quarta-feira, 25 de abril de 2018

O legado de Erica Novachi na Secretaria da Cultura após 21 anos


Um ciclo se fechou ontem, dia 24, com o anúncio da saída de Erika Novachi da Secretaria da Cultura de Indaiatuba. Na história moderna do Município é a pessoa que ocupou por mais tempo consecutivo um cargo de primeiro escalão na Administração Pública: mais de 21 anos.

Quando Reinaldo Nogueira assumiu seu primeiro mandato, certamente o cargo mais difícil de ocupar era o de secretário da Cultura, após a gestão de Wladimir Soares no governo de Flávio Tonin. Foi o primeiro titular da pasta, que antes dele era uma simples diretoria da Semectur, Secretaria de Esportes Turismo e Cultura.

Em sua histórica passagem pela Cultura da Município, Soares criou o Maio Musical que colocou a cidade à frente das vizinhas Salto e Itu, com mais tradição na área. No início dos anos 90, Salto já tinha um teatro, o Verdi, que recebia montagens teatrais e shows importantes, e Itu iniciava o Festival de Artes, que por obra do maestro Eleazar de Carvalho pretendia rivalizar com o Festival de Inverno de Campos do Jordão.

A responsabilidade era grande para quem assumisse a pasta, e a solução de Nogueira foi caseira: a amiga Erika Novachi, dona do Galpão 1 Academia, onde sua então noiva Cristiane era estrela do grupo de dança. Erika já despontava como nome relevante do Jazz, e tinha experiência na gestão de sua própria academia de dança.

Uma das acusações mais injustas imputadas a Erika é que a partir dela a Cultura virou sinônimo de dança. Um de seus primeiros acertos foi no Teatro, com a vinda de Márcio Araújo,  para dirigir o grupo do Casarão, a partir do qual surgiram diversos outros pela cidade. Pena que depois ele nos deixou para dublar Pokemón. A manutenção do Maio Musical também foi um êxito que perdura até hoje. Havia ainda as atividades do Madrigal Cantátimo e da Orquestra de Câmara de Indaiatuba, ambas sob a direção de Marcelo Antunes Martins, que culminaram na gravação do CD “Ladainhas, Lamentos e Ladeiras”, que recuperou obras dos mestres mulatos do Barroco Mineiro, num projeto que envolveu  Arquidiocese de Mariana com patrocínio da Petrobrás. Se não houve prosseguimento desse trabalho junto com a Secult, a culpa não foi só da secretária.

A relação com a Secretaria de Estado da Cultura se estreitaram, e Erika trouxe para Indaiatuba o Projeto Guri, que virou uma espécie de conservatório municipal (embora originalmente não fosse pensado dessa forma), e, há 10 anos, a Virada Cultural Paulista, que hoje é uma grande atração turística, já que nenhuma cidade vizinha a recebe, nem mesmo Campinas (para vergonha da sede da Região Metropolitana, não nossa).

Entre as coisas que não funcionaram foram os meses temáticos, que tentavam reproduzir o Maio Musical para outras áreas. Surgiram então o Agosto das Artes, Setembro em Dança, Outubro das Letras, Novembro em Cena etc, que nunca cumpriram seus objetivos. Artes plásticas, dança e literatura não evoluíram como a música nessas duas décadas. O teatro sim, mas mais graças ao Grupo Estrada, inciativa privada que não conta com o apoio da secretaria.

O centralismo nada democrático de Erika também foi alvo de muitas críticas, mas a seu favor há que se reconhecer que nos últimos anos aconteceu a criação do Conselho Municipal de Cultura e editais foram lançados para preencher a programação da pasta.

A Sala Acrísio Camargo também deve ser contabilizada como um fracasso, mas não só de Erika. O que deveria ser nosso teatro municipal não chega a sê-lo porque foi construído com verba da Educação (os 25% previsto pela Constituição) e está oficialmente sob a administração dessa secretaria. Assim, eventuais peças de teatro e outros espetáculos deixam de vir á cidade por conta da programação da Educação na sala, como formaturas e cursos para professores. O próprio prefeito Nilson Gaspar já anunciou que tem um projeto para um novo teatro à espera de algum edital estadual ou federal.

Se é um equívoco dizer que a Cultura foi só dança sob Erika, não há dúvida que o Galpão 1 Grupo de Dança se tornou um dos principais do gênero no País nesses 21 anos. Testemunhei sua primeira vitória no Festival de Dança de Joinville em 1997, logo depois do 1º lugar em um festival em Nova York. Isso contribuiu, sem dúvida alguma, para que o Passo de Arte, segundo principal evento de dança de academias do Brasil, passasse a ser sediado em Indaiatuba. No entanto, apesar do evento atrair milhares de bailarinos para cá, a cidade mal se dá conta que ele existe, com exceção da hotelaria.

De modo geral, o balanço dessas mais de duas décadas de Erika à frente da Cultura foi positivo, mas, mesmo com a manutenção da atual equipe (que conhece o caminho das pedras), a futura secretária e primeira-dama Tania Castanho tem diversos desafios pela frente. Por exemplo, na atual administração a pasta recebeu o Departamento de Turismo, que até agora, entrando no segundo ano, está inoperante. Ok, fizeram um plano diretor, mas que eu saiba o Conselho Municipal não se reuniu e eventos que poderiam ser apoiados por ele estão ao léu. Em outas épocas, Departamento e Conselho de Turismo produziram duas edições do Festival Gastronômico Sabores de Indaiá, viabilizam a construção do Centro de Convenções Aydil Bonachella (hoje sede da Secretaria da Cultura) e do Centro de Informações ao Turista (hoje Centro de Operações e Inteligência da Guarda Civil), além do Portal do Parque Ecológico, que deveria ter sido colocado em alguma entrada da cidade.

Também não se deve cair na balela de tornar o Maio Musical 100% local. Vai virar um festivalzinho provinciano desinteressante. Mas ao invés de programar os nomes de sempre, como Oswaldo Montenegro e integrantes do Clube da Esquina, deveria fazer como a Virada e trazer novos nomes da música brasileira para cá, como As Bahias e a Comida Mineira, Mariana Aydar, Ana Cañas, Anavitoria entre outros que nunca vieram para cá.