terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Peripécias


Harue Kimura

Gosto de me banhar em águas termais.
Se for de carro, via Rodovia do Açúcar, a gente chega em menos de duas horas.
O balneário da cidade de Águas de São Pedro, aos sábados abre aos banhistas de manhã e à tarde.
Resolvi arriscar uma viagem de ônibus. De Indaiatuba para Campinas; de Campinas para Americana e de Americana finalmente ao meu destino Águas de São Pedro. São três baldeações e de cidade para cidade foi uma espera em média 20 minutos. É como se diz: “Quem tem boca vai a Roma”. Pergunta aqui e acolá, descobri as empresas de ônibus que servem para o meu destino.  Levei quase quatro horas. O dobro de uma viagem de carro. Previdente como sou, procurei saber os horários do ônibus de volta. 
E  como meu estômago dava sinal de fome procurei um restaurante nas proximidades. Em três anos de ausência, o horário do balneário mudou. Minha intenção era me banhar às 14,00 horas, logo no inicio do funcionamento da parte de tarde e pegar o ônibus das 16,00horas.
A vantagem de uma cidade pequena é que a gente consegue ir a pé para a maioria dos locais. Chegando ao balneário com uma margem de 40 minutos, não sou mineira, mas gosto de me adiantar. É com surpresa e desgosto os horários dos funcionamentos do balneário foi mudado. Em vez das 14,00 horas, foi atrasado uma hora para a abertura dos banhos na parte da tarde. Fiz meus cálculos e quase desisti do banho, pois teria apenas uma hora para me despir, banhar, enxugar e me vestir em 40 minutos para não perder o ônibus programado. Uma correria daquela.
Pensei, já que consegui chegar até aqui, nem que for para sentir no meu corpo as delicias que aquelas águas sulfurosas proporciona, durante dez minutos vou entrar. Prá piorar, tive de esperar por 15 minutos a chamada para o delicioso banho. Tirar as roupas foi fácil. Vestir é complicado, pois o corpo por mais que se enxugue com toalha permanece uma umidade da própria sala de banho. Em todo caso empenhei o máximo, pois o relógio não para. De todas as vezes que ia para a cidade dos banhos, levava queijos e doces que são uma delicia para o pessoal de casa. Desta vez o medo de perder o ônibus das 16,00 horas, pois o próximo era 18,15 horas. Fazendo as contas chegada seria mais ou menos às 22,00 horass, hora considerado impróprio para “criança” da minha idade. O retorno correu às mil maravilhas. Chegando em Americana, o ônibus parecia estar à minha espera, o mesmo acontecendo na cidade de Campinas. Em pouco mais das19, 00 horas estava de volta em casa.Contando as peripécias ao Marcos, meu filho, só resmungou como é do seu feitio: “Levar quatro horas para só molhar o corpo por dez minutos...”
Como experiência valeu, e também conclui que ainda estou enxuta...          

Trinta anos depois, Elis Regina está mais viva do que nunca


MARCOS KIMURA

Carlos Gardel morreu em 1935, mas os argentinos dizem que ele “canta cada vez melhor”. Elis Regina morreu no dia 19 de janeiro de 1982, ou seja, na próxima quinta-feira serão completados 30 anos de seu súbito desaparecimento. Pegue qualquer um de seus discos dos anos 1970 e qualquer um dirá que ninguém mais cantou como ela. No entanto...
Nem sempre foi assim. Na época em que ela morreu, alguns experts discutiam quem era a maior cantora da MPB, ela ou Gal Costa, que vivia uma fase esplendorosa, tanto de crítica como de vendas. A comoção popular provocada por sua morte repentina surpreendeu todo mundo. Uma procissão acompanhou o féretro do velório no Teatro Bandeirantes, na Brigadeiro Luis Antonio, até o cemitério no Morumbi.
O povo reconheceu que, mesmo Elis tendo se transformado numa intérprete sofisticada, muito distante de seu início meteórico na Era dos Festivais, quando apresentava O Fino da Bossa ao lado de Jair Rodrigues, ela era a grande intérprete de seu tempo. Os críticos reticentes de então se uniram aos inúmeros admiradores e, posteriormente, a consagraram como a maior cantora da Música Popular Brasileira em todos os tempos.
Em matéria publicada segunda-feira, dia 9, na Folha de S. Paulo, o jornalista Marcus Preto recordou que em 1992 as efemérides sobre os dez anos de sua morte lançavam a pergunta “como o Brasil pode se esquecer tão rapidamente daquela que tantas vezes foi considerada sua maior cantora?”.

Filha
Duas décadas depois e Elis, “ao lado de Gal Costa e Nara Leão”, é de novo uma das maiores influências sobre as novas gerações, como Mariana Aydar, que gravou dela Menino das Laranjas, em seu CD Kavita. Para Preto, o surgimento de sua filha Maria Rita, há uma década, é um dos fatores mais importantes por essa redescoberta.
Sua estreia em 2003, foi cercada de expectativa, principalmente depois da crônica de Walter Silva, o radialista Pica-Pau, escrita há dez anos e denominada “Eu ouvi Maria Rita e chorei”. No texto, o veterano comunicador contava sua primeira audição privada da filha de Elis, saudando não o surgimento de um nova cantora, mas a ressurreição de sua velha amiga. Naturalmente, não foi isso o que aconteceu, e Maria Rita foi crucificada pelos antigos fãs da mãe por não ser Elis. Felizmente, uma legião de jovens admiradores que não tinham nada a ver com aquilo passou a gostar da jovem intérprete que, à parte a assombrosa semelhança vocal com a genitora, buscou trilhar seu próprio caminho.
Agora, consolidada num mercado pós-gravadoras, ela tenta fazer as pazes com sua herança no Auditório Ibirapuera dia 17 de março, quando sua mãe faria 67 anos. Se ela havia passado de raspão no repertório materno em Entradas e Despedidas, agora Maria Rita vai com tudo na interpretação dos clássicos que Elis imortalizou. O show deve seguir para Porto Alegre, Belo Horizonte, Rio e Recife. Também o meio-irmão de Maria Rita, João Marcelo Bôscoli, está à frente de uma exposição chamada Viva Elis, com abertura marcada para o dia 14 de abril, no Centro Cultural São Paulo, reunindo fotos da cantora, imagens de entrevistas, cenas de shows e especiais de TV, ingressos e pôsteres, objetos pessoais, roupas, documentos e música.

Gravadora vai lançar caixa especial

A Universal Music prepara uma caixa com a discografia de Elis Regina na gravadora, reunindo discos lançados entre 1965 e 1979. Entre os álbuns está a versão integral do show Transversal do Tempo, de 1977. O mesmo João Marcelo Bôscoli,  junto com o pesquisador Rodrigo Faour, recuperou o registro, na época lançado em um LP com apenas 12 faixas. Desta vez, serão 25 canções em CD duplo com registros inéditos.
Outra apresentação importante a ser resgatada é a do Montreaux Jazz Festival, realizado em 1979, mas lançado meses após a morte de Elis, em 1982. O produtor André Midani conta em seu livro Música, Ídolos e Poder (2008), que a cantora o havia feito prometer nunca lançar sua performance naquele festival em disco. No entanto, após a morte da cantora e amiga em 1982, a lembrança de seu dueto ao lado de Hermeto Paschoal passou a assombrá-lo, até que ele se rendeu e lançou o show em LP, com nove faixas.
O pesquisador Marcelo Froes reuniu os dois shows de Elis naquele dia, um à tarde, com a cantora descansada, e outro à noite, já extenuada. Dois CDS trarão cada uma das performances em separado, já que o disco de 1982 misturava as duas apresentações em um LP. Vai se chamar Um dia.