e posteriormente aliado - Bill Gates.
Jobs era amigo de Steve Wozniak quando este criou o primeiro microcomputador amigável. Mas foi a visão de  Jobs, filho da contracultura, que deu origem à Apple. Foi ele que viu o potencial dos computadores pessoais, que eram desprezados pela IBM. Foi ele que viu o potencial do mouse, uma invenção patenteada pela Xerox, que a cedeu por praticamente nada a ele, já que estava preocupada somente em alugar máquinas de fotocópias. Todo mundo sabe que o Macintosh foi a primeira interface gráfica bem sucedida, que usava "janelas", depois copiado por Gates numa adaptação de seu DOS, batizado como... Windows. Quando a Apple estava se transformando numa corporação, contratou um gestor profissional, John Sculley, que acabou demitindo-o da sua própria empresa. A essa altura, ele já era um herói na cultura popular americana e mundial, mas ainda estava na metade de suas realizações de visionário.
Cheio grana mas sem ter o que fazer, durante os anos em que esteve afastado da Apple, acabou comprando a divisão de animação digital da Industrial Magic & Light, a famosa empresa de efeitos especiais fundada por George Lucas, e a rebatizou de Pixar. O que veio depois é história.
O telefilme Piratas do Vale do Silício (1999), começa com a filmagem da famosa propaganda da Apple usando 1984, de George Orwell, e acaba na imagem de Jobs voltando a Apple e Bill Gates aparecendo num telão com o Big Brother após comprar parte das ações da empresa da maçã. Parecia que o dono da Microsoft tinha vencido a guerra á quela altura, mas o novo século ainda nem havia começado. Sob sua nova liderança, o iMac tornou-se objeto de desejo dos nerds, mas seu próximo grande passo alcançaria um público muito maior que os usuários de computador: o iPod, que ajudaria a  mudar as relações entre consumidores e produtores de música ainda mais que o lançamento do walkman da Sony nos naos 80. En seguida, novamente sob sua supervisão pessoal, foi lançado o iPhone, o celular-computador-máquina fotográfica-music player que tornou a concorrencia subitamente obsoleta.
A última revolução foi o iPad, que consolidou o conceito de tablet e que fez seus concorrentes se unirem para tentar derrubá-lo. Infelizmente, à essa altura a doença já estava consumindo seu irriquieto organismo, levando-o a se demitir da Apple ainda este ano.
Se Mark Zuckerberg mereceu um ótimo A Rede Social, certamente Steve Jobs merece uma cinebiografia que faça jus ao que representou ao mundo desde o final dos anos 70, quando a Apple praticamente inventou o conceito de computador pessoal. No mínimo sua morte merece um episódio de The Big Bang Theory, mesmo que ele esteja em 99o na lista dos 100 mais de Sheldon...