terça-feira, 29 de janeiro de 2013

"Lincoln", de Steven Spielberg

Sally Field e Daniel Day-Lewis já levaram o Actors Guild Awards, ele também
o Globo de Ouro

Já faz algum tempo que Peter Pan de Hollywood acordou para as mazelas da América e vem se tornando um crítico de seu país. Há quem se refira a “O Terminal” (2004), “Guerra dos Mundos” (2005) e “Munique” (também 2005) como uma trilogia sobre os Estados Unidos pós-11 de setembro.
Seu recente “Lincoln”, embora se passe no século XIX, refere-se à divisão atual dos Estados Unidos, não pela escravidão, mas pela visão de mundo entre os adeptos do Tea Party e o resto do país. Nem mesmo a crise econômica causa pelo capitalismo selvagem sem freios defendido por eles fez com que suas convicções fossem abaladas. O resultado é um Congresso praticamente paralisado em meio à maior depressão econômica desde os anos 1930.
O guru da nova direita, Luis Felipe Pondé, rejeita na Folha de S. Paulo a aproximação que o crítico de cinema do mesmo jornal, Ricardo Calil, fez entre Lincoln e Obama, por que acha o segundo um banana, que só se reelegeu por ser negro (não é verdade, no pleito do ano passado ficou claro que o que os americanos não queriam era a volta do governo para os muito ricos, cristãos, heterossexuais – ainda que no armário – e, preferencialmente, brancos). Mas Calil tem razão em ver no subtexto nem tão sutil uma mensagem para o atual presidente. Se é isso o que ele fará em seu derradeiro quatriênio, e o que veremos.
Outro articulista importante da Folha, Elio Gaspari, adorou o filme, já que mostra de forma crua e chocante para leigos idealistas, como é que se fazem as leis nas democracias representativas, mesmo as leis mais nobres. Mas não há opções realistas a esse sistema, como bem observou Winston Churchill (“A democracia representativa é o pior sistema que existe, com exceção de todos os outros”). Nenhum jornalista que já tenha coberto qualquer legislativo acharia extraordinário o que acontece em “Lincoln”: é assim que é nos EUA, nas democracias européias e no Brasil (com diferenças importantes e fundamentais, mas, no fundo, é o mesmo). A alternativa a esse toma-lá-dá-cá é a ditadura, que é muito pior.
O Lincoln de Daniel-Day Lewis (tem tudo para quebrar o recorde do Oscar com uma terceira vitória como melhor ator principal) deixa isso claro na explicação que dá a seu gabinete sobre a necessidade da emenda mesmo depois de sua declaração de libertação dos escravos nos Estados Confederados. Nenhum presidente teve tanto poder quanto ele durante a Guerra Civil, mas seus atos executivos embasados no estado de guerra aproximavam-se de uma ditadura, e ele sabia disso. Tudo o mais poderia ser revertido ou contestado na paz, menos a escravidão, e por isso a necessidade de uma emenda constitucional que tornasse permanente a abolição da escravidão. A rigor, Pondé tem razão quando diz que não foi a liberdade dos negros que levou ao fraticídio americano, mas o desejo dos 11 estados confederados de deixar a União e manter o dixie way of life que podemos ver em versão devidamente edulcorada em “...E o Vento Levou”. A famosa Constituição Americana dava brechas para isso, só que Abraham Lincoln achou, com razão, que isso transformaria a América em dois – ou mais – países de segunda, e manteve a União a ferro e fogo. O mundo seria outro que a América do Norte se tornasse uma versão mais fria das fragmentadas Américas do Sul e Central. Isso é ser estadista. Ao centralizar a ação nos últimos meses da presidência e da vida de Lincoln, Spielberg deixa essa questão em segundo plano e se concentra na liberdade aos negros, o motivo idealista da guerra.
Cinematograficamente, entretanto, o resultado não é tão bom. O filme é muito falado, muito solene e se sustenta na atuação de Day-Lewis, em alguns momentos secundados por Sally Field como a primeira-dama Mary Odd Lincoln (seu estilo soap opera cai como uma luva no papel) e pos Tommy Lee Jones como o abolicionista radial Thadeus Stevens. Somente quem se interessa por política e história como eu, meu amigo João Marcos Martinho e Elio Gaspari apreciamos de fato. Assim, mesmo sem ser um filmão, “Argo” é muito mais cinema, e acho que ganha pontos no Oscar.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Quem é Derek Jeter?

A resposta à pergunta acima é, um jogador de beisebol, capitão do mítico New York Yankees e 13 vezes selecionado para o All Star Game e cinco vezes campeão do World Series. Até aí, nada de mais para nós, brasileiros, para quem o beisebol é um esporte tão chato que os caras já jogam de pijama. O que pega é o currículo amoroso do cara, de deixar qualquer boleiro brasileiro no chinelo, ou melhor, no chinelinho.
Um levantamento feito pelo site americano TotalSports apontou os seguintes scores do astro do taco.

Jordana Brewster, a atriz de mãe brasileira que estrelou o primeiro, o quarto e o quinto filme da série Velozes e Furiosos, ficou com Jetter em 2003

Maryah Carey, e quando ela ainda era pegável, entre 1997 e 1998


Gabrielle Union, que é conhecida entre nós  pelo filme "Bad Boys II",  se divorciou em 2006 foi consolada por Jeter  no ano seguinte


Tyra Banks, a apresentadora do American Next Top Model, também entrou na Lista de Jeter


Vida Guerra, no país dos boobs ela é famosa por causa de seus outros óbvios atributos, não foi assumida oficialmente, mas é normalmente incluida no hall of fame de Jeter


Scarlett Johansson dispensa apresentações. Também os dois negam envolvimento, apesar de terem sido vistos juntos em diversas ocasiões em 2004. Ela sai um pouco do biotipo favorito dele, mas, que diabos, é Scarlett Johansson!


Jessica Biel, outra que não precisa de cartão de visita, ficou com Jetter em 2006, antes de engatar namoro com Justin Timberlake


Adriana Lima, não contente em pegar a mezzo brazuca Jordana, Jeter namorou a supermodel baiana em 2006 para completar o brazilian barba-e-cabelo



Jessica Alba, a gata de Sin City saiu com Jetter em 2004, mesmo ano em que teria ficado com Scarlett Johansson. Com esse currículo nem jogador de polo patrocinado pela Pfizer pode.

E antes que perguntem qual a cara do sujeito, olhaí:

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Considerações sobre "Django Livre"

O quarteto principal em um único enquadramento

Primeira coisa a dizer sobre “Django Livre”: é muito bom, e é programa imperdível para cinéfilos em geral. É lógico que conhecer um pouco de western spaghetti ajuda, já que Quentin Tarantino usa e abusa de suas marcas registradas, que de certa forma deu sobrevida ao faroeste americano, moribundo nos anos 60 e 70, auge do bang-bang à italiana. Sérgio Leone deu respeitabilidade ao gênero, com sua trilogia dos dólares e a obra-prima “Era uma vez no Oeste”. Mas Tarantino tem como referencia outro Sérgio, o Corbucci, um daqueles diretores que trabalhavam incessantemente na então prolífica indústria cinematográfica italiana, mas que nunca entrou para o clube dos “maestros”. No entanto, fez grandes filmes como o próprio “Django” original, “Vamos matar, companheiros” e “O Vingador Silencioso”.
 É curioso como nenhum crítico tenha percebido o sarcasmo de Tarantino contra seus próprios compatriotas em “Bastardos Inglórios” e agora em “Django Livre”. No primeiro, quem praticam os atos mais brutais e os massacres mais sagrentos são os ianques. O diretor ainda brinca com a ingenuidade de grande parte dos roteiros “men on mission” que ele homenageia no filme: seria possível um bando de americanos francamente monoglota conseguir se passar por alemães ou mesmo italianos em plena Europa ocupada? De forma categórica e cinematograficamente primorosa, Tarantino mostra que não.
Seu western spaghetti na verdade se passa bem antes do período clássico dos faroestes, que são as décadas 1870 e 1880. Datando sua história em 1858, o cineasta coloca a ação na época e no coração do escravagismo, quando ninguém imaginava que dois anos depois, Abraham Lincoln dividiria o país por causa da abolição, tema do filme de Spielberg que estreia na próxima sexta, aliás. O período é ideal para abordar uma das maiores vergonhas da civilização ocidental, mas não é o melhor para o bang-bang. Revólveres ainda não eram tão fáceis de encontrar e ainda não haviam sido inventados os rifles com cartucho metálico (a tecnologia da morte só seria incrementada pela Guerra Civil). Mas é uma licença poética menor em relação ao massacre de Adolf Hitler e toda a elite nazista em seu filme anterior. 
Com revolveres Colt e rifles Henry e Sharp (ambos não existentes em 1858), Django (Jamie Foxx) e o dr. King Schultz (Christoph Waltz, ganhador do Globo de Ouro e candidato ao Oscar de novo) detonam malfeitores e escravagistas - entre os quais, Don Johnson e uma hilária proto-Klu Klux Klan -  em um mar de sangue e tripas, para alegria e catarse da plateia, pois vemos ao mesmo tempo a crueldade da escravidão, essa sim,com grande acuidade histórica, incluindo o instrumentos de tortura usados para punir e/ou dificultar a fuga, que eu mesmo pensava que eram exclusividade luso-brasileira (uma pesquisa rápida mostra que houve intercâmbio de técnicas de tortura entre EUA e Brasil muito antes de Dan Mitrione).
Mas como vários grandes cineastas, como Hitchcock, Buñuel e Almodóvar, Tarantino cede às suas obsessões. É notória sua obsessão por pés femininos, ainda mais grandes como os de Uma Thurman, mas menos percebida ou comentada é como ele gosta de judiar das mulheres (nos filmes, é claro). Suas heroínas são habitualmente estupradas, torturadas, esfaqueadas e assassinadas. Depois de Uma em “Pulp Fiction” e “Kill Bill”, das pobres Vanessa Ferlito, Sydney Tamia Poitier, Jordan Ladd, Rose McGowan e Mary Elisabeth Winsted em “À Prova de Morre”;  Mèlani Laurent e Diane Kruger em “Bastardos Inglórios, agora é a vez de Kerry Washington comer o pão que o diabo amassou. Seu calvário é a motivação para que seu homem parta em sua Odisséia sem Ítaca. A opção por Foxx ao invés de Will Smith, como se pretendia inicialmente, foi acertada: ele passa a intensidade da paixão pela mulher que o leva a uma busca quase suicida.
Até que Django a encontre, Brunhilde Von Shaft (Kerry Washington) sofre muito
Tem razão quem acha que a Academia de Hollywood esnobou novamente Leonardo Di Caprio. Seu fazendeiro sulista é sensacional, e justifica ele ter sido a primeira escolha para ser o Coronel Hans Landa (Tarantino acabou preferindo um ator que falasse alemão fluente, para sorte de Waltz), especialmente em sua grande cena, em que cortou a mão de verdade.  Outro que brilha é Samuel L. Jackson como o mordomo f.d.p.. O personagem é uma ótima sacada, faz o roteiro escapar do maniqueísmo preto e branco. Gente como Spike Lee fica furioso por ele abusar do termo nigger em quase todos seus filmes, e seu parceiro desde “Pulp Fiction” dispara um a cada meio minuto. Assim como o holocausto judeu só foi possível com o auxílio e conivência dos próprios judeus, a escravidão nas Américas só foi possível com a participação ativa de muitos negros como o personagem de Jackson, que ainda manda um contemporâneo motherfucker para completar a provocação.
***
Aliás, acabo de ler no ótimo “1493”, de Carl C. Mann (autor do igualmente fundamental “1491”), que “os africanos da região central insistiam que os visitantes europeus usassem a palavra portuguesa “negro” para se referir a escravo e a palavra portuguesa “preto” para se referir a africanos livres”. Daí, o termo pejorativo em inglês “nigger”, de negro, enquanto os afronorte-ameticanos se autodenominam “black”. Aqui, onde falamos português, é o contrário: “preto” é feio e negro que é “bonito”. 

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Tarantino está de volta em "Django Livre"

O Django de Tarantino, Jamie Foxx, encontra o Django de Sergio Corbucci, Franco Nero
“Django Livre”, de Quentin Tarantino, chega aos cinemas brasileiros nesta sexta (inclusive Indaiatuba, obrigado Lui Cinematográfica). Quando o cineasta foi anunciado como vencedor do Globo de Ouro de Melhor Roteiro no último domingo, o crítico Rubens Edwald Filho – que não é exatamente fã dele – comentou que ele havia conseguido transformar seu nome em um subgênero cinematográfico, o que é uma proeza. Antes dele, talvez só Frank Capra com suas comédias otimistas; Alfred Hitchcocok, com suas obras-primas do suspense; John Ford e seus westerns; Cecil B. de Mille com suas superproduções, Woody Allen e seu humor “cabeça” e o antigo Steven Spielberg pré-“A Lista de Schindler” haviam conseguido isso.
Recentemente comprei o livro “Quentin Tarantino”, de Paul Woods, uma compilação de resenhas sobre sua obra publicado originalmente em 2005 e atualizado ano passado para incluir textos sobre “Sin City” (em que ele dirige a melhor cena), “A Prova e Morte” e “Bastardos Inglórios”. É decepcionante no geral, nem tanto por não conter material inédito, mas porque as análises arranham a superfície do fenômeno Tarantino, mas não sua essência. Em resumo, não é a mistura de gêneros como kung fu, samurai, western spaghetti, policiais B ou filmes de guerra italianos - considerados menores – que fazem dele um grande diretor, mas sim saber identificar o grande cinema em filmes pequenos e transferir isso ao seu trabalho. Isso o treinou para ter um olho cinematográfico como poucos. Considere seu segmento “O Homem de Hollywood” em “Grande Hotel”, inspirado em um episódio da série de TV “Alfred Hitchcock apresenta”. A câmera entra no apartamento como a visão subjetiva da personagem de Tim Roth, num longo take em que ela é apresentada pelo próprio Tarantino aos participantes da festinha.É inspirado em “Festim Diabólico”, do mesmo Hitchcock, é sozinha, a cena é melhor que tudo o que Alison Anders, Alexandre Rockwell (que fim deram?) e Robert Rodriguez fizeram nos metros de celulóide anteriores. E a abertura de “Bastardos Inglórios”, com a música de western spaghetti, o enquadramento em panorâmica enquanto o camponês francês corta lenha?  Introduz e forma perfeita e inusitada a visita amistosamente ameaçadora do coronel Hans Landa, que durante o filme só comete um ato de violência pessoalmente, mas ainda assim é um dos vilões mais fascinantes do cinema contemporâneo.
Aliás, violência é, sim, marca regirada do cinema de Quentin Tarantino, como o subtítulo brasileiro de Pulp Fiction vaticinava: a partir daquele trabalho começava um Tempo de Violência em Hollywood. Mas não se trata de apologia, banalização ou seja lá o que mais se tenha acusado o diretor. É uma estética tirada daqueles filmes “pequenos” dos irmãos Shaw, Sergio Corbucci, Enzo Castellari, Sonny Chiba e tantos outros. Por exemplo, após a orgia de laminas e sangue em Kill Bill, segue-se a quase poética luta entre a Noiva e Oren-Ishi, sobre a neve e ao som de Santa Esmeralda.
Em “À Prova de Morte”, no entanto, suas experiências com a violência atingiram o limite do suportável, e se constituiu em seu maior fracasso. Mas ele persistiu em sua estética sádica, só que mudando de alvo, de quatro jovens lindas para nazistas, tipo de vilão de quem ninguém tem dó. Em “Django Livre”, as “vítmas” do massacre também são igualmente desprezíveis, traficantes de escravos e sulistas escravocratas. Daqui a pouco vou ver e escreverei minhas impressões.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Globo de Ouro alfineta Oscar premiando Ben Affleck

Bill Clinton foi dar uma força para "Lincoln", do amigo Steven Spoelberg. Nãp adiantou muito...
Antigamente se dizia que o Globo de Ouro, segunda premiação mais importante do cinema americano, era uma espécie de prévia do Oscar. Não é e nunca foi, já que os votantes são muito diferentes (90 correspondentes estrangeiros no primeiro versus um imenso colégio eleitoral cuja misteriosa formação mistura ex-indicados, profissionais da área e gente que pouco tem a ver com a indústria) e há uma tendência do Globo ser mais ousado que a conservadora Academia de Hollywood. Em 2006, por exemplo, a Associação de Críticos Estrangeiros teve a coragem de eleger “Brokeback Mountain” como melhor filme, enquanto a Academia moitou, dando o Oscar para o condescendente “Crash”, mas premiando Ang Lee como melhor diretor.
Ontem, domingo, aconteceu a 70a cerimônia de entrega dos Globos de Ouro, que também premia programas de televisão (é o segundo em importância do segmento, perdendo só para o Emmy). Tem mais cara de festa que o Oscar, já que os astros se sentam em mesas e a bebida rola solta ainda durante a premiação, e não só depois como no Kodak Center.
O bom “Argo” – único concorrente que assisti -- consagrou-se com os troféus de filme dramático e diretor para Ben Affleck, esnobado pela Academia, que não o indicou na categoria. O favorito Lincoln ficou com um solitário premio de ator para Daniel Day-Lewis. Este é, talvez, o grande ator de cinema em atividade, o que será confirmado se receber um inédito terceiro Oscar como ator principal. Sally Field, que estava cotada para atriz coadjuvante pelo mesmo filme, viu Anna Hathaway receber seu primeiro premio importante por “Os Miseráveis”. Seu equivalente masculino foi, de novo, Christoph Waltz por “Django Livre”, repetindo seu filme anterior com Tarantino, “Bastardos inglórios”, que o colocou no mapa do cinema internacional. Hugh Jackman no icônico papel de Jean Valjean, o herói de “Os Miseráveis”, foi o melhor ator em comédia ou musical, enquanto a jovem e talentosa Jennifer Lawrence (“Jogos Vorazes”, “X-Men Origens: Primeira Classe”) recebeu o premio como melhor atriz de comédia ou musical por “O lado bom da vida’.
Jessica Chastain foi a melhor atriz em filme dramático por “A Hora mais Escura”, o polêmico filme de Kathryn Bigellow (“Guerra ao Terror”) sobre a operação para matar Osama Bin Laden, que envolveria tortura para obtenção de informações. Como disse a apresentadora Tina Fey, a cineasta entende do assunto já que foi casada com James Cameron por três anos.  Jennifer e Jessica eram rigorosamente desconhecidas até 2010 e hoje já podem set consideradas estrelas.
Mostrando que os estrangeiros gostam mesmo dele, Quentin Tarantino recebeu o premio de melhor roteiro, enquanto o rotineiro “Valente” foi a melhor animação, numa lista significativamente diferente da do Oscar. Adele recebeu o premio por melhor canção por “Skyfall” e o canadense Mychel Danna pela trilho sonora de “As Aventuras de Pi”. O filme estrangeiro vencedor foi “Amor”, de Michael Hanecke, também favorito ao Prêmio da Academia.

A relativa ousadia pode ser vista também nas premiações para TV, como a elogiada “Girls” abocanhando os prêmios de melhor séria de comédia – contra os sucessos “The Big Bang Theory” e “Modern Family” – e atriz para a criadora do programa, Lena Dunhan. “Homeland”, que já havia ganhado o premio de melhor série dramática e atriz para Claire Danes no ano passado, repetiu a dose e ainda teve o reforço do troféu para o protagonista masculino, Damien Lewis. A brasileira Morena Baccarin bem poderia levar um premio como atriz mais bonita da TV, se houvesse...
O telefilme “Virada no Jogo”, sobre a campanha presidencial derrotada de John Mccain, recebeu o premio da categoria e também de melhor ator coadjuvante para Ed Harris como o candidato republicano derrotado por Barack Obama em 2008, e para Julianne Moore, enfim ganhando uma láurea importante no papel da governadora do Alaska, Sara Palin, o que rendeu piadas de Tina Fey, cuja semelhança com a candidata a vice-presidente foi constante fonte de sátiras no “Saturday Night Live”. John Cheadle, como melhor ator de série de comédia ou musical por “House of Lies”, a dame Maggie Smith por “Downtown Alley” como atriz coadjuvante em minissérie ou filme para TV, e a ressurreição da carreira de Kevin Costner, melhor ator de minissérie ou filme para TV por “Hatfileds & McCoys”, completaram as premiações para telinha.
Jodie Foster fez um discurso corajoso ao receber o premio Cecil B. de Mille

Dois momentos marcantes da cerimônia foram a presença do ex-presidente Bill Clinton, que anunciou o clipe de "Lincoln", do amigo Steven Spielberg, e o discurso de Jodie Foster ao receber o premio Cecil B. de Mille por sua carreira de 47 anos. Ao contrário das falas protocolares, Jodie foi fundo ao falar sobre a exposição precoce, amizades, profissionalismo e sua "saída do armário anos atrás, na idade da pedra".

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Saem os indicados ao Oscar

Daniel Day-Lewis como Lincoln": hoje, seria barbada para filme, direção e ator

Foram anunciados hoje os indicados ao Prêmio da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood, o popular Oscar. Como esperado, "Lincoln", de Steven Spielberg, lidera a lista, concorrendo a 12 estatuetas. Em seguida vem "A História de Pi" (em cartaz em Indaiatuba, de Ang Lee, com 11 indicações. Entre os filmes de língua não-inglesa (os chamados "estrangeiros"), o queridinho do público e cinemas de arte - incluindo o brasileiro - , o frances "Intocáveis", ficou de fora. Em troca, o austríaco "Amor" - mas falado e interpretado em frances - surge como favorito na categoria, já que o diretor Micjhael Hanecke (de "A Fita Branca" e Caché"), está entre os cinco indicados. 
Com o Brasil fora do páreo, "Intocáveis" era o favorito dos frequentadores
de salas de arte, mas ficou fora da disputa
Se a cerimônia de premiação fosse hoje, "Lincoln" seria a barbada para o Melhor Filme, mas as coisas podem mudar com o tempo. Como, em geral, os Oscar de direção acompanha o de filme, então Spielbergo fará a proeza de chegar ao seu terceiro Oscar, entrando para um clube que até agora só tem Frank Capra e William Wyler como sócios (John Ford é o único com quatro estatuetas, e nenhuma por um western...). Daniel Day-Lewis tem tudo para levar sua terceira estatueta como ator principal, o que seria um feito inédito, pois os outros dois com tres premios (Jack Nichilson e Walter Brennan) tem pelo menos um como coadjuvante (Nicholson, um, e Brennan todos os tres).
O páreo entre as atrizes está mais duro, especialmente após a surpreendente exclusão de Anne Hattaway em sua elogiada atuação em "Os Miseráveis". Duas das favoritas, Jessica Chastain e Jennifer Lawrence eram completas desconhecidas há três anos, e são promessas de estrelas e primeira grandeza, se já não o são. Deve ficar entre elas.
Entre os concorrentes a ator coadjuvante, uma curiosidade: todos já ganharam uma estatueta: Philip Seymour Hoffman já ganhou em 2005 por "Capote"; Robert De Niro venceu como coadjuvante em 1975 por "O Podersos Chefão 2" e em 1980 por "O Touro Indomável"; Alan Arkin foi o melhor coadjuvante em 2007 por "A Pequena Miss Sunshine"; Tommy Lee Jones em 1994 por "O Fugitivo" e, finalmente, Christoph Waltz, ganhador do premio de coadjuvante e revelado ao mundo em 2009 por "Bastardos Inglórios" e que pode repetir a dose pelas mãos do mesmo Quentin Tarantino. Quem viu, diz que seu pistoleiro-dentista em "Django Livre" rouba a cena de novo, mas a Academia não interpretará isso como mais do mesmo? Veremos.
Já entre as atrizes secundárias, Sally Field também está prestes a fazer história. Pode se igualar a Ingrid Bergman e Meryl Streep com dois Oscar como principal (que ela já tem) e um como coadjuvante e ficar atrás apenas de Katherine Hepburn, vencedora de inigualáveis quatro prêmios como atriz principal. 
Nas animações, desta vez a Pixar não é favorita, com seu decepcionante "Valente" e na disputa entre animação digital e stop motion, o segundo leva vantagem com tres indicados - "Frankwenie", "Piratas `Pirados" e "ParaNorman" - contra dois do primeiro tipo, "Valente" e "Detona Ralph", ambos do conglomerado Disney.
Veja todos os indicados:
MELHOR FILME
"Indomável Sonhadora"
"O Lado Bom da Vida"
"Lincoln"
"A Hora Mais Escura"
"As Aventuras de Pi" (em cartaz no Topázio de Indaiatuba)
"Os Miseráveis"
"Amor"
"Django Livre"
"Argo" (já exibido em Indaiatuba)

MELHOR DIREÇÃO
Michael Haneke – “Amor”
Benh Zeitlin - “Indomável Sonhadora”
Ang Lee – “As Aventuras de Pi”
Steven Spielberg – “Lincoln
David O.Russell – “O Lado Bom da Vida”
MELHOR ATOR
Daniel Day Lewis - “Lincoln”
Denzel Washington - “Flight”
Hugh Jackman – “Os Miseráveis”
Bradley Cooper - “Silver Lining Playbook”
Joaquin Phoenix – “The Master”
MELHOR ATRIZ
Jessica Chastain – “A Hora Mais Escura”
Jennifer Lawrence – “O Lado Bom da Vida”
Emmanuelle Riva – “Amour”
Quvenzhané Wallis – “Indomável Sonhadora”
Naomi Watts – “O Impossível”
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Christoph Waltz - "Django Livre"
Philip Seymour Hoffman - "The Master"
Robert De Niro – “O Lado Bom da Vida”
Alan Arkin – “Argo”
Tommy Lee Jones – “Lincoln”
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Amy Adams – “The Master”
Sally Field – “Lincoln”
Anne Hathaway – “Os Miseráveis”
Helen Hunt – “The Sessions”
Jacki Weaver – “O Lado Bom da Vida”

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
“Amor” - Michael Haneke
"Django Livre” – Quentin Tarantino
“Flight” – John Gatins
“Moonrise Kingdom” – Wes Anderson e Roman Coppola
“A Hora Mais Escura” – Mark Boal
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
“Argo” – Chris Terrio
“Adorável Sonhadora” – Lucy Alibar e Benh Zeitlin
“As Aventuras de Pi” – David Magee
“Lincoln” – Tony Kushner
“O Lado Bom da Vida” – David O.Russell
MELHOR FILME ESTRANGEIRO
"Amor"
"Kon-Tiki"
"No"
"O Amante da Rainha"
"War Witch"

MELHOR ANIMAÇÃO (todos já exibidos em Indaiatuba)
"Valente", de Mark Andrews e Brenda Chapman
"Frankenweenie", de Tim Burton
"ParaNorman", de Sam Fell e Chris Butler
"Piratas Pirados", de Peter Lord
"Detona Ralph", de Rich Moore (único ainda em cartaz)
MELHOR FIGURINO
“Anna Karenina” – Jacqueline Durran
“Os Miseráveis” – Paco Delgado
“Lincoln” – Joanna Johnston
“Espelho, Espelho Meu” – Eiko Ishioka
“Branca de Neve e o Caçador” – Colleen Atwood

MELHOR DOCUMENTÁRIO
“5 Broken Cameras”
“The Gatekeepers”
“How to Survive a Plage”
“The Invisible War”
“Searching for Sugar Man”

MELHOR DOCUMENTÁRIO DE CURTA-METRAGEM
“Inocente” – Sean Fine e Andrea Nix Fine
“Kings Point” – Sari Gilman e Jedd Wider
“Mondays at Racine” – Cynthia Wade e Robin Honan
“Open Heart” – Kief Davidson e Cori Shepherd Stern
“Redemption” – Jon Alpert e Matthew O’Neill

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Band começa a exibir "Roma" hoje

Kevin McKidd é Lucius Vorenus e Ray Stevenson é Titus Pullo em "Roma"

A Band abre seu novo pacote de atrações internacionais com a exibição da macrossérie “Roma”, produção original da HBO e que será apresentada todas as terças às 22h30.  É a produção que abriu as portas para inúmeras outras com pano de fundo histórico – como os três segmentos de “Spartacus”, “Os Bórgas”, “The Tudors” e “Os Pilares da Terra”, também exibido pela Band. Mas “Roma” foi mais longe em termos de pesquisa, reconstituição e dramaturgia. Sem falar nas interpretações do excelente elenco, quase todo britânico.
A série conta na primeira temporada a ascensão e queda de Caio Julio César, e na segunda, as guerras civis de Marco Antonio, primeiro contra Brutus e os assassinos de César, e depois, contra Otávio, o sucessor escolhido pelo ditador. Como em “Guerra nas Estrelas” (George Lucas confessou que copiou a ideia de Akira Kurosawa em “A Fortaleza Escondida”), a narrativa é centrada em dois personagens periféricos às grandes tramas políticas, os legionários Lucius Vorenus (Kevin McKidd, de “Grey’s Anatomy”) e Titus Pullo (Ray Stevenson, que fez um dos fracassados “Justiceiros” da última década). O nome dos dois foi tirado diretamente das “Crônicas da Guerra da Gália”, do próprio César, e são os únicos soldados comuns a serem nomeados por ele. Vorenus é um centurião orgulhoso de suas origens e um fiel partidário da República, enquanto Pullus é um típico legionário: briguento, mulherengo e bêbado. A personalidade apolínea do primeiro se choca constante com a dionisíaca do segundo, mas a amizade entre ambos sobrevive às guerras e tragédias.
Por questões diversas, Vorenus se liga a Antônio (James Purefoy, que é o serial killer do novo seriado “The Following”) enquanto Pullus se torna uma mistura de guarda-costas e treinador do jovem Otávio (Max Pirkis na adolescência e Simon Woods como adulto), o futuro imperador Augusto.  Mas apesar da política ser, oficialmente, uma jogo para homens, as grandes intrigantes da trama são Servília (Lindsay Duncan, de “Sob o sl de Toscana”), mãe de Brutus e amante de César; e Otávia, mãe de Otávio e amante de Antônio. Os escritores de “Roma” (entre os quais Bruno Heller, de “The Mentalist”; e John Millius, de “Apocalipse Now”) usam esse recurso para ilustrar o papel feminino na aristocracia romana, muito longe da imagem tradicional de submissão e passividades.
Ciáran Hinds é o melhor Julio Cesar das telas
Entre as grandes figuras históricas, o galês Ciáran Hinds (“A soma de todos os medos”, “A Mulher e Preto”) compõe o melhor Julio César que já vi, melhor que Rex Harrison na “Cleópatra” com Elizabeth Taylor ou Louis Calhern no “Julio Cesar” de Joseph L. Mankiewcz. David Bamber interpreta um Marco Cícero bem de acordo com o que a história registra, orador brilhante e político precavido, que se opõe a César mas não participa da conspiração que o mata. Muito divertida a Cleópatra de Lindsay Marshall, não exatamente bonita, mas muito sensual e fogosa, como recentes descobertas demonstram. Purefoy compõem um Antonio bem diferente de Richard Burton e mais próximo do que a história conta.
Curiosamente, o roteiro foge das grandes frases – César não diz “A sorte esta lançada” ao atravessar o Rubicão nem “Até tu, Brutus (ou filho, segundo outras versões)” enquanto agoniza no Senado. O famoso discurso de Antonio no funeral de César, que o ponto alto da peça “Júlio César” de Shakpespeare, também é escamoteado ao espectador, que só o vê o antes e depois da elegia que muda o curso das coisas para os conspiradores que tentaram salvar a República.
Claro que o programa diverte muito mais quem gosta de história, mas também é um entretenimento de primeira para quem quer saber só de intriga, ação e sexo dentro de uma moralidade muito diferente da que herdamos pós-ascensão do Cristianismo, já na decadência de Roma. 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A volta da Rádio Rock


Um das notícias mais interessantes do final do ano foi a volta da 89 FM, agora pelas mãos do UOL. Para quem não sabe, a emissora foi um marcos dos anos 80 e o principal veículo de divulgação do rock nos anos dourados do gênero no Brasil, a década de 80. Ela saiu do ar há cinco anos, vencida pela ascensão dos sertanejos universitários – indício inequívoco da decadência do curso superior no País – e agora retorna com mais força ainda, já que agora, graças à internet, não depende do alcance das ondas do rádio.
Meu amigo Valgério Gianotto, músico erudito com incursões pela música popular, observou certa vez que, antigamente, ele sentia uma grande resistência das pessoas em geral quando ele citava – por exemplo – Beethoven. Hoje ele observa esse preconceito em relação ao rock. Não que uma coisa seja igual à outra, é claro, mas para os tempos atuais, a “mistura bastarda de jazz com música jeca dos EUA”, segundo Paulo Francis, tem uma complexidade e riqueza impensáveis para Michel Teló e Luan Santana.
A primeira semana da Rádio Rock foi um verdadeiro túnel do tempo, parecia que estava ouvindo a mesma emissora de cinco anos atrás – só clássico. Acho que a preocupação era reconquistar os velhos ouvintes, para daí, apostar na turma dos aplicativos que, segundo eles, estão batendo recordes em acessos.
O rock não é, de fato, o ponto alto da produção musical humana, mas tem uma trajetória extraordinária do ponto de vista histórico-cultural. Nascido na época de maior riqueza já vista pela Humanidade (Hobsbawn) foi diretamente responsável pelo surgimento do mercado jovem, foi a trilha sonora das contestações sociais e comportamentais dos anos 60, virou um mercado bilionário, originou os mais inovadores trabalhos de estúdio, às mais belas capas de LPs, elevou seus ídolos ao status de semideuses (e até Deus, no caso de Clapton) e tornou concentrações gigantescas de pessoas para ouvir música um evento cotidiano.
Nos recentes Jogos Olímpicos de Londres, a antiga sede do Império em que o Sol Nunca se Punha, ao invés de decantar Shakespeare, a Revolução Industrial que criou o mundo moderno ou a grande comunidade de nações que orbita em torno da coroa de Elisabeth II, fez da cultura-pop a grande marca pela qual o Reino Unido quis lembrado pela audiência mundial do evento, nas figuras de James Bond, Charles Chaplin, Monty Python e, naturalmente, The Beatles, Rolling Stones, Queen, David Bowie e até mesmos os iconoclastas Sex Pistols (cuja sarcástica “God Save the Queen” chegou a ser banida da BBC) e The Clash (que viu seu “London Calling” virar prefixo não oficial das Olimpíadas). O rock é artigo de exportação e identificação cultural.
Mas, voltando à 89, é interessante notar que se por um lado ela está tocando também lançamentos de grupos internacionais consagrados, no caso das bandas brazucas a programação tem se restringido às que fizeram sucesso até os anos 90. Nada de Detonautas, CPM22, Pitty, muito menos NX Zero e Restart. Quer dizer, é para quem gosta do rock “das antigas”, sejam contemporâneos ou neófitos. Pode ser, como nos anos 80, o veículo para novas bandas? Talvez, mas elas vão ter que convencer os ouvintes e os programadores antes.

P.S.: Uma curiosidade para os indaiatubanos é que um dos principais anunciantes da 89FM é a cervejaria Karavelle, produzida no Distrito Industrial, que recentemente não mereceu sequer uma menção em matéria de capa de uma revista local sobre cervejas premium e artesanais. Waal...