quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Para entender a crise

Esperando o dia seguinte

por Luis Nassif no blog http://www.projetobr.com.br/web/blog?entryId=9174

A experiência com as crises nacionais dos anos 80 e 90 ensina uma lição: jamais tente projetar o sentimento de um dia de pânico para o futuro. Depois do pânico, sempre há o alívio de ver que o mundo não se acabou.

No momento, tem-se uma crise financeira de monta, que terá que ser contida nos próximos dias. Depois, se avaliarão os estragos no mercado financeiro e, especialmente, na economia real.

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O Plano Paulson – de ajuda ao sistema financeiro norte-americano – foi derrotado no Congresso pela insensibilidade política. Havia várias maneiras de torná-lo palatável. A mais óbvia era centrar a ajuda nos mutuários.

Veja bem: há uma crise no sistema de crédito mundial, cujo epicentro é a inadimplência dos mutuários de financiamentos habitacionais nos Estados Unidos. Um plano que permitisse a recomposição dessas dívidas – dilatando prazos ou concedendo benefícios fiscais – ajudaria na recuperação dos títulos podres.

Em vez disso, o Secretário do Teosuro Henry Paulson e o presidente do FED, Ben Bernanke, concentraram a ajuda nas instituições financeiras. O plano trocaria títulos ruins delas por títulos do Tesouro. Depois, o governo veria o que fazer com esses títulos.

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Havia dúvidas de monta na aprovação do plano. Primeiro, por não impor perda nenhuma aos bancos: as dívidas seriam trocadas por seu valor de face. Nem aos gestores – que continuariam a receber seus bônus milionários.

Criou-se, aí, um efeito contrário que se propagou por blogs e sites de Internet.

No final de semana, lideranças democratas e republicanas chegaram a um meio termo. Os bancos teriam que repassar ações ao Tesouro em troca do apoio. Depois de recuperados, as ações se valorizariam permitindo ao contribuinte americano se ressarcir.

Também teriam que limitar os ganhos de seus executivos. E haveria mudanças na lei de execução de hipotecas para beneficiar os mutuários – como foi feito por Franklin Delano Roosevelt em 1933.

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Os ajustes chegaram tarde. Não havia tempo físico para um detalhamento. Com isso, passou-se a impressão de que o plano era para inglês ver, que os bancos receberiam a ajuda mas não cumpririam o que fora esboçado no plano. Fizeram os ajustes no final de semana e não cuidaram de divulgar adequadamente o conteúdo ou de definir de forma mais precisa as contrapartidas e as punições do sistema financeiro.

Some-se o fato de se estar em período eleitoral.

Agora, é tratar de aguardar os próximos passos.

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Do ponto de vista orçamentário, o tamanho do pacote de ajuda pode ser suportado pelo Tesouro americano. Além disso, a rejeição inicial do pacote não significará sua reprovação, mas provavelmente aprimoramento – graças aos inúmeros grupos de discussão existentes nos EUA.

Mas as marcas da crise financeira serão cicatrizes que demorarão anos para serem curadas. De repente, os consumidores americanos perderam imóveis, ações, a confiança no sistema financeiro e nas suas grandes corporações.

Os impactos sobre a economia real serão profundos – na forma de recessão das bravas.

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