segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Topázio apresenta 12º Festival de Filmes Italianos


A Lui Cinematográfica realiza o 12º Festival do Filme Italiano a partir de quinta-feira. Os filmes terão sessões às 15h e 19h30 nas quintas feiras até o dia 4 de outubro, sempe no Multiplex Topázio do Shopping Jaraguá.
A mostra será aberta por “Habemus Papam”, de Nanni Moretti, que já foi exibido pelo Cineclube Indaiatuba em abril. Um personagem num posição inusitada que sofre um surto de síndrome do pânico e é obrigado a se submeter em segredo a sessões de psicanálise foi o ponto de partida tanto da comédia “A Máfia no Divão” (1999) quanto o seriado “Família Soprano” (1999-2007). Em ambos os casos, o paciente em questão era um chefão da Máfia e no filme de hoje, o lider de outra instituição tipicamente italiana, o Vaticano. O grande ator francês Michel Picoli (“A Bela da Tarde”, “A comilança”) interpreta o papa que, na hora de surgir aos fiéis que aguardavam a eleição do Colégio de Cardeais como novo Santo Padre, tem um surto de pânico e recua. Como ele já aceitou o cargo, o protocolo da Igreja Católica cai num impasse. O que fazer? O papa assume ou não o cargo? A imprensa de todo o mundo pressiona para saber o nome do eleito.
O porta-voz do Vaticano, interpretado pelo ator polonês Jerzy Stuhr (colaborador de Krzysztof Kieslowski em trabalhos como “A igualdade é branca”) é obrigado a se desdobrar para manter a mídia longe do imbróglio e se manter dentro dos parâmetros rituais. Um médico e chamado, mas logo se vê que é um trabalho para a Psicanálise, e justamente um terapeuta ateu (Nanni Moretti) entra em cena, em meio de um grupo de cardeais de vários países. Enquanto o papa entra em crise existencial, pois não se julga apto para o cargo, o psicanalista e os cardeais, todos impedidos de deixar o Vaticano por causa do segredo a ser mantido, dedicam-se a jogos como carteado e um torneio de vôlei, onde fica escancarado o peso da geopolítica na distribuição de forças dentro da Santa Madre Igreja Católica.
Não vendo muito progresso com o terapeuta, o porta-voz resolve levar o Sumo Pontífice para fora dos muros do Vaticano para se consultar com uma psicanalista mulher (Margherita Buy, de “O quarto do filho”). Dessa vez, o papa é tocado pela conversa e foge, se perdendo pelas ruas de Roma e indo parar  num tearo em que um grupo interpreta “A gaivota”, de Tchecov. Como observa o crítico Marcel Hessel, do site Omelete, “Assim como Tchékhov, Moretti também tem gosto pela sátira que fica entre o trágico e o cômico”. “A grande sacada aqui, que faz a ponte com Tchékhov, é revelar que Melville sonhava ser ator - uma frustração da juventude, ‘já que eu era péssimo no palco’, diz ele. O que o papa talvez não perceba (mas Moretti faz questão de dizer) é que o papado é também uma forma de encenação”, prossegue.
Nanni Moretti é um dos raros diretores do cinema italiano atual que é rapidamente identificado, graças a trabalhos como “Caro Diário” (1993) e “O quarto do filho” (2001), ambos premiados em Cannes, o primeiro lhe dando o troféu de Direção e o segundo obtendo a cobiçada Palma de Ouro como melhor filme.


Sobre “Adorável Pivelina”, filme que será exibido dia 21, segue avaliação do crítico de O Estado de S. Paulo, Luiz Zanin.
Na primeira sequência de Adorável Pivellina, uma mulher já de certa idade, Patti (Patrizia Gerardi), procura por seu cão num jardim. A câmera (na mão) a acompanha. Patti não encontra o cachorro fujão (ele reaparecerá depois), mas acaba por achar uma criança sozinha, num balanço, a garotinha de que fala o título em italiano.
A mãe deixou um bilhete e uma foto, e mulher resolve adotar a pequena Asia (Asia Crippa), apesar da insistência do marido, Walter (Walter Saabel) em entregar o caso à polícia. Casal de artistas de um cirquinho mambembe, nota-se que tem grandes dificuldades para ganhar a vida. Patti, no entanto, se afeiçoa à garotinha e a integra à vida da pequena trupe.
O filme embarca logo de saída em um tom documental que não deixa de surpreender o espectador. Muitas cenas são como que registradas em tempo real, como se perguntassem ao público, mas, afinal, onde está a história?
Ora, como sabemos, muitas vezes a graça da coisa reside, exatamente, na observação do acontecimento vivido, nessa espécie de simulacro “da vida como ela é”, tão rente ao real quanto seja possível ao cinema. No caso, o cotidiano desses personagens de um circo pobre, que, por acaso, se situa na Itália, mas poderia ser em qualquer lugar, e aqui mesmo, no Brasil.
A situação é universal e, ao mesmo tempo, italianíssima. Tudo se passa nos arredores de Roma, naqueles arrebaldes meio desolados, cheios de edifícios populares e que foram locação favorita de alguns filmes de Pier Paolo Pasolini. A referência a Pasolini, aliás, se amplia num passeio à feia praia de Óstia, onde ele foi assassinado por um garoto de programa, em 1975.
De qualquer forma, é sempre um desafio para o diretor (no caso uma dupla, o austríaco Rainer Frimmel e a italiana Tizza Covi) manter o interesse do espectador num projeto como este.
Eles vencem a aposta com uma série de trunfos nas mãos. Primeiro, a criança é encantadora, de fato. Mas, se sabe, péssimos filmes também são feitos com crianças adoráveis. É que, no caso, os “dotes” da menina Ásia Crippa são utilizados com inteligência pela dupla. Há, também, a espontaneidade dos atores naturais, que fazem os personagens como se interpretassem as próprias vida, o que é bem caso. Em especial, a figura de Patti, com seus cabelos vermelhos e ar protetor de mamma romana. Com diálogos improvisados, o filme adquire frescor notável.
Por fim, introduz-se um elemento de suspense em toda essa situação. Quem será essa mãe, que abandonou a “pivellina” encantadora, ou, pelo menos, a deixou emprestada por algum tempo à outra? Essa pergunta fica implícita, rondando o filme e, embora não formulada de todo, lhe dá um dinamismo psicológico notável. Não conseguimos evitar a pergunta implícita: e com quem ficará a pequena no final?

No dia 28, a atração será “A primeira coisa bela”, resenhada abaixo pelo decano Rubens Edwald Filho.
Felizmente ainda tem distribuidores que tentam lançar filmes italianos no mercado brasileiro apesar das dificuldades. Antigamente a gente conhecia todos os astros da Itália que eram enormemente populares por aqui .
Infelizmente o cinema lá enfrenta dificuldades econômicas, aliás, como todo País e não reconhecemos os nomes ou os rostos (uma das poucas sobreviventes da Idade de Ouro do cinema italiano é Stefania Sandrelli, que era adolescente quando foi revelada em Divórcio a Italiana, de Pietro Germi, e hoje faz papeis de matrona, ainda bonitona por sinal).
Não há como negar que o cinema italiano já não tem mais o mesmo padrão de qualidade, de uma época em que exibia os melhores fotógrafos, os melhores diretores de arte e mesmo compositores. O cinema deles tinha uma cara e um padrão, que hoje se perdeu. Mas ainda tem características próprias, continua ser a humano, popular, intensamente crítico e dramático sem cair em clichês.
Dentre seus novos valores descobertos pelo Festival de Cannes está este Paolo Virzi (este já é seu décimo terceiro trabalho como diretor e segundo me parece vimos apenas um deles no Brasil, que foi “Meu Caso com o Imperador”, 06, com Daniel Auteil e Monica Belucci, que está longe de ser o mais característico e pessoal, mas que eu descrevi como “Boa comédia italiana que conta em tom de farsa, como teria sido a estadia do Imperador Napoleão na Ilha de Elba em seu exílio, depois de Waterloo.
Esta nova comédia dramática foi super premiada, ganhou três Davids de Donatello (ator, atriz e roteiro), e mais 15 indicações, ganhou festivais de Salerno,Sannio e Montpellier, foi finalista como diretor no European Film Award. Além de ter sido indicado oficialmente ao Oscar de filme estrangeiro.
Basicamente pinta o retrato de uma professor de curso secundário de cerca de 40 anos, misantropo e que é forçado a visitar sua mãe de quarenta e poucos anos, que esta para morrer. São quatro décadas de problemas e crises que ele tem que resolver. Os críticos americanos acharam que o filme não foge de certo sentimentalismo semelhante aos trabalhos de Tornatore, ainda que compensado por grandes interpretações de todo o elenco.
O filme começa em 1971, num concurso de beleza de verão, em que Anna (Ramazzotti, que na vida real é mulher do diretor) ganha mas deixa o marido enciumado e o casal de filhos observando.
No tempo presente, o garoto virou o professor e é praticamente sequestrado pela irmã Valeriz (Pandolfi) para visitar a mãe que está morrendo de câncer num asilo. Dali em diante, o filme alterna passado e presente, explicando aos poucos como o herói foi ficando traumatizado e amargo.
Sem cair na caricatura, como muitos filmes italianos dantes e de hoje, A Primeira Coisa Bela usa como título uma canção popular de 1970 que a mãe cantava para suas crianças em momentos de problemas (a trilha musical é do irmão do diretor Carlo Virzi). O fotógrafo Nicola Pecorini usa cores laranja e sépia para o passado.
Enfim, é um  filme de emoções, sentimentos que tem grande chance de dialogar com o público brasileiro, em particular o paulistano.

Fechando a mostra, no dia 4 de outubro será exibido o “clássico” “Dio como ti amo”. Clássico entre aspas porque não o é no sentido estrito do termo – um filme memorável por sua qualidade – mas por ter marcado época, especialmente em Indaiatuba, por razões diversas. Feito na esteira do sucesso da canção de autoria de Domenico Modugno, vencedora do Festival de San Remo em 1966, e que tornou a cantora Gigliola Cinquetti uma estrela internacional. Como na época se consumia tanto músicas quanto filmes italianos em profusão no Brasil, multidões foram assistir “Dio come ti ano” no País. Gigliola interpreta uma bela e inocente jovem de família pobre que se apaixona pelo noivo rico de sua melhor amiga. Emocionados com a paixão da moça, seus familiares a fazem se passar por uma princesa para que ela possa viver este romance impossível. Destaque para a o clímax no aeroporto, quando ela toma o microfone da torre de controle e canta a música-título para o amado que está em um avião. Brega? Sem dúvida, mas fazia o antigo Cine Alvorada ser inundado por lágrimas de donas-de –casa em sessões vespertinas patrocinadas por uma marca de sabão em pó.