Um das notícias mais interessantes do final do ano foi a
volta da 89 FM, agora pelas mãos do UOL. Para quem não sabe, a emissora foi um
marcos dos anos 80 e o principal veículo de divulgação do rock nos anos
dourados do gênero no Brasil, a década de 80. Ela saiu do ar há cinco anos,
vencida pela ascensão dos sertanejos universitários – indício inequívoco da decadência
do curso superior no País – e agora retorna com mais força ainda, já que agora,
graças à internet, não depende do alcance das ondas do rádio.
Meu amigo Valgério Gianotto, músico erudito com incursões
pela música popular, observou certa vez que, antigamente, ele sentia uma grande
resistência das pessoas em geral quando ele citava – por exemplo – Beethoven.
Hoje ele observa esse preconceito em relação ao rock. Não que uma coisa seja
igual à outra, é claro, mas para os tempos atuais, a “mistura bastarda de jazz
com música jeca dos EUA”, segundo Paulo Francis, tem uma complexidade e riqueza
impensáveis para Michel Teló e Luan Santana.
A primeira semana da Rádio Rock foi um verdadeiro túnel do
tempo, parecia que estava ouvindo a mesma emissora de cinco anos atrás – só clássico.
Acho que a preocupação era reconquistar os velhos ouvintes, para daí, apostar
na turma dos aplicativos que, segundo eles, estão batendo recordes em acessos.
O rock não é, de fato, o ponto alto da produção musical
humana, mas tem uma trajetória extraordinária do ponto de vista histórico-cultural.
Nascido na época de maior riqueza já vista pela Humanidade (Hobsbawn) foi
diretamente responsável pelo surgimento do mercado jovem, foi a trilha sonora
das contestações sociais e comportamentais dos anos 60, virou um mercado
bilionário, originou os mais inovadores trabalhos de estúdio, às mais belas
capas de LPs, elevou seus ídolos ao status de semideuses (e até Deus, no caso de
Clapton) e tornou concentrações gigantescas de pessoas para ouvir música um
evento cotidiano.
Nos recentes Jogos Olímpicos de Londres, a antiga sede do
Império em que o Sol Nunca se Punha, ao invés de decantar Shakespeare, a
Revolução Industrial que criou o mundo moderno ou a grande comunidade de nações
que orbita em torno da coroa de Elisabeth II, fez da cultura-pop a grande marca
pela qual o Reino Unido quis lembrado pela audiência mundial do evento, nas
figuras de James Bond, Charles Chaplin, Monty Python e, naturalmente, The
Beatles, Rolling Stones, Queen, David Bowie e até mesmos os iconoclastas Sex
Pistols (cuja sarcástica “God Save the Queen” chegou a ser banida da BBC) e The
Clash (que viu seu “London Calling” virar prefixo não oficial das Olimpíadas).
O rock é artigo de exportação e identificação cultural.
Mas, voltando à 89, é interessante notar que se por um lado
ela está tocando também lançamentos de grupos internacionais consagrados, no
caso das bandas brazucas a programação tem se restringido às que fizeram
sucesso até os anos 90. Nada de Detonautas, CPM22, Pitty, muito menos NX Zero e
Restart. Quer dizer, é para quem gosta do rock “das antigas”, sejam
contemporâneos ou neófitos. Pode ser, como nos anos 80, o veículo para novas
bandas? Talvez, mas elas vão ter que convencer os ouvintes e os programadores
antes.
P.S.: Uma curiosidade para os indaiatubanos é que um dos
principais anunciantes da 89FM é a cervejaria Karavelle, produzida no Distrito
Industrial, que recentemente não mereceu sequer uma menção em matéria de capa
de uma revista local sobre cervejas premium e artesanais. Waal...
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