segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O melhor show do Oscar dos últimos anos

Não sei até que ponto o ótimo show do Grammy Awards influenciou a 85a cerimônia de entrega dos Premios da Academia de Hollywood, mas acho que contribuiu para que esta fosse o melhor Oscar dos últimos anos em termos de programa. O apresentador Seth MacFarlene abriu o evento com uma piada que desculpou toda a irreverencia - ou piadas politicamente incorretas - que se esperava dele.

O capitão James T. Kirk vem do futuro para alertar Seth MacFarlane
Aliás, a presença de William Shatner como Capitão James T. Kirk no telão foi m momento "geek" que divertiu os rapazes e entediou as moças, o que seria compensado mais tarde pelos diversos números musicais, incluindo todo o elenco de "Os Miseráveis" (ironicamene, em trajes nada misérables) cantando a canção principal. 
Todo o eneco de "Os Miseráveis" cantando em trajes de gala
Antes, Catherine-Zeta Jones havia voltado a "Chicago" em boa forma na dança, mas visivelmente dublada na voz, e uma esguia Jennifer Hudson lembrou sua atuação em "Dreamgirls", sendo aplaudida em pé. A franquia James Bond foi homenageada pelo seus cinquentenario, com apresentação da única Bond Girls oscarizada, Halle Berry, e a presença da veterana Shirley Bassey cantando a emblemática "Goldfinger". Depois de Shirley e seu histrionismo típico, a apresentação de uma muito mais jovem Adele defendendo seu "Skyfall" foi anticlimático, com a intérprete e compositora inglesa visivelmente travada. Mas com a estatueta de Melhor Canção e a de edição de som (em um raro empate com "A Hora mais escura") fez deste o melhor ano de 007 nos Prêmios da Academia. 
Barbra Streisand mostra que ainda canta muito

Outro momentão nostálgico foi a aparição surpresa de Barbra Streisand na homenagem aos falecidos do ano, cantando "The way we were" (de um de seus sucessos, "Nosso amor de ontem"), de Marvin Hamlish, grande compositor morto em 2012. Outra surpresa foi a participação on line da primeira-dama Michelle Obama para o anuncio do melhor filme. Será que Hollywood ficou feliz coma  reeleição de Barack Obama? Sim ou com certeza?
 No todo, o show foi dinâmico, razoavelmente enxuto e bem conduzido por McFarlane (melhor piada, a da Família von Trapp para anunciar Christopher Plummer), que salvo acidente de percurso neste ano, deve voltar no ano que vem. Detalhe, gostei da "homagem" aos perdedores no fim. Foi um momento mal-comportado quando quase todo mundo já havia desligado a TV para dormir.
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Michelle Obama rouba a cena de Jack Nicholson
Tradicionalmente o primeiro premio a ser anunciado, a categoria ator coadjuvante começou com uma pequena surpresa: a vitória de Christoph Waltz por "Django Livre" (que já havia faturado o "Globo de Ouro") sobre o favorito Tommy Lee Jones por "Lincoln". Não dá para falar em injustiça num páreo em que todos os indicados já tinham suas estatuetas e pelo menos um, Robert De Niro, é uma lenda viva de Hollywood. Na verdade, na disputa entre os dois concorrentes que tratavam sobre a escravidão nos EUA, Tarantino levou pequena vantagem sobre Spielberg. Ambos levaram duas estatuetas, mas "Django Livre" ganhou em duas das categorias principais - ator coadjuvante e roteiro original - enquanto "Lincoln" ganhou em uma principal - ator para Daniel Day-Lewis, a barbada da noite - e uma secundária - direção de arte.
Em animação,  tudo ficou em casa: venceram o bonito curta da Disney "Paperman", que antecedeu "Detona Raplh" nos cinemas; e o longa "Valente, da Pixar,  num dos anos mais fracos desde a criação da categoria em 2002.
"As Aventuras de Pi", filme que muitos amam mas que era visto como azarão, foi o mais premiado da noite, a maioria em categorias técnicas, mas tendo como cereja do bolo o Oscar de direção para Ang Lee, o chines (bom, taiwanes na verdade) mais bem sucedido em Hollywood, mas que andou atirando para todos os lados em sua fase americana (vide seu fraco "Hulk"). É a segunda vitória em três indicações.
Como eu previra, a indicação de "Amor" para Filme e Filme Estrangeiro significava que ele ficaria com o menor mas cada vez mais importante Oscar para filme em idioma não-ingles. Os mesmo já havia acontecido com "O Carteiro e o Poeta".
Tadinha da Jennifer Lawrence, levando um tombo a caminho da glória

A jovem Jennifer Lawrence, revelada há apenas dois anos em "Inverno da Alma", já é praticamente uma estrela de primeira grandeza, tendo duas indicações ao Oscar - e uma vitória - e participações em duas franquias blockbusters, "X-Men" e "Jogos Vorazes". Sua vitória por "O lado bom da vida" é mais ou menos como o premio para Angelina Jolie em 2002, que a catapultou para ser superstar. Já o premio para Anne Hathaway por "Os Miseráveis" consagra uma estrela a quem a Academia queria há muito tempo laurear e só aguardava um trabalho adequado. Mais ou menos como os Oscars para Gwyneth Paltrow por "Shakespeare Apaixonado" e para Julia Roberts por "Erin Brokovich". Trata-se de um lógica de indústria, que é onde a maioria dos votantes trabalha.
Wolverine e Mulher-Gato se abraçam no palco
 Capítulo à parte para Daniel Day-Lewis. A primeira vez que o vi foi em "Minha adorável lavanderia" (1985) de Stephen Frears, em que ele fazia o namorado gay do imigrante indiano dono da tal lavanderia. Tres anos depois o assisti em "A Inustentável Leveza do Ser", de Philip Kaufman, ótima adaptação do péssimo romance de Milan Kundera, como o médico-garanhão que mandava as mulheres tirarem a roupa ("Take off your clothes") e elas obedeciam na hora. Consagrou-se com Oscar em "Meu pé esquerdo" ( de 1989, batendo Kenneth Branagh no magnífico "Henrique V") e depois virou galã em produções como "O último dos moicanos" (1992) e "A época da inocência" (1993). Depois de "O lutador" (1997), resolveu abandonar a atuação e pensou em virar sapateiro, mas aí Martin Scorcese o convenceu a fazer "Gangues de Nova York" (2002), que o animou a continuar o ofício. É o grande ator de sua geração e acaba de fazer história com seu terceiro Oscar como ator principal, superando lendas como Spencer Tracy, Marlon Brando e Tom Hanks
Terceira estatueta de ator principal consagra "o cara" Daniel Day-Lewis

Com a ausência de Ben Affleck entre os concorrentes a melhor diretor - a grande gafe/injustiça do ano - quando "Argo" foi anunciado como melhor roteiro adaptado, o Grande Prêmio já estava no papo. Durante a abertura da transmissão da TNT brasileira, Rubens Edwald Filho disse que este era o ano com os melhores filmes indicados dos últimos anos. Para mim, 2008, ano em que Daniel Day-Lewis ganhou seu penúltimo Oscar, continua sendo o melhor dos últimos anos, com os ótimos "Desejo e Reparação", "Ouro Negro" e "Onde os facos não tem vez" (que acabou levando) disputando cabeça a cabeça, secundados por "Conduta de Risco" e "Juno".Desde então, não tem havido uma páreo como este, e 2013 não é exceção. "Argo" ganhou porque é um thriller melhor que "A hora mais escura", é mais cinema que "Lincoln", mais fácil de entender que "As aventuras de pi", mais "sério" que "O lado bom da vida" (só Frank Capra vencia com comédias romanticas) e mais convencional que "Django livre" ("Os Miseráveis" e "Adorável sonhadora" estavam lá para fazer número). Foi uma boa escolha, mas a disputa deste ano não ficará na história.
Veja a lista completa de indicados e vencedores aqui.
Ben Affleck, injustiçado e ao mesmo tempo grande vencedor da noite


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 Outro dia o jornal Independent sacou um lista dos maiores filmes esquecidos do Oscar e colocou "Um sonho de liberdade" (perdeu para "Forrest Gump") em primeiro lugar; "À espera de um milagre" (perdeu para "Beleza Americana") em segundo; "Avatar" (perdeu par "Guerra ao Terror") em terceiro; "O Resgate do Soldado Ryan" (perdeu para "Shakespeare Apaixonado") em quarto; "ET" (perdeu para "Gandhi") em quinto; "Star Wars" (perdeu para "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa") em sexta; "Mary Poppins" (perdeu para "Minha Bela Dama") em sétimo; "Doutor Jivago" (perdeu para "A Noviça Rebelde") em oitavo; "Pulp Fiction - Tempo de Violência" (perdeu para "Forrest Gump") e "O Sol é Para Todos" (perdeu para "Lawrence da Arábia"). Queria saber qual o critério dessa pesquisa, mas só pode ser coisa de leitor que nunca ouvu falar em "Cidadão Kane" ou "Apocalipse Now". Comentem, por favor.
 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Pitacos do Oscar 2 - Quem leva

Jessica Chastain em "A hora mais escura"
Ontem assisti "A Hora mais escura" e fechei a conta dos favoritos ao Oscar (hoje estréia em todo o País "Indomável Sonhadora" e, em Indaiatuba, "Amor", mas o primeiro tem poucas chances e o segundo deve levar apenas o premio de filme estrangeiro).
Daniel Day-Lewis é aposta certa para melhor ator por sua extraordinária caracterização como "Lincoln". Será o primeiro com tres premios de ator principal. Entre as mulheres, depois de ver Jessica Chastain ontem, me parece que o favoritismo de Jennifer Lawrence se confirma: sua rival está bem em "A Hora mais Escura", mas a jovem estrela de "Jogos Vorazes" é destaque absoluto num elenco em que todo mundo foi indicado (Bradley Coooper como ator, Robert de Niro e Jacki Weaver como coadjuvantes poe "O lado bom da vida"). Aliás, é uma pena que De Niro tenha concorrentes tão bons como Alan Arkin em "Argo", Christoph Waltz em "Django Livre" e Tommy Lee Jones em "Lincoln", que aparentemente deve ganhar. Entre as mulheres a disputa é ainda mais interessante, a queridinha da Academia Sally Field (dois Oscars) concorrendo por "Lincoln" contra a namoradinha da América Anne Hatthaway, indicada por sua atuação em "Os Miseráveis". Sally está muito bem como a primeira-dama Mary Todd Lincoln, mas Anne tem aquele número emocionante cantando as desgraças de Fantine, que é a cara do Oscar. Pra mim, já ganhou.
A grande incógnita é o grande prêmio de filme. O mais premiado até agora é "Argo", cujo diretor não foi indicado, uma contradição em termos. É muito bom, mas não sensacional, e um dos pontos fortes é justamente a direção de Ben Affleck. "Lincoln", o segundo favorito, é gradiloquente mas não grande, e Spielberg não está em sua melhor forma (mas pode levar o premio de direção só com seu nome). "Os Miseráveis" corre por fora mas, francamente, não merece. "A hora mais escura" trata de um tema contemporâneo, mostra a competencia de Katryn Bigelow para películas de ação (e ela nem foi indicada), porém, não é muito mais que um bom thriller. A irreverência e inconvencionalismo de Quentin Tarantino tiram ele e "Django Livre" dos páreos de direção e filme, mas pode lhe dar um novo Oscar de roteiro original. "As aventuras de Pi" é bonito, mas não acho que rendam a ele e a Ang Lee os grandes premios. Resumindo, acho que dá "Argo" como melhor filme e Steven Spielberg como diretor (lembrando que ele ganhou seu segundo premio pela direção de "O Resgate do Soldado Ryan" em 1999, ano em que "Shakespeare Apaixonado" foi o melhor filme).
Dentro dessa lógica, "Argo" deve levar ainda o premio de roteiro adaptado e o original deve ficar entre "Django Livre" e "A hora mais escura". O filme estrangeiro deve ser "Amor" e a melhor canção, "Skyfall" com Adele. Este ano, uma das categorias mais legais, o de longa de animação, tem a lista mais fraca dos últimos anos. "Valente" é o trabalho mais fraco da Pixar junto com "Carros 1 e 2", "Detona Raplh" da Disney é ok, mas não sensacional. Será que Tim Burton leva por "Frankenweenie"? Curiosamente, um dos autores mais originais e bem sucedidos de Hollywood até  hoje só foi indicado pela produção de dois filmes de animação, este e "A noiva cadáver".
A Globo inicia a transmissão do Oscar domingo a partir das 23h30 (por causa do maldito BBB), mas quem tem TV por assinatura pode ver o pré-show na TNT a partir das 20h30 e o início da cerimônia de premiação a partir  das 21h30.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Pitacos para o Oscar: O Lado bom da Vida e Os Miseráveis

Anne Hathaway em seu momento Oscar
Já comentei aqui "Django Livre" e "Lincoln" dentre os favoritos ao Oscar. Acabo de ver "Os Miseráveis" e na sexta assisti "O Lado bom da Vida". Vamos primeiro ao musical.
Decididamente, se eu não tivesse visto no cinema, dificilmente assistiria em home video. Por diversas vezes rezei por um botão de fast foward. A chuva caia do lado de fora do Polo Shopping e eu me preocupava mais se eu tinha fechado as janelas do carro do que com o filme. Musical da Broadway não é comigo.
Mas deu para chegar a algumas constatações em relação ao Oscar. 1) Anne Hathaway é mesmo a favorita como Atriz Coadjuvante; 2) Hugh Jackman não é páreo para Daniel Day-Lewis e 3) Num ano sem favoritos, pode ser o vencedor do Oscar, mas sem merecer. A longa e complicada trama de Victor Hugo é resumida ao mínimo, e ainda assim deu 158 longos minutos, que a direção de Tobe Hopper faz com que a gente os sinta todinhos. Os alivios cômicos de Sacha Baron Cohen e Helena Bonhan Carter (a antiga especialista em heroínas de época virou a megera de época?) mais enche os culhões do que diverte. Em termos de canto-atuação, Anne realmente "se joga" na sua cena-chave, mas é preciso destacar também a afinação de Amanda Seyfred como Cosette  (personagem que foi resumidíssima) e a competência da desconhecida Samantha Barks como Eponine, papel que ela viveu nos palcos londrinos e no DVD comemorativo dos 25 anos do musical. O garoto Daniel Huttlestone, o Gavroche, também foi pinçado da montagem britânica que ficou em cartaz entre 2010 e 2011. E se Hugh Jackman fez jus à sua formação em musicais na Austrália, Russell Crowe ficou fora do tom, do canto e do personagem. Ainda mais quando lembramos do Javert de Geoffrey Rush na versão de 1998, dirigida por Billie August.

Jennifer e Bradley: ambos indicados, mas ela é que é favorita

"O Lado bom da Vida", por seu lado é uma comédia romântica disfuncional, mas que funciona até para o público masculino. Houve quem se queixasse da previsibilidade, mas se assim não fosse, deixaria de ser comédia romântica. A ótima direção de David O. Russell passou em branco nas indicações do Oscar, Globo de Ouro e do Sindicato dos Diretores. Mas parece que a jovem Jennifer Lawrence vai mesmo levar a estatueta dois anos depois de sua primeira indicação por "Inverno da Alma", confirmando o talento demonstrado nesse drama que foi exibido na cidade pelo Cineclube Indaiatuba. Já a indicação de Bradley Cooper serve mais para dar credibilidade ao astro, que se sai surpreendentemente bem, mas não é páreo para o Abraham Lincoln de Daniel Day-Lewis. Robert de Niro está bem como o pai maníaco? Sim, talvez seja seu trabalho mais a sério dos últimos anos, mas acho que Tommy Lee Jones volta a levar o premio de coadjuvante 19 anos depois de "O Fugitivo".Achei muito melhor que "Os Miseráveis", mas pelo andar da carruagem, não leva a o prêmio principal da Academia.

Dentre os favoritos, falta ainda "A Hora mais Escura". Depois de ve-lo, volta a escrever.