Consagrado com o percentual de 99% de avaliações positivas
no Rotten Tomatoes, o site americano que recolhe críticas de filme em todos
EUA, “Corra!” estreia esta semana no Brasil. O autor – diretor e roteirista – é Jordan
Peele, um comediante praticamente desconhecido por aqui (mas que já ganhou um
Emmy em 2012), que conseguiu juntar cerca de 5 milhões de dólares para realizar
seu projeto, que arrecadou quase 175 milhões até o dia 15 deste mês.
Daniel Kaluuya (da série “Black Mirror”) é o jovem fotógrafo
negro Chris Washington, que namora a hipster branca Rose Armitage (Allison Williams,
do seriado “Girls”, em sua estreia no cinema). Eles partem em viagem para
visitar os pais dela, o neurocirurgião Dean (Bradley Withford, do melhor
seriado político americano – fuck “House of Cards” – “The West Wing”) e a
terapeuta Missy (Catherine Keener, de “Quero ser John Malkovich” e “O Virgem de
40 anos”), além do irmão esquisitão Jeremy (Caleb Landry Jones, o Banshee de “X-Men:
Primeira Classe”). Ele fica sabendo que o pai votaria no Obama para um terceiro
mandato, que a mãe usa hipnose para curar tabagismo e que o irmão tem tendências
psicopatas. Além disso, o caseiro e a criada negros comportam-se como zumbis. Mas
a coisa piora quando ele fica sabendo que naquele fim de semana acontece uma
grande festa cheia de brancos ricos e esquisitos, que o tratam com uma condescendência
acima do normal, e que o único negro presente além dele, Andrew (Lakeith Stanfield,
de “Straight Outta Compton”) também parece um morto vivo. Mas um incidente faz com que Andrew desperte e
grite para Chris o título do filme: Corra! Ou Get Out, em inglês.
Até então o que me vinha à mente era que se tratava de uma
espécie de “Esposas de Stepford” (que, por sua vez é nitidamente inspirado em “Vampiro
de Almas”) com negros. Mas aí vemos que o negócio é outro, e mais
aterrorizante. A virada final é sensacional e faz o filme ganhar vida. Chris, até então se
comportando como negro “civilizado” em um campo minado, tem que lutar por sua
vida de forma inesperada.
Se nos EUA o filme causou um grande impacto, aqui ele
recebeu resenhas mornas do meu amigo Ângelo Cordeiro, no Nerd Interior, e
Marcelo Hessel, no Omelete. Acho que a diferença é de contexto. Numa América
pós-Obama e em pleno governo Trump, o clima opressivo do filme causa
identificação imediata. Não é apenas o racismo segregacionista, mas os clichês dominantes
entre os brancos sobre negros. Possivelmente a visão de humorista do diretor
Peele seja responsável por este mérito de “Corra!”. E pouco depois de ver o
brazuca “O Rastro”, outro terror que aborda temas contemporâneos, admiramos
ainda mais as soluções do roteiro americano.
A escalação do elenco é outro trunfo do filme, desde o
protagonista Daniel Kaluuya, passando pelo seu melhor amigo Rod, um segurança
de aeroporto interpretado por LilRel Howery (do sitcom de curta vida “The
Carmichael Show”), pela família da moça e os criados, especialmente na
caracterização sinistra de Betty Gabriel.
Não costumo dar notas neste blog, mas como agora colaboro intermitentemente
com o Nerd Interior, que pede notas, dou 8/10. Para mim mais satisfatório
dentro do tema que o vencedor do Oscar “Moonlight”.
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