segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Zebras e questões raciais marcam Oscar 2016

Equipe e elenco de Spolight se conratulando pelo prêmio
“Spotlight – Segredos revelados” surpreendeu todo mundo e levou o Oscar de Melhor Filme, batendo os favoritos “O Regresso” (levou Direção, Ator e Fotografia) e “A Grande aposta” (só ganhou Roteiro Adaptado). Mantém a tradição da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood de premiar grandes temas. Embora tenha uma narrativa tradicional, tem o grande mérito de contar a história de uma reportagem importante de forma realista – especialmente para quem é do ramo – e didática. Grande mérito do roteiro (original, que também ganhou), elenco e, porque não?, direção. Mas, para Hollywood, ser diretor não é ser necessariamente autor mas, principalmente, um gestor de projeto. E aí fica difícil competir com a pirotecnia de Alessandro Iñarritu em “O Regresso”, mesmo que o filme caia no terço final. Com esse premio, ele se tornou bi no Oscar e o México tri, já que em 1014 quem ganhou foi seu amigo Afonso Cuarón por “Gravidade”, quando o Melhor Filme foi “12 anos de escravidão”.

Leonardo di Caprio sendo aplaudido em pé pelo público no Dolby Theatre
Leonardo di Caprio levou sua aguardada estatueta não tanto por sua atuação em “O Regresso” (que foi boa, mas não tanto como a de Michael Fassbender em “Steve Jobs”) mas por sua carreira, em que sempre procurou conciliar qualidade com bilheteria. Irônico ele ganhar em seu primeiro trabalho com Iñarritu após cinco parcerias com Martin Scorcese, das quais duas resultaram em indicações.  Já o prêmio de Brie Larson é um Nasce uma Estrela. Desconhecida entes de “O Quarto de Jack”, a oscarizada deste ano já está com quatro projetos engatilhados para os próximos dois anos. Vai vingar? Talento ela tem, mas que o filme era do Jack (Jacob Tremblay), isso era.
Entre os Coadjuvantes, se Alicia Vikander, de “A Garota Dinamarquesa”, era pedra cantada, o Oscar de Mark Rylance (“Ponte dos Espiões”) foi uma surpresa porque todos esperavam um momento comoção para Sylvester Stallone por sua, acho, derradeira atuação como Rocky Balboa. Foi a vitória da técnica sobre a emoção.
Mark Rylance frustra a tocida de Sylvester Stallone
A enxurrada de prêmios técnicos e artísticos para “Mad Max – Estrada da Fúria”seis – que é uma reverência ao grande trabalho de George Miller, só foi interrompido pelo merecidíssimo Oscar de Fotografia para Emmanuel Lubezki (terceiro consecutivo) por “O Regresso” e o surpreendente para “Ex Machina” em Efeitos Visuais, um filme que foi lançado diretamente em home vídeo no Brasil. Falando em Brasil, não ia dar mesmo para “O Menino e o Mundo” num ano em que tinha “Divertida Mente”. Mas, mais do que nunca, estar lá já foi um vitória.
Na parte musical, o venerando maestro Ennio Morricone ganhou pela Melhor Trilha Musical Original em “Os Oito Odiados” e Sam Smith levou pela pior Canção de James Bond da era Daniel Craig. Não adiantou nem o vice-presidene americano John Biden ir até a cermônia para apresentar a concorrente Lady Gaga com sua canção sobre estupro..

Negros e Gloria
Discurso de Chris Rock deve ter rendido horas de
reun ões até ser aprovado
O elefante na sala da cerimônia foi a polêmica envolvendo a ausência de indicados negros e o boicote proposto por alguns astros, especialmente o casal Will Smith e Jada Pinckett-Smith. Por sorte, os produtores já haviam contratado o humorista Chris Rock antes da confusão, e seu discurso de abertura ao mesmo tempo falou sobre a falta de oportunidades aos afrodescendentes e ainda cutucou o boicote e seus propositores. As piadas seguintes todas foram sobre o assunto, algumas por sinal, muito boas.

Já, no Brasil, a participação de Gloria Pires roubou a cena da transmissão na Globo, ainda mais que na TNT tivemos um Rubens Edwald Filho cada vez mais velho e confuso, distoando de seus bons tempos em que a memória e agilidade mental valorizavam suas intervenções desde os tempos do SBT. A escalação a contragosto da estrela global para trabalhar num programa madrugada a dentro e para o qual ela não tinha preparação nem formação para participar pode ter rendido memes e risadas, mas é mais um desrespeito da poderosa emissora carioca, que continua a exibir o Oscar após o BBB, e se fosse noite de Carnaval, simplesmente não transmitiria. Não é para rir, mas para lamentar.

Cineclube
O Oscar de Filme Estrangeiro foi para o húngaro "Filho de Saul", e logo que foi feito o anúncio, por maio do Facebook, o Cineclube Indaiatuba já confirmou sua escalação para a sessão da próxima terça-feira, dia 8, no Multiplex Topázio do Shopping Jaraguá. A história se passa em 1944, no campo de concentração de Auschwitz, durante a Segunda Guerra Mundial. Saul (Géza Röhrig) é um judeu obrigado a trabalhar para os nazistas, sendo um dos responsáveis em limpar as câmaras de gás após dezenas de outros judeus serem mortos. Em meio à tensão do momento e às dificuldades inerentes desta tarefa, ele reconhece entre os mortos o corpo de seu próprio filho.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Oscar 2016: quem leva?

A cerimônia de premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, o popular Oscar, acontece neste domingo, com transmissão pelo canal pago TNT (a Globo . Nas chamadas para o programa, Rubens Edwald Filho afirma que é a maior premiação do mundo do entretenimento, o que é verdade. A penetração que a música (Grammy), TV (Emmy) ou mesmo teatro (Tony) americanos tem no mundo inteiro não se compara à do cinema, que vem se ampliando até em territórios antes inexpugnáveis, como a China.

A Grande Aposta
Se em 2015, “Birdman” era barbada, neste a disputa é bem mais equilibrada. “Spotlight”, “A Grande Aposta” e “O Regresso” são igualmente favoritos, com ligeira desvantagem para o último porque o diretor Alessandro Iñarritu ganhou Filme e Direção (justamente com “Birdman”) no ano passado. A lógica é que o Melhor Filme leva também Direção, mas não para a Academia, que recentemente esnobou Steve McQueen (“12 anos de escravidão”), e Ben Affleck (“Argo”) mesmo premiando seus filmes. Pior foi
Spotlight - Segredos Revelados
há dez anos, quando deram a estatueta para o medíocre “Crash – No limite” mas a consciência pesada fez com que premiassem a direção de Ang Lee pelo muito melhor “Brokeback Mountain”. Além do mais, se Iñarritu fizer o bis, serão três anos seguidos de mexicanos (em 2014, que levou foi Alfonso Cuaron por "Gravidade"). Só se fosse para Donald Trump perder a peruca. Enfim, no próximo domingo, é grande a chance que o Oscar vá para um cineasta sem renome, como Tom McCarthy (“Spotlight”), Adam McKay (“A Grande Aposta”). Pessoalmente, “Mad Max Estrada da Fúria” é meu preferido para Filme e Direção, mas não vai rolar.

Brie Larson em O Quarto de Jack
Nas atuações – ladies first – deve dar a novata Brie Larson por “O Quarto de Jack” como Melhor Atriz e Alicia Vikander por “A Garota Dinamarquesa”. Para mim, Charlotte Rampling em "45 anos" faz um trabalho superior e até mesmo Jennifer Lawrence em "Joy" está melhor, mesmo que o filme não ajude. O "Quarto de Jack" é totalmente centrado no garoto Jacob Tremblay, que está ótimo e não foi lembrado, talvez porque não de para enquadrá-lo como coadjuvante, e como principal não fica bem.
Nos prêmios masculinos, prevejo muita comoção pelo premio de Ator Coadjuvante para Sylvester Stallone por “Creed” (já foi emocionante no Globo de Ouro) e por finalmente darem o Oscar a Leonardo Di Caprio, nem tanto por “O Regresso”, mas pela sua carreira brilhante, que é uma rara combinação de carisma de lead man e talento como intérprete. Christian Bale está excelente em “A Grande aposta” (quem lembra de Batman ao vê-lo neste filme?) e Michael Fassbender brilha em “Steve Jobs”, mas não o suficiente para tirar o doce da boca de Leo, que se não ganhar desta vez, é melhor pensar num filme de Holocausto.
Leonardo di Caprio em "O Regresso"


Os roteiros são um capítulo à parte este ano, com vários trabalhos de alto nível, até entre os esquecidos pela Academia, como “Steve Jobs” de Aaron Sorkin. Mas pelas premiações pregressas, deve dar “A Grande Aposta”, de Charles Randolph eAdam McKay entre os Adaptados; e “Spotlight”, de Josh Singer e Tom McCarhty entre os Originais. Vencedor de dois Oscars e Fotografia, Emmanuel Lubezki deve levar o terceiro por “O Regresso”.


Divertida Mente
Este ano, o prêmio de Animação ganhou um interesse especial para nós pela indicação do brasileiro “O Menino e o Mundo”, de Alê Abreu. Se fosse no ano passado, até teria chance, mas contra “Divertida Mente”, fica difícil. Na categoria Filme Estrangeiro, nem o brazuca “Que horas ela volta?” ou o argentino “O Clã” – Leão de Outro em Veneza – entraram. O húngaro “O Filho de Saul” é o favorito, preenchendo a cota “Filme de Holocausto”.