terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Fim da linha para o Fenômeno

ronaldo lula
À parte a evidente comoção que marcou o anuncio oficial da aposentadoria de Ronaldo Nazário, o Fenômeno, a única notícia de fato foi a informação de que ele sofre de um mal-funcionamento da tieróide que faz que seu metabolismo seja mais lento e tenha mais dificuldade para perder peso. Mais tarde no Bem, amigos do Sportv, Alberto Helena Jr. questiou a falta de transparência sobre o distúrbio, que se tivesse sido noticiada antes poderia ter evitado as piadas e  brincadeiras sobre seu peso. Bem, na verade não é o primeiro caso na carreira do jogador em que se oculta alguma coisa relevante.
Quem não se lembra do misterioso piripaque que ele sofreu antes da final da Copa do Mundo de 1998? Foi uma convulsão como se tornou a explicação oficial? Crise de ciúmes por causa da Suzana Werner como dizia um inistente boato? Resultado de uma infiltração mal-feita, como afirma Joge Kajuru? Até hoje não houve uma explicação convincente para o incidente que, segundo a maioria dos brasileiros, nos custou uma Copa (Não acho. Talvez não fosse aquela surra, mas o monento da França era melhor).
As eras do futebol brasileiro são representadas por craques que as marcaram. Houve Friedereich nos anos 10 e 20, Leonidas da Silva nos anos 30, Zizinho nos anos 40, Pelé nos anos 50 e 60, Zico na virada dos anos 70 para 80, Romário na virada dos 80 para 90 e finalmente Ronaldo na virada do século. Cada um marcou suas respectivas geações não apenas pelo talento indivudual, mas pelo carisma e conquistas. Se o Fenômeno fosse americano certamente o que ele fez na Copa de 2002 já teria virado filme, ou pelo menos um telefilme. Que roteirista de Hollywood resistiria? Craque dado como acabado para o futebol consegue vencer e ser o artilheiro da maior competição do esporte, marcando dois gols na apoteótica final. No cinema, os letreiros começariam a subir logo após ele levantar a taça no Japão, mas na vida real, a história acabou de forma bem menos glamurosa, numa coletiva provocada pelas agressões vindas da torcida que até outro dia dizia amá-lo.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Comida: a grande mãe das revoluções

revolucao_francesa_bastilha
Uma das frases mais marcantes da Revolução Francesa foi atribuída a Maria Antonieta, que ao saber que o povo não tinha pão para comer, teria dito: “que comam brioches!” Comida, ou a falta de, é a mãe das revoluções. Crise econômica na França provocada pelas longas guerras mantidas por Luis XIV resultou na carestia de alimentos que levou à queda da Bastilha e do ancient regime. A fome na Rússia resultante da I Guerra Mundial levaram à Revolução de Outubro, que pegou Lenin de surpresa na Suíça.
Não foi diferente desta vez no Egito. O preço alto dos alimentos, aliado ao efeito dominó tão temido pela diplomacia americana nos tempos de Guerra Fria, detonou as manifestações populares que levaram à queda de Hosni Mubarak. O problema é o que acontece depois que a fome do povo derruba o tirano. Intelecutais, por vezes bem intencionados, acabam assumindo o poder e promovendo banhos de sangue, como aconteceu no Terror francês, no bolchevismo soviético ou no maoismo chinês (nos dois últimos casos, as mortandades foram resultados de políticas econômicas desastrosas).
Lembrando que, em grande parte, o apoio da classe média ao Golpe de 64 no Brasil deveu-se à inflação provocada pela construção de Brasília, assim como a queda do regime militar aconteceu após a crise do início da década de 80. Quando acaba a comida, acaba amizade.

Na terra dos faraós

egito
Cairo: o governo local está decadente, o povo tomas as ruas e parte da cidade é incendiada. Militares assumem o poder aproveitando uma viagem do chefe de Estado. Embora semelhante em linhas gerais, os fatos acima ocorreram em 1952, quando os Oficias Livres assumiram o governo, mandando o rei Farouk, um fantoche dos interesses britânicos, para o exílio. Inicialmante, o poder foi assumido pelo general Mohamed Nagib, mas o verdadeiro chefe do movimento era o coronel Gamal Abdel Nasser, que se tornaria o grande líder dos povos árabes nas décadas seguintes.
O “Campeão do arabismo” foi ambicioso no cenário interno, ao promover uma reforma agrária, lançar o projeto da represa de Assuã, incentivos à industrialização do país e nacionalizar o Canal de Suez. Aqui reside sua maior vitória. Em 1956, numa operação conjunta entre o Reino Unido e Israel, o canal foi retomado pelos ingleses, mas os interesses geopolíticos de EUA e URSS fizeram com que o primeiro-ministro Anthony Eden voltasse atrás e devolvesse Suez ao Egito. No campo externo foi ainda mais longe, ao criar o grupo dos não-alinhados (embora mantivesse acordos militares com a Cortina de Ferro) e liderar a luta contra Israel. Esse foi seu grande fracasso. Ao ser derrotado na Guerra dos Seis Dias, ele assumiu a responsabilidade pelo desastre e anunciou que estava encerando sua carreira naquele instante. Milhões de egípcios encheram as ruas do Cairo exigindo sua volta ao poder. Que diferença em relação ao seu sucessor que hoje deixa o governo do Egito.
Nasser morreu em 1970, e foi sucedido por Anuar Sadat, outro guerreiro, que também foi derrotado por Israel em 1973 na Guerra do Yom Kipur. Não se sabe até hoje se por estar convencido que não era possível vencer o estado judeu ou por ter se vendido aos EUA, o fato é que Sadat tomou a iniciativa de propor paz a Telaviv, resultando no histórico acordo de Camp David, em 1978. Sadat recebeu o Premio Nobel da Paz mas foi assassinado em 1981 num atentato atribuído à Irmandade Muçulmana, e o poder foi para seu vice, Hosni Mubarak, que deixa o poder apenas hoje.
Como se vê, o Egito nunca soube o que é democracia, e o seu futuro ainda é nebuloso. A junta militar que assumiu o o governo de transição vai resistir à tentação de permanecer no poder? O fundamentalismo islâmico é de fato uma ameaça ou era só um subterfúgio de Mubarak para permanecer no cargo como sustentáculo dos interesses americanos no Oriente Médio? Seja como for, a exemplo do contragolpe na ex-URSS há 20 anos, são momentos assim que alimentam nossa fé no poder do povo de, se não conduzir, ao menos tentar mudar fatos que parecem inexoráveis a primeira vista. Seja lá no que de no final, o povo egípcio está de parabéns.