terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Cineclube exibe "O Sonho de Wajda" hoje

O Cineclube Indaiatuba exibe hoje, às 19h50, o filme "O Sonho de Wajda", da diretora Haifaa al Mansour, no Multiplex Topázio do Shopping Jaraguá. O ingresso único é R$ 6,00 e após a projeção haverá bate-papo com a platéia coordenado por este blogueiro-cinéfilo. O filme foi premiado em festivais como Veneza, Roterdã e Abu Dhabi no ano passado e foi o primeiro inteiramente rodado na Arábia Saudita.
Wadja é uma menina de 12 anos que mora no subúrbio de Riad, capital da Arábia Saudita. Embora ela viva em uma cultura conservadora, Wadjda é uma garota cheia de vida, que usa calça jeans, tênis, escuta rock’n roll e deseja apenas uma coisa: comprar uma bicicleta para poder disputar uma corrida com seu melhor amigo Abdallah. Mas em uma sociedade que diz que as bicicletas são apenas para os meninos porque podem ser perigosas para a virtude das meninas, ela enfrentará muitas dificuldades para realizar seu sonho.
Confira abaixo uma reportagem sobre a produção, narrada em português lusitano.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Blue Jasmine: mais um triunfo de Woody Allen

Luiz Carlos Merten, d'O Estadão, um crítico e cinema que respeito (não são tantos assim) acha "Blue Jasmine" o melhor Woody Allen desta nova fase que se iniciou com "Match Point". Este filme de 2005 era inspirado em "Uma História Americana", de Theodore Dreyser, e na adaptação cinematográfica desse romance por George Stevens, chamada "Um Lugar ao Sol". Novamente o cineasta novaiorquino parte de um clássico americano, "Um Bonde Chamado Desejo", de Tenessee Williams, e da versão para o cinema feita por Elia Kazan, que transformou Marlon Brando em astro e deu o segundo Oscar a Vivien Leigh.

Cate Blanchett é Jasmine, socialite falida de Nova York que vai morar em Los Angeles com Ginger, a irmã pobre, para desgosto de Chili (Bob Carnevale), namorado desta que esperava morar com ela. Como a Blanche Dubois de Williams, Jasmine e acha o futuro cunhado um bronco. Por maio de flash backs, descobrimos que o falecido marido da ex-ricaça, Hal (Alec Baldwin) era um financista escroque que foi preso após roubar milhares de investidores, como a própria Ginger e o ex-marido dela, Augie (Andrew Dice Clay).  Desesperada para recuperar sua antiga vida, ela consegue seduzir o diplomata e aspirante a político Dwight (Peter Saasgard).

Com habilidade, e com a ajuda de um elenco bem escalado - em que Cate se destaca - , Allen escapa das armadilhas do óbvio e constrói um trama sólida em torno da protagonista. Com outro diretor e atriz, Jasmine seria uma socialite quebrada de caricatura, mas com Allen e Cate, a personagem e suas neuroses ganham uma tridimensionalidade rara mesmo na obra do cineasta.

Acho que Cate Blanchett, que já tem uma estatueta de Atriz Coadjuvante por "O Aviador", é candidatíssima ao Oscar no ano que vem. Woody Allen é especialista em obter o prêmio da Academia a seus atores. Que o digam Diane Keaton ("Annie Hall"), Diane West ("Hannah e suas irmãs" e "Tiros na Broadway"), Michael Caine ("Hannah e suas irmãs"), Mira Sorvino ("Poderosa Afrodite") e Penélope Cruz ("Vicky Cristina Bascelona"). 

Se por acaso os velhinho da Academia preferirem Sandra Bullock em "Gravidade" é o caso de internar todo mundo no asilo mais próximo.

Em cartaz em Indaiatuba no Multiplex Topázio do Shopping Jaraguá, provavelmente só até amanhã. 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

As heroínas mais mortais (fodásticas) do cinema

Assisti "Kickass 2" e mais um show da Chloe Grace Moritz como a Hitgirl. Eu diria que ela encarava a Noiva da Uma Thurman em "Kill Bill" de igual para igual. E nesta sexta, ela assume "Carrie, a estranha", papel que tornou Sissy Spacek uma estrela. Inspirado nessas moças que não levam desaforo para a casa, resolvi voltar com minhas listas de cinema (veja aqui, aqui e aqui) com As Mulheres mais mortais do cinema. Vamos a elas.


1 - A Noiva, ou Beatrix Kiddo, de "Kill Bill" (Uma Thurman, 2003/2004)). A personagem criada por Quentin Tarantino e por sua musa Uma Thurman surgiu na verdade de uma história de "Pulp Fiction". Nesse filme, Uma é a mulher de um traficante, ex-aspirante a atriz que chegou a estrelar um piloto de um seriado sobre uma equipe de espiãs, em que cada integrante era especialista em uma forma de matar. Na primeira parte, Beatrix Kiddo (nome verdadeiro da personagem, que também é conhecida como Black Mamba), massacra uma quadrilha de yakuzás num festival de sangue digno dos melhores "chambara" (como eram conhecidos os filmes de samurais), culminando no belíssimo duelo contra O-Ren Ishii (Luci Liu, a melhor vilã do díptico). No segundo, Tarantino homenageia os filmes de kung fu, destacando o cruel aprendizado com o mestre Pai-Mei (Gordon Liu) que não apenas ajuda a heroína escapar do caixão onde foi enterrada viva como também lhe dá a arma para matar Bill (Keith Carradine), que é a razão de ser do filme desde o título. The Bride rules!


Hit Girl: de ninja infantil a ninfeta fatal
2 - Hit Girl, ou Mindy Macread, de "Kickass" (Chloe Grace Moritz, 2010/2013). A garotinha enfezada do primeiro filme deu lugar a uma ninfeta capaz de usas suas habilidades ninja tanto para combater o crime como sobreviver ao sistema de castas do high school, o maior trauma da vida dos americanos em geral. Chloe Grace Moritz foi revelada nesse papel, que a credenciou para grandes produções como "A Invenção de Hugo Cabret", "Deixe-me entrar", "Sombras da Noite" e para o vestibular para o estrelato na próxima versão de "Carrie". Lembrando que, se a personagem de Stephen King colocou Sissy Spacek no mapa, fez Emily Bergl despontar para o anonimato em "A Maldição de Carrie". Boa sorte, Chloe.


Angelina Jolie no auge da boa forma como Lara Croft
2 - Lara Croft em "Lara Croft: Tomb Rider" (Angelina Jolie, 2001). Tudo fazia crer que as mulheres iriam quebrar o monopólio masculino de action heros estelares de Hollywood. Um ano antes, Cameron Diaz, Drew Barrymore e Luci Liu haviam emplacado "As Panteras" exibindo charme, adrenalina e humor como as detetives comandadas pelo misterioso Charlie. Angelina então encarnou a heroína dos videogames com propriedade e credibilidade com ótima atuação física e todas as caras e bocas (e que boca!) a que tinha direito. Mas, então, o que aconteceu? Duas sequencias meia-boca (por isso estou ignorando "A Origem da Vida") se seguiram, enterraram as duas franquias e o que parecia ser o nascimento de um novo subgênero. Angelina ainda tentou em "Capitão Sky e o Mundo do Amanhã" - praticamente uma ponta - ; "Senhor e Senhora Smith" - mas dividindo a cena com o futuro marido - ; "O Procurado" - como ama seca do protagonista James MacAvoy - e "Salt" - um voo solo mal-sucedido, que ela vai tentar ressuscitar numa sequencia.


Viúva Negra invadindo o QG do vilão de Homem de Ferro 2
3 - Viúva Negra, ou Natasha Romanova, em "Homem de Ferro 2" e "Os Vingadores" (Scarlett Johansson, 2010/2012). Não muito maior que a Hit Girl em 2010 (na verdade, Chloe Nicole Moritz é até mais alta que ela atualmente), ninguém diria que Scarlett Johansson teria physique du role para uma super-heroína. Mas ela surpreendeu todo mundo nocauteando um pelotão de capangas em "Homem de Ferro 2" e encarando, nada mais, nada menos, que o Hulk em "Os Vingadores". Graças a Bourne (e ao MMA), não parece tão irreal que uma garota de 1,60 m de conta de caras muito maiores. E Scarlett sempre parece perigosa. 


Milla Jovovich armada até os dentes para combater os zumbis
4 - Alice da franquia "Resident Evil" (Milla Jovovich, 2002 a 2012). Em termos de longevidade, não há dúvida que esta é a heroína de ação mais bem sucedida. Cinco longas lançados mais um anunciado para o ano que vem colocariam a Alice de Milla Jovovich no topo da categoria. Colocaria, porque a franquia originada de um videogame não tem qualquer preocupação com coerência, mesmo para um tipo de filme  que não leva esse tipo de coisa muito em consideração. No começo ela era uma garota no lugar e hora erradas, depois, cobaia da grande corporação que destruiu o mundo, mais à frente, um ser superpoderoso que lidera uma legião de clones, aí ela perde os poderes e os clones... Na verdade, seria possível prosseguir a franquia com outros personagens dos games (Jill Valentine, a heroína original, virou figurante no cinema), mas Milla é casada com o diretor - e depois produtor executivo - da série, Paul W.S. Anderson. É um porto seguro para a atriz, cuja carreira começou ainda na puberdade no sexploitation "De volta á Lagoa Azul", decolou em "O Quinto Elemento" (com outro diretor-marido, Luc Besson) e se estabilizou no emprego fixo de "Resident Evil". Até trabalhos fora da franquia se parecem com este, como "Ultravioleta".


5 - Nikita, de "Nikita - Criada para matar" (Annie Paurillaud, 1990). A personagem criada por Luc Besson já foi vivida por quatro atrizes - Anne Paurilaud e Bridget Fonda no cinema; Peta Wilson e Maggie Q na TV - mas é a francesa Anne que causou impacto no longa original. O papel da junkie condenada à morte por causa de um assalto que termina em mortes e recrutada por uma agência governamental para ser a assassina perfeita  lhe deu o Cesar, o Oscar francês, Ela fez aulas de judo por três meses antes das filmagens e superou a aversão por armas de fogo, dizendo que parecia que um demônio tomava conta dela ao encarnar Nikita no set. Uma revolução em termos de papéis femininos no cinema.

6 - Mulher-Gato, ou Selina Kyle, de "Batman -  Cavaleiro das Trevas Ressurge" (Anne Hathaway, 2012). Anne Hathaway vai se lembrar de 2012 muito provavelmente por causa de seu Oscar de Atriz Coadjuvante por "Les Miserables". Mas para milhões de nerds, ela será a atriz que resgatou a Mulher-Gato da hecatombe que foi o longa estrelado por Halle Berry. Com sua cara de princesa (não é à toa que seu primeiro filme foi "Diário da Princesa") e corpo muito mais para Julie Newmar que para Michelle Pfeiffer, ela remete à Selina Kyle esboçada por Frank Miller em "Batman: Ano Um" (A "namorada" foi sugerida, mas a prostituição foi totalmente eliminada), mas se integra a visão dos irmãos Nolan de Gotham City e Batman. Após as duas Rachel Dawes dos filmes anteriores muito sem graça, Anne Hathaway surge como interesse um romântico convincente a um amargo Bruce Wayne. Para concorrer com ela, tinham mesmo que escalar alguém do nível de Marion Cotillard,a grande surpresa de "O Cavaleiro das Trevas Ressurge".


Jennifer Garner com suas adagas Sai em "Demolidor"
6 - Elektra de "Demolidor, o Home sem Medo" (Jennifer Garner, 2003). À exceção do prólogo, que parece tirado das páginas de Frank Miller, o filme-solo da ninja não merece menção. Mas no detestado filme do Homem sem Medo e principal razão por todos temerem a escalação de Ben Affleck com novo Batman, a Elektra de Jennifer Garner é um das poucas coisas boas. Vindo do seriado "Alias", onde sobravam cenas de ação, ela mostra muito melhor forma nas lutas que o protagonista e futuro marido. A sequencia de sua luta com o Mercenário (melhor papel mainstream de Colin Farrell) é ipsis literis a que foi desenhada pelo mestre Miller. Então, como não gostar? Pena que a chance da personagem decolar foi abortada - novamente - num segundo filme.


7 - Selene da série "Anjos da Noite" (Kate Beckinsale, 2003 a 2012). Kate Beckinsale, uma das atrizes mais bonitas de Hollywood (não que as citadas acima não o sejam, muito pelo contrário), começou sua carreira cinematográfica - quem diria - com Shakespeare. Foi em "Muito Barulho por Nada" adaptação da comédia do Bardo por Kenneth Branagh. Dez anos depois ela vestiria a capa da vampira que se apaixona por um inimigo milenar, um lobisomem. Praticamente um Romeu e Julieta dos personagens de terror. Curiosamente, a situação de "Resident Evil" se repete: a estrela e o diretor - depois produtor - se apaixonaram durante as filmagens e se casaram.






A vampira sexy Kate Beckinsale





Dream team de mulheres bonitas e duronas num filme de 2a divisão
9 - As garotas de D.O.A. (Jaime Pressly, Holly Valance, Devon Aoki, Sarah Carter e Natassia Malthe, 2006). A produção de baixo orçamento tinha tudo para ser um sucesso entre os adolescentes: tinha belas garotas de biquini lutando entre si e dando porrada em marmanjos e era baseado em um videogame de sucesso. Por que não deu certo? Faltou cinema. As boas cenas de ação não se conectam, os personagens são muito bobos e as interpretações canastronicas até para seu público-alvo. No elenco, Jaime Pressly, mais conhecida pela TV, que usa sua formação de bailarina; Devon Aoki, modelo que já havia feito uma espadachim mortal em "Sin City"; Nastassia Malthe, que foi a vilã Typhoid no desastre "Elektra"; Holly Valance, que trabalhou em "Busca Implacável" e Sarah Carter, do seriado "Falling Skies". Mas o melhor do filme pode ser visto neste teaser, com a piada da imagem acima. Ótimo, mas não tem nada a ver com o resto filme.



sexta-feira, 22 de novembro de 2013

50 anos de Lui Cinematográfica

Hoje acontece o jantar de comemoração dos 50 anos da Lui Cinematográfica, empresa que administra os Multiplex Topazio de Indaiatuba. Além da amizade e parceria que me liga pessoalmente à família Lui por duas décadas, devo ao velho Cine Alvorada, onde a história da empresa começou, muito da minha cultura cinematográfica.

Como quase todo mundo da minha geração, estudei no Grupo Escolar Randolfo Moreira Fernandes, que ficava na Praça D. Pedro II, em frente ao Alvorada. Antes ou depois das aulas, costumávamos ir até a porta do cinema – que fica onde é hoje o Magazine Luiza – e olhar pelo vidro quais seriam as próximas atrações. A nós praticamente só restavam as matinês de sábado e domingo, porque a censura etária na época era bem mais rigorosa que hoje. Era o início da Era de Ouro dos Trapalhões no cinema, que começou com “Robin Hood, O Trapalhão da Floresta”, de 1974. A partir daí, até 1991 com “Os Trapalhões e árvore da Juventude”, Renato Aragão estrelaria pelo menos um filme por ano, sempre liderando as bilheterias.

Na época, durante a semana, aconteciam sessões patrocinadas, em geral com produções voltadas às donas de casa, como “Dio como ti amo” e às quartas havia a sessão dupla dedicada à colônia japonesa (em geral, um longa lacrimogêneo e um de yakuzá). Na Semana Santa era quase obrigatória a exibição de “Paixão de Cristo”, uma versão antiga da vida de Jesus em que seu rosto nunca aparecia, e “Os 10 Mandamentos”, o clássico de Cecil B. De Mille com Charlton Heston. Por outro lado, foi no Alvorada que vi meu primeiro filme proibido, uma pornochanchada italiana estrelada por Edwige Fenech, starlet francesa especializada em exbir seu belo corpo em produções B. Não vi na época, mas lembro da fila de dar volta no quarteirão para ver a sex symbol tupiniquim da época, Sonia Braga, em "Dona Flor e seus Dois Maridos", maior público oficial do cinema nacional até "Tropa de Elite 2".

O problema da distribuição na época é que os grande lançamentos demoravam horrores para chegar até as salas do interior. “Tubarão” (1975), por exemlo, levou mais de um ano para ser exibido em Indaiatuba (quando chegou, tenho quase certeza que faltavam alguns dentes na cópia). Quanta diferença com os lançamentos mundiais simultâneos de hoje em dia. Em compensação, em tempos pré-home vídeo, as cópias circulavam por anos, principalmente as que estavam fora do controle das multinacionais, o que permitiu a sobrevivência dos cineclubes.

Por esse motivo, quando fui fazer o colégio em Campinas, um novo mundo se abriu para mim. Filmes como “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, de Stanley Kubrick, visto no Teatro Castro Mendes; e “Manhattan”, de Woody Allen, assistido no Cine Regente, me levaram a descobrir o chamado Cinema de Arte.
Mas mesmo quando me tornei adulto, o Alvorada ainda me proporcionou grandes momentos, como “Apocalipse Now” em sua versão com a destruição do templo  nos letreiros finais, que nunca mais seria vista nas versões posteriores; “Perdidos na Noite”, relançado nos anos 80, creio que por causa da censura da Ditadura Militar; entre outros.

A velha e enorme (mais de mil lugares!) sala da Praça D. Pedro II fechou suas portas em 1989, com “Uma Cilada para Roger Rabitt”, e até a inauguração do Cine Topázio no então Shopping Center Indaiatuba, em 1993, a cidade ficaria sem um cinema. Muita gente cresceu tendo que ir até Campinas ou recorrendo ao VHS para ver filmes.

A família Lui reunida na inauguração do Topázio do Polo Shopping
Nesse período começa minha relação com a família Lui. Em 1992, trabalhando no Votura, fui encarregado de fazer uma matéria sobre o shopping que estava sendo construído no local do antigo Cotonifício. Meu entrevistado era José Roberto Machado, que respondia pelo marketing do empreendimento. Ele me mostrou a planta, apresentou as bandeiras que ancorariam o mall (entre as quais Planet Music, Pakalolo, Sé Supermercados, Casa do Pão de Queijo, Drogasil, únicas sobreviventes de então) e eu falei, tá tudo muito bem, tá tudo muito bom, mas cadê o cinema? Pigarro. “Nós fizemos uma pesquisa que mostrou que não havia a necessidade de um cinema no shopping”, disse. Do alto de meus anos como programador do Cineclube Oscarito, de uma passagem pela Sala da Cinemateca Brasileira, do meu trabalho como técnico de cinema na oficina Cultural Oswald de Andrade e órfão do Cine Alvorada eu disse: “Como assim? Indaiatuba não tem cinema desde 1989 e vocês acham que seu primeiro shopping não precisa de um?”
Indignado, fui fazer outra matéria, dessa vez com Paulo Antônio Lui, que herdara o Cine Alvorada do pai Guerino, que por sua vez tinha sido sócio do ainda mais antigo Cine Rex, que como o Cine Paradiso do filme havia virado estacionamento. Ele me explicou que até tentou viabilizar uma sala no shopping, mas o preço que eles pediam era muito alto. Escrevi um texto revoltado com a oportunidade que a cidade estava perdendo de voltar a ter uma cinema, quando aconteceu uma reviravolta nos acontecimentos. O banco que iria abrir uma agência no shopping desistiu, deixando um espaço bem na entrada da Rua Humaitá. O “buraco” foi oferecido á família Lui, que topou retomar o negócio do cinema. O projeto foi feito por um amigo do cineclubismo, Luiz Bacelar, do Cineclube Barão, de Campinas, e surgiu o Topázio. O primeiro filme foi “O Último Grande Herói”, com Arnold Schwarzenegger. Na pequena sala, Indaiatuba assistiu grandes blockbusters como “O Rei Leão” e “Titanic”, participou de eventos mundiais como o pré-lançamento de Star Wars – Episódio 1”, numa sessão à 00h01 e criou uma geração de cinéfilos. E o que se viu em relação ao shopping, que ganhou o nome Jaraguá ao ser adquirido pelo ex-governador Orestes Quércia? O Topázio é que virou a grande âncora do mall, tanto é que o grupo Sol Panambi resolveu investir num mezzanino para abrigar o multiplex e quatro salas. Quando o Polo Shopping veio, a Lui Cinematográfica era a escolha natural para gerenciar as novas cinco salas. Hoje, Indaiatuba tem o mesmo número de salas que tinha Campinas nos meus tempos de colégio.

Desde 2005, o Topázio abriga o Cineclube Indaiatuba, iniciativa minha e do Antônio da Cunha Penna, que vinha peregrinando por diversos espaços da cidade – sede da Sociedade Cantátimo, Colégio Monteiro Lobato, Livraria Vila das Palmeiras – em mídia VHS e depois DVD. Ao invés de clássicos da Sétima Arte, passamos a exibir lançamentos do segmento Arte, que de outro modo jamais seriam exibidos aqui em tela grande. O bate-papo pós projeção são um plus, mas o mais importante, para mim, é aos poucos criar um público mais exigente que permita, no futuro, inserir filmes de qualidade na programação normal.

Em 50 anos, a Lui Cinematográfica viveu a passagem das lâmpadas de carvão para as de xênon; do sistema de dois projetores para o rolo único na horizontal e, finalmente, a projeção digital, talvez a maior revolução na exibição cinematográfica desde os irmãos Lumière. O que se manteve nesses meio século da Lui Cinematográfica é a conexão com seu público, o cuidado com suas salas e com a qualidade da exibição. Parabéns a Paulo Antonio Lui e sua família por manterem vivo o cinema em Indaiatuba.

sábado, 19 de outubro de 2013

O centenário do Poetinha

A efeméride da semana é o centenário de Vinícius de Moraes, comemorado hoje, dia 19 de outubro. Ontem, o programa Sarau, da Globo News, trouxe as remanescentes do Quarteto em Cy, grupo descoberto pelo Poetinha, e a cantora Joyce Moreno, que foi regra três de Toquinho, ao substituí-lo como acompanhante de Vinícius em uma turnê pela América Latina. O Canal Brasil, por sua vez. passou o belo documentário "Vinícius", de Miguel Faria Jr., que traz um Chico Buarque saudoso, nada preocupado em preservar intimidades do amigo, muito antes de se tornar o desastrado porta-voz do grupo Procure Saber.

Morto em 1980, o autor de Soneto da Separação não será atingido pelo movimento anti-biografias porque já tem a sua, "Vinícius, Poeta da Paixão", de José Castello, que revela o lado trágico de uma vida cheia de viagens, amigos, poesia, música e mulheres movida a muito uísque, o cachorro engarrafado que ajudou a matá-lo aos 66 anos.Sem patrulhas, por favor, porque viver intensamente foi uma escolha pessoal, e ainda foi mais longe que diversos popstars muito mais jovens. Em todos os sentidos.

Paulo Francis fez um retrato cruel dele em "Cabeça de Papel" e achava que Vinícius passou a se dedicar á rima fácil da música popular por ter perdido a mão para a poesia séria. Eu acho que ele quis fazer sua poesia sair das prateleiras das bibliotecas e dos saraus eruditos e ir para a rua, ao alcance das pessoas comuns. A parceria com Tom Jobim, um popular com um pé e meio no erudito, consolidou as possibilidades de fazer arte de qualidade num meio de muito maior alcance que a literatura tradicional. Sem falar nas benesses da boemia, badalação e mulheres bonitas.  

O legado do Poetinha nesses tempos estranhos é dificil de definir. Luis Fernando Veríssimo nos lembra como ele ajudou várias gerações de homens a seduzir mulheres com seus poemas de romantismo derramado, mas será que Soneto da Fidelidade ("De tudo ao meu amor serei atento/Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto/Que mesmo em face do maior encanto/Dele se encante mais meu pensamento"), ainda cola em tempos de "Gata me liga mais tarde tem balada/Quero curtir com você na madrugada/Dançar, pular/Até o sol raiar" (Que rima! Que lirismo!)?

Mas apesar do mercantilismo, do hedonismo, da ânsia pelo poder e fama neste novo século pós-Vinícius de Moraes, o que ele nos deixa é uma visão de um mundo, onde "quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não", "quem tem mulher para usar ou pra exibir" não está com nada; e "para viver um grande amor, primeiro é preciso sagrar-se cavalheiro, e ser de sua dama por inteiro, seja lá como for".

Afinal de contas, "mesmo com toda a fama, com toda a brahma, com toda a cama, com toda a lama, a gente vai levando", "porque hoje", dia de seu Centenário, "é sábado!"   




terça-feira, 3 de setembro de 2013

Cineclube Indaiatuba exibe "Hannah Arendt" hoje às 20h

A atração do Cineclube Indaiatuba hoje ás 20h é "Hannah Arendt", de Margarethe Von Trotta. O ingresso é R$ 6,00 para todos e após a projeção no Topázio do Shopping Jaraguá haverá bate-papo com o público. O filme é estrelado por Barbara Sukowa, estrela de um dos derradeiros Fassbinder ("Lola") e parceira da cineasta em dois de seus filmes mais conhecidos, "Os Anos de Chumbo" e "Rosa de Luxembrugo".

"Hannah Arendt" aborda um dos episódios mais importantes da vida de uma das grandes pensadoras do século XX, sua reportagem-ensaio sobre o julgamento de Adolf Eichmann, o responsável pelo transporte dos judeus aos campos de extermínio durante a II Guerra Mundial. Sendo ela mesma uma sobrevivente (ela fugiu da França para o Estados Unidos antes que Hitler ocupasse o país), ela se surpreendeu ao se deparar com a figura patética do oficial da SS. Longe de ser o demônio pintado por seus captores israelenses, Eichmann não passava de um burocrata, um cumpridor de ordens que pessoalmente não havia matado ninguém. Isso levou Arendt a formular o famoso conceito da "banalidade do mal", que na verdade é mais aterrorizante que o pensamento de termos seres diabólicos andando entre nós, porque lança a possibilidade de qualquer um, dentro de um contexto moralmente distorcido como o nazismo, ser capaz de cometer as maiores atrocidades sem assumir qualquer culpa.

Seus artigos para a revista The New Yorker (que bancou a viagem e os quase dois anos de elaboração dos textos) e o livro publicado depois, "Eichmann em Jerusalém", fez com que ela recebesse ataques de todos os lados, principalmente do poderoso lobby judeu americano. Seu relacionamento amoroso na juventude com Martin Heidegger, um dos maiores filósofos contemporâneos que acabou se alinhado com Hitler, foi usado para sugerir uma suposta simpatia pelos nazistas

O filme de Von Trotta se situa na vida de Arendt nos EUA como professora universitária, vivendo com seu companheiro Heinrich Blücher (Axel Milberg) e tendo entre seus amigos a escritora Mary McCarthy (Janet McTeer) e o filósofo Hans Jonas (Ulrich Noethen), um judeu alemão que lutou ao lado dos Aliados contra o Nazismo. 


quinta-feira, 11 de julho de 2013

A importância do Atlético na final da Libertadores

Vitro defende a cobrança de Maxi Rodrigues: a imagem do jogo
Acabei de ver a história e heróica classificação do Atlético Mineiro à final da Copa Libertadores da America, na semifinal contra o Newell's Old Boys da Argentina. Dois a zero no tempo normal (igualando o placar do primeiro jogo em Buenos Aires) e 3 a 2 nos pênaltis.

Dos grandes times brasileiros, apenas tres não foram campeões da Libertadores - Atlético, Fluminense e Botafogo - e só dois nunca foram à final, sendo um deles o Galo Mineiro, justamente o primeiro campeão brasileiro, nos moldes com conhecemos agora.
Outro tabu envolvendo o jogo é pessoal: o técnico Cuca nunca ganhou um campeonato que não fosse estadual, a despeito de ser reconhecido como um dos mais destacados estrategistas do futebol brasileiro hoje. Afinal, até Celso Roth tem uma Libertadores, meu Deus!

A grande proeza de Cuca até então tinha sido evitar o rebaixamento do Fluminense em 2009. Tem sob seu comando o que é, provavelmente, o melhor elenco do futebol brasileiro hoje, o que ficou provado hoje, quando substituiu Diego Tardeli por Alecsandro e Bernard por Guilherme, sendo que este marcou o gol redentor no final do jogo e os dois reservas marcaram suas cobranças de penalidades. Finalmente, ele terá a chance de provar que é um técnico de elite, e não um eterno vice.

Em tempo: apesar do que o goleiro Vitor tem feito nesta Libertadores, ao defender aquele pênalti contra o Tijuana e agora a cobrança de Maxi Rodrigues, ainda não justifica ser igualado a São Marcos. Naquela Libertadores de 2000, que o Palmeiras nem venceu no fim das contas, ele pegou um penalti de Marcelinho Carioca, o jogador mais odiado do principal rival do Palmeiras. Para ser a mesma coisa, Vitor teria que pegar um penalti num jogo decisivo da Libertadores contra o Cruzeiro batido por, digamos, Diego Souza. Ainda assim, não é a mesma coisa.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Rumo ao Hexa? Muita calma nessa hora!

O esperado jogo contra a que é chamada melhor seleção do mundo e o Brasil terminou com a retumbante e convincente vitória por 3 a 0 para os donos da casa, que conquistaram assim o quarto título (o terceiro seguido) da Copa das Confederações. Felipão mostrou que tem um time e a torcida verdeamarela vibrou pela volta do campeão, após os anos de estiagem de títulos e futebol convincente dos tempos de Mano Meneses.

Contra o já ganhou a um ano do que realmente interessa - a Copa do Mundo - é bom lembrar que quem ganha ou joga bem a Copa das Confederações tem sido sempre uma decepção no ano seguinte. Pode não parecer, mas 12 meses é muito tempo em futebol. Basta lembrar que na edição de 2009, o destaque do título do Brasil na África do Sul foi Luis Fabiano (que decepcionou na Copa e não é cogitado por ninguém a voltar à seleção) e que no primeiro semestre de 2010 surgiram os fenômenos Neymar e Ganso, ignorados por Dunga com a justificativa do "grupo fechado" (coisa de técnico de Casados x Solteiros).

Falando em técnico, será que agora vão parar de chamar Felipão de retranqueiro e superado? Jogar com tres atacantes e um volante artilheiro com Paulinho é coisa de retranqueiro? Encurralar o tik-tak espanhol em seu próprio campo e anular aquele extraordinário meio-de-campo é próprio de um treinador superado? Uma característica do treinador é montar o time a partir dos jogadores, e não encaixá-los num esquema pronto. Foi assim em 2002, quando a equipe foi centrada em Rivaldo e Ronaldo, e 2002, quando o medíocre time do Palmeiras conseguiu vencer a Copa do Brasil (a queda para a segunda divisão do Brasileirão foi o choque com a realidade, que Felipão alertou logo após seu único título nesta segunda passagem pelo Parque Antártica).

O que o Brasil mostrou ter de melhor que Espanha e Itália é ataque. Iniesta e Xavi criam para Pedro, Torres (depois o decadente Davi Villa) e Mata (depois Jesus Navas), quaisquer que sejam as opções são inferiores aos definidores Neymar e Fred e o carregador de piano Hulk. O mesmo se pode dizer da Itália, que depende muito de Balotelli. Fazer marcação é questão de treino e aplicação, fazer gol é uma questão de talento, daí o título do Brasil na melhor edição da Copa das Confederações.


Há que se considerar que alguns craques adversários estavam baleados ou em má fase, casos de Pirlo, que se contundiu contra o Japão, não jogou contra o Brasil e fez número na semifinal; e Xavi, que há tempos não joga no mesmo nivel de seu parceiro Iniesta. Repito, muita coisa pode e vai acontecer daqui a um ano, coisa que Felipão sabe e fez questão de deixar claro ao afirmar que as portas estão abertas a Ronaldinho gaúcho e Kaká, desde que eles joguem. Além do mais, vai que nesse meio tempo apareça algum fenômeno, como aconteceu na Alemanha, que revelou em plena Copa da África do Sul os então desconhecidos Özil, Khedira e Thomas Müller.

terça-feira, 18 de junho de 2013

As mídias e a voz rouca das ruas

Repórter Jeans Raupp com microfone sem logo da Globo
Em 1984, a Campanha das Diretas avançava em todo o País e era solenemente ignorada pela Globo, que não queria desagradar o regime militar ainda no poder. O primeiro comício, que aconteceu em 25 de janeiro, foi anunciado nos telejornais da emissora como comemoração pelo aniversário de São Paulo. Só quando o movimento ficou tão grande que era impossível ignorar que ela começou a cobrir as manifestações e o povo recebia suas equipes ao brado de "O povo não é bobo, fora Rede Globo".
Um salto de 29 anos e a história se repete, desta vez, por causa dos interesses do conglomerado envolvendo a Copa das Confederações que está acontecendo agora e a Copa do Mundo no próximo ano. Não fica bem esses protestos ocorrerem quando estamos sendo vistos por todo o planeta, e querendo vender uma imagem de segurança e tranquilidade para 2014 e 2016. Em 1984, a Folha de S. Paulo acabou se tornando o órgão oficial das Diretas Já, o que ajudou-a a se tornar o mais importante jornal do País nos anos seguintes. Desta vez, como todos os grandes órgãos de imprensa aliados ao retrocesso, coube à Internet romper o truste da informação e fazer com que a poderosa emissora camufle seus profissionais com medo da hostilização.

Jovens vão às ruas contra Collor ao som de "Alegria, Alegria"
O outro lado das participação midiática nos movimentos de rua, são as obras de ficção que influenciam a participação política. A coincidência das passeatas pelo impeachment de Collor com a exibição na época da minissérie "Anos Rebeldes" é um exemplo. "Alegria, Alegria", de Caetanos Veloso, tema de abertura do programa, não era originalmente o hino de luta que virou na boca dos "caras-pintadas". Cássio Gabus Mendes como o guerrilheiro da ficção levou mais gente às ruas que Lindbergh Farias, apontado como líder dos manifestantes que posteriormente se tornou um político não muito melhor que o que ajudou a derrubar.

O herói Jean-Pierre, vivido Edson Celulari 
Embora nesse caso fosse fruto do acaso, esse tipo de experiência não era nova para a Globo, em termos propositais. Em 1989, a novela "Que rei sou eu?" fez um enorme sucesso, fazendo uma paródia do Brasil num reino de capa e espada chamado Avilan, governado por uma camarilha corrupta que assumiu o poder após a morte do rei benevolente. Eles eram combatidos pelo herdeiro bastardo do monarca, que agiu como um Robin Hood que no final assumia o poder bradando "Viva o Brasil". Se havia alguma dúvida que era a imagem que Fernando Collor de Mello tentava projetar em sua campanha presidencial, não restou nenhuma quando o folhetim foi reprisado na Sessão Aventura apenas um mês e uma semana após seu término, justamente na reta final da campanha eleitoral, entre 29 de outubro e 29 de dezembro de 1989, sendo que naquela época o primeiro turno era no dia 15 de novembro e o segundo, dia 17 de dezembro. Nunca na história desse País a Globo reprisou uma novela tão rapidamente.

Um dos "Guy Fawkes" na manifestação de Indaiatuba 
O cinema também tem influência nesses movimentos de rua. Até que ponto a apoteose nas barricadas de "Les Miserables" não se infiltrou no inconsciente dos jovens que estão indo às ruas? A própria máscara de Guy Fawkes, tornada símbolo do inconformismo desde Occupy Wall Street vem do filme "V de Vingança", de 2006, baseado numa graphic novel - muito superior - de 30 anos atrás.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Um pouco de história sobre os conflitos de rua nas capitais brasileiras

Duas coisas são importantes de serem destacadas nos recentes conflitos de rua. A primeira é que não houve articulação política para levar todos esses jovens às manifestações: os partidos políticos em geral foram pegos de surpresa, da mesma forma como aconteceu no quebra-quebra em São Paulo em 1983, e no Domingo Negro de 1992 que praticamente decidiu o destino do então presidente Fernando Collor de Mello. Ver jovens irem ás ruas lutar por seus direitos e tomando porrada da polícia  é um dejá vu alvissareiro, já que eu mesmo imaginava que a galera estava mais interessada em saber quando seria a próxima balada e de onde viria a grana para bancá-la. Nunca me senti tão feliz em estar equivocado.
A segunda é que todo mundo morre de medo de mexer na Máfia do Transporte Público, uma estrutura arcaica, ineficiente e poderosa. Pelo menos um prefeito petista, Celso Daniel, de Santo André, foi morto por causa de esquemas com empresas de ônibus. O outro assassinato,  de Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, de Campinas, teria como motivo sua tentativa de disciplinar o transporte alternativo pelas vans, na época um tormento do trânsito da cidade. Mexer com transporte urbano, portanto, é mexer num vespeiro.

Na aparência, a reivindicação que motivou os jovens a tomarem as ruas de São Paulo foi deter o aumento do preço da passagem de ônibus em R$0,20, mas na verdade essa foi a gota d'água que transbordou o copo, após sucessivas elevações do custo do transporte no bolso do usuário nas administrações anteriores. A voz das ruas fez ressurgir ainda a tese da Tarifa Zero, que originalmente nem estava na pauta dos manifestantes, proposta pelo governo de Luiza Erundina, mas que foi engavetada pela Câmara Municipal dominada pela oposição.

De cara, imprensa e autoridades se encarregaram de taxar a ideia de absurda, inviável e populista, sem discutir a sério o projeto original, criada por um engenheiro que estava longe de ser um maluco xiita. No anos 80, em meus tempos de USP, frequentei regularmente a casa de Lúcio Gregori, o secretário de Transportes de Erundina, e pai de uma de minhas melhores amigas, Márcia. Além de filar o almoço, usufruia de sua bela coleção de discos de jazz, que ele tocava ao piano também. Isso foi anos antes dele assumir a pasta de Transportes na primeira administração petista importante, mas Gregori estava longe de ser o militante fanático e idealista daqueles tempos. É sensato e até bem burgues, daí porque sua proposta não foi alicerçada sobre ideologia, mas sobre fatos e projeções.

Trazido de volta à ribalta pelos acontecimentos desta semana, ele deu a seguinte entrevista ao site .

Tarifa Zero é possível?

A ideia do transporte público gratuito é tão possível quanto a da escola pública gratuita, da saúde pública gratuita, da segurança pública, da coleta de lixo e de uma série de serviços que são pagos pelas prefeituras, com nossos impostos. O problema no Brasil é que o transporte público se tornou um negócio tão rentável e poderoso que é quase intocável.

Há exemplos de transporte gratuito em outros países?

Quando elaborei o projeto para São Paulo descobri que apenas nos Estados Unidos existem ao menos 35 cidades, todas elas com mais de 200 mil habitantes, que já adotavam o transporte inteiramente subsidiado antes de 1990.

Em Hasselt, cidade com mais de 400 mil habitantes, na Bélgica, o transporte gratuito foi adotado em 1994 e desde então houve um aumento de 1000% na demanda. Daí a prefeitura de lá deixou de investir em uma série de obras, como anéis rodoviários, túneis e viadutos e alocou esses recursos na expansão do transporte público. Em Talim, na Estônia, o transporte já tinha um subsídio de 70% e recentemente, depois de um plebiscito, a cidade adotou a tarifa zero.

E no Brasil?

Pelo menos três cidades brasileiras - Ivaiporã, no Paraná; Porto Real, no Rio de Janeiro e mais uma cidade de Minas Gerais, que não me ocorre agora - já adotaram a gratuidade do transporte. Em São Paulo, a cidade de Paulínia tinha tarifa zero até 1990.

Qual seria a tarifa justa?

O transporte deveria ser gratuito porque as pessoas saem de casa para trabalhar, estudar, enfim, para movimentar a máquina que gera riqueza e faz com que as cidades possam ser mantidas. O transporte é uma atividade econômica como qualquer outra, que tem seus custos, assim como a educação, a limpeza pública, a segurança. O grande peso, no caso dos ônibus, é o da mão de obra (60%). Além disso, tem que remunerar o capital do empresário. A questão central é "Quem paga por isso?".

Quem paga?

Em outros países, a maior parte é paga pelo poder público. No Brasil, o subsídio é baixíssimo, cerca de 12%, quando em outros países chega a 70%. Daí que o transporte coletivo é caríssimo frente ao transporte individual e isso explica o uso tão intenso de carros e motos nas cidades brasileiras.

Por que a proposta da tarifa zero não deu certo em São Paulo?

Na época, nós fizemos um estudo sobre os custos e propusemos um aumento nos impostos para subsidiar o transporte. Uma pesquisa realizada pela prefeitura em 1990 mostrou que a maior parte da população havia compreendido a proposta e estava de acordo. O problema é que a Câmara Municipal decidiu não discutir a proposta, apesar da aprovação da sociedade. Nas discussões, notamos que os vereadores das comissões que avaliaram o projeto somente discutiam os itens que eram de interesse das empresas do setor, o que revelou uma influência forte dos empresários de transporte dentro do Legislativo.

O que o senhor acha das manifestações contra o aumento da tarifa?

Elas são a expressão de uma disputa política. E como em toda disputa política, há alguns setores no governo, na imprensa, que vão fazer o jogo dos empresários.


quinta-feira, 9 de maio de 2013

Matéria sobe "Caro Francis", publicada em janeiro de 2010


Por conta do e-mail do Japs, mostrado no post anterior, fui procurar minha matéria sobre o lançamento do documentário "Caro Francis" na Tribuna de Indaiá. Pelos visto, não se preocuparam em colocá-lo na Internet, então faço isso eu mesmo, incluindo uma retranca

Documentário relembra o polemista Paulo Francis

Caro Francis, segundo Nelson Hoineff, é o resgate de uma dívida de gratidão com o amigo

Marcos Kimura

O diretor Nelson Hoineff durante o lançamento de "Caro Francis"
Quarta-feira (6 de janeiro de 2010), Reserva Cultural, na Avenida Paulista, onde na minha juventude funcionavam os cines Gazeta e Gazetinha. Pergunto ao diretor de Caro Francis, Nelson Hoineff, como ele via as criticas de que faltou isenção jornalística no seu documentário. “Não é para ser isento mesmo, é um trabalho a favor do Paulo Francis! É uma pequena forma de pagar uma grande dívida de gratidão que tenho com ele”, respondeu-me pouco antes da projeção. Finda a sessão e volto a abordá-lo, para parabenizá-lo e desmenti-lo: “Não concordo com você. Você ouviu todos os lados nas polêmicas abordadas no filme”.
Mas vamos ao começo. Por que é que o repórter de Cultura desta Tribuna dirigiu até São Paulo, debaixo de uma tempestade, só para ver a pré-estréia de um documentário? Pelo mesmo motivo de ter recebido mais ligações quando Paulo Francis morreu, em 1997, do que quando meu próprio pai faleceu, em 2002. Se não devo favores e gentilezas pessoais ao comentarista do Pasquim, Folha, Estado, Jornal da Globo e Manhattan Connection; graças a ele minha geração teve um guia de leitura para um jovem se considerar minimamente informado, como bem observou, certa vez, André Forastieri.
Voltando ao documentário em si: é verdade que, para contrapor às declarações de Caio Túlio Costa no episódio que levou á saída de Paulo Francis da Folha, Hoineff colocou Diogo Mainardi, cuja língua é mais venenosa que do seu mestre, mas sem a mesma graça. A polêmica é minimizada no livro oficial da Folha de S. Paulo sobre seu caderno de Cultura, Pós-Tudo, 50 anos de Cultura na Ilustrada, mas na época a discussão incendiou a mídia brasileira. A ida de Francis para o Estadão tornou o Caderno 2, óbvia imitação da Ilustrada, relevante. O filme de Hoineff resgata o caso e permite aos mais jovens lembrarem que Costa fez praticamente o mesmo com Paulo Henrique Amorim há uns dois anos no IG, só que aí uma posição de poder que ele não tinha na Folha.
Hoineff é um jornalista de formação que virou documentarista a partir do elogiado O Homem Pode Voar, sobre Alberto Santos Dumont. Ano passado ele emplacou Alo, Alo Terezinha, sobre Abelardo Barbosa, o Chacrinha e agora estréia Caro Francis, esta semana em São Paulo e na próxima, no Rio. Em rápida entrevista na saída do filme, o diretor disse que se fixou em alguns nós da carreira do amigo: seu início como critico de teatro (marcado por um mal-entendido com a atriz Tônia Carrero, no qual ele admitiu ter errado), sua participação no Pasquim (época em que foi preso com quase toda a diretoria do hebdomadário), sua entrada na Globo (depois de ter desancado Roberto Marinho anos a fio), a virada política de trostkista a fã de Roberto Campos, a já mencionada saída da Folha e o processo da Petrobrás que, segundo quase todos os amigos, acabou por matá-lo. Hoineff diz que o que mais o surpreendeu foram os testemunhos sobre a generosidade e demonstrações de amizade. “Eu achava que era só comigo”, conta. Perguntei qual exatamente sua dívida com Francis, e o cineasta citou vários casos em que o amigo usou seu prestígio pessoal para arrumar trabalho em diversos momentos difíceis, sem que lhe fosse solicitado. “Esse era o Francis que os amigos conheciam”. Desses, Hoineff disse que só não conseguiu falar com dois, Ivan Lessa, que mora em Londres e está com um problema de saúde; e Millor Fernandes, por problemas de agenda.
Vamos partir do princípio de que não existe documentário isento. O clássico Corações e Mentes já foi roteirizado a partir de uma posição contra a Guerra do Vietnã. O recente Uma Verdade Inconveniente, além de chato, é um catecismo com pouco ou nenhum espaço á contestação. E o que dizer de Michael Moore então? Hoineff faz a lição de casa e deu voz tanto para Caio Túlio quanto para Gustavo Krause, chamado por Francis de caipira antes de assumir o Ministério da Fazenda, e João Rennó, o ex-presidente da Petrobrás que processou o jornalista em US$ 100 milhões. No caso deste último, o diretor gravou uma ligação telefônica, uma vez que ele se recusou a conceder entrevista. Antiético, como escreveu Neusa Barbosa do Cineweb? Os telejornais globais fazem o mesmo cotidianamente.
É evidente que Francis foi irresponsável no episódio, que aconteceu em um dos Manhattan Connection, mas Rennó, ao invés de processá-lo como pessoa física por uma suposta calúnia pessoal, o fez usando todo o poder da estatal e tendo como fórum os Estados Unidos, o que não faz sentido, já que o programa só era transmitido para o Brasil. O depoimento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre o caso é hilário, em que ele revela ter aconselhado o então presidente da Petrobrás a recuar, mas pergunta pateticamente para o entrevistador se ele o fez. Pô, ele era o presidente da República! Curiosamente, a viúva Sonia Nolasco conta que FHC foi um dos primeiros a ligar quando Francis morreu.
Muito além do polemista televisivo, Paulo Francis conhecia história e política internacional como ninguém. Foi um dos poucos que previu que Margaret Thatcher cairia após um voto de desconfiança do Parlamento em 1990 e que o golpe contra Gorbatchev em 1991 não iria para a frente, quando muitos analistas previam uma longa guerra civil. Nas Artes, suas especialidades eram o teatro, a ópera e a literatura. Dizia que Irmãos Karamazov indispensável, mas que preferia arrancar um dente a frio do que reler certas passagens de Aliosha. Esse Francis que nos ensinou tanto infelizmente não está no filme. Mas permanece o personagem que divertia com seu texto único, suas opiniões idiossincráticas de que ríamos secretamente, quando chamava Itamar Franco de Shirley, por exemplo. Caro Francis é para quem lia religiosamente o Diário da Corte às quintas e sábado (depois domingo, no Estadão) e aguardava suas pílulas no Jornal da Globo. Não tem Diogo Mainardi, Arnaldo Jabor ou mesmo Daniel Piza que preencha o vazio que ele deixou.

Quem foi Paulo Francis

Hoje em dia temos que explicar desde o que era compacto simples até quem foi Paulo Francis. Afinal, estamos perto de completar 13 anos de sua morte. Como o próprio diretor do documentário "Caro Francis" disse, seu filme não é um documentário explicando quando ele nasceu, quem foi sua primeira professora, essas coisas, então vamos aos fatos importantes. Paulo Francis nasceu quando Franz Paulo Trannin da Matta Heilborn entrou para o Teatro do Estudante, dirigido por Paschoal Carlos Magno, que achava que esse nome germânico e aristocrático não dava certo no palco. Batizou-o de Paulo Francis, que mais mais tarde achou que o nome parecia de bailarino de teatro de revista Começou sua carreira na imprensa como crítico de teatro do Diário Carioca, onde se lançou no desafio de fazer resenhas isentas, sem levar em consideração igrejinhas e vacas sagradas. Depois, teve uma coluna política na Última Hora, quando aprofundou seu esquerdismo e apoiou a resistência de Leonel Brizola ao veto que o militares queriam impor ao vice de Jânio Quadros, João Goulart. Após o golpe de 64, fez parte da primeira turma do Pasquim, o semanário que revolucionou a linguagem jornalística, da qual fizeram parte Tarso de Castro, Jaguar, Ziraldo, Henfil, Millor Fernandes, Sérgio Cabral e tantos outros. Também escreveu para a Tribuna de Imprensa. No início dos anos 70 mudou-se para Nova York e passou a ser correspondente do próprio Pasquim, da Tribuna da Imprensa, da revista Status (a Playboy da época) e a partir de 1976, da Folha de S. Paulo, a convite de Cláudio Abramo. O Diário da Corte, uma página inteira com ilustração de Marisa, publicado às quintas e sábados, torna-se a coluna mais lida do jornal. Em 1980 passa ser comentarista do Jornal da Globo e se torna celebridade nacional, sendo imitado por humoristas como Chico Anysio e Hubert, do Casseta e Planeta. Em 1990, após a briga com o ombudsman Caio Túlio Costa, sai da Folha e vai para o concorrente O Estado de São Paulo. Em 1993, passa a fazer parte do time do Manhattan Connection, do canal pago GNT, no qual é a principal atração. É por causa de um comentário feito nesse programa, em 1997, que o então presidente da Petrobrás, João Rennó, decide processá-lo por calúnia numa ação de US$ 100 milhões, como foro em Nova York. Morreu de ataque cardíaco em 4 de fevereiro daquele ano.

Diálogo sobre Paulo Francis

Ontem recebi um e-mail do meu amigo José Antônio Pereira de Sousa, o Japs, economista formado pela FEA com quem, nos tempos de USP, compartilhava a paixão pelo jazz e livros. O motivo da conversa foi Paulo Fancis, por meio de quem ambos descobrimos em nossas respectivas províncias que não sabíamos nada e que havia um mundo de conhecimento além do que chegava ao Brasil do fim da ditadura. Segue o papo.

JapsResolvi fuçar a net sobre o Francis e me deparei com esta tese, li trechos, não é ruim (anexo). Tem pontos que  elucidam, por exemplo, não sabia que havia ido para NY com bolsa da Ford no início dos 70... o que deve ter sido o beijo da morte para as esquerdas. E tem este livro póstumo, Carne Viva, ignoro. Vc chegou a ver? Concordo com o autor que quando publicou 30 anos esta noite já estava na descendente... tentando recuperar o brilho fazendo graça na TV, morreu de fazer graça com a Petrobras, dizem... Acho que a principal contribuição do Francis ao "jornalismo brasileiro", o que quer que signifique esta besta acéfala foi, primeiro, a linguagem (aquela coisa que dizia copiar de Shaw, quatro palavras, uma vírgula, etc) e segundo, a janela para o mundo, mostrava sempre e fazia questão de esfregar na nossa cara o quanto somos (éramos ainda mais nos anos 80, quando começamos a ler jornal a sério) ignorantes e completamente marginais em relação à produção intelectual do resto do mundo. Continuamos muito assim. Ainda me assusto, acordando de noite suando e perplexo, pelo nível absolutamente chão de nossas elites burocráticas, especialmente as de Brasília, as elites "privadas" não diferem muito, só tem mais dinheiro e acesso a mulheres melhores e mais perfumadas.... O projeto literário, ficcional, dele, nunca entendi direito porque sou incapaz de entender ficção direito, me falta alguma mola ou parafuso, imagino. De qualquer forma, não me interesso, ainda que faça a ressalva que "O Afeto" foi um dos livros fundamentais para minha formação, ao mostras o tamanho estúpido da minha ignorância e falta de referências...o outro,claro, foi Human Condition da Arendt, com a interpretação tripartite do humano, mas divago. Francis começou a morrer com a chegada do jornalismo "científico", ombudsman e quetais, sem falar no japa Suzuki com computador "comentando" a copa bosta de 94. Tem um livrinho do Francis, "Paulo Francis - uma coletânea de seus melhores textos já publicados" onde por sinal, ele mete o pau, of all people, no Nelson Rodrigues, analfabeto, critica Bertrand Russell sem razão, etc, etc. Mas Nelson, assim como Lacerda (no pouquíssimo que li, o Cão Negro) escrevia formidavelmente claro para uma língua travada e pedante como a nossa, e talvez na crítica viesse um pouco de inveja. Enfim, a TV matou Francis, não a Petrobras, nem ninguém... suicídio induzido pela TV, embora fosse um suicídio supremamente engraçado de se assistir, que é o papel da tv, não?

Kimura - Não, não li Carne Viva. Em compensação, fui à pré-estréia de "Caro Francis" em São Paulo e conversei rapidamente com o diretor Nelson Hoineff. Escrevi um textículo para o jornal para o qual escrevia então - e do qual fui defenestrado há um ano - e envio anexo. 
O infame André Forestieri (Lembra dele? Era amigo da Suzanona, que remava) disse que Francis foi o grande guia literário de nossa geração. Pessoalmente, além disso, fiz diversos amigos por causa dele, entre eles voce mesmo e o Paulão que hoje está em Portugal. De todos, fui o único que permaneceu seu leitor quando de sua guinada à direita, e é justamente isso que o torna relevante para muitos hoje em dia. A coletânea Diário da Corte - que eu, obviamente comprei - tem posfacio de Luiz Felipe Pondé, um dos queridinhos da nova direita. Ele faz um link entre Francis e a agenda Veja que predomina na imprensa tupiniquim. Francis cagaria em todos, mesmo concordando em malhar o governo do PT. Mas ele ele saberia a diferença entre a tentativa de controle do Estado pelo partido que foi o mensalão e a roubalheira pura e simples que constituiram os escândalos Collor, Anões do orçamento, Máfia das Ambulâncias e outros. Sem falar nas privatizações tucanas.
Mas voltando às suas considerações, se a TV o matou foi por ter inflado sua soberba na bancada do Manhattan Conection, em que ele era a figura dominante e na época parecia provar a possibilidade de vida inteligente na televisão, mesmo a fechada. Um processo de Rennó no Brasil bem poderia ser "segurado" pela Globo - como me contaram que a Abril fez por Diogo Mainardi anos a fio - mas nos EUA, o negócio era diferente. E o filha da puta ainda usou do poder da Petrobrás num processo de calúnia que era pessoal, e não contra a empresa, da qual ele falava coisa muito pior. Mesmo que sobrevivesse àquele enfarte, dificilmente chegaria aos dias de hoje, quando teria 82 anos. Muito mais provável que a eleição de Lula em 2001 o matasse.

Japs - Estou pior do que vc: nem li Carne Viva nem tampouco assisti "Caro Francis" (que, descubro neste momento, tem no YouTube, fiquei alheio a algumas tecnologias, waallll...e preciso mesmo fazer a p... do FB, mesmo que seja um Fakebook). 
Da fato, numa era pré-computador e com os livros, nacionais e importados caríssimos que nos vendiam, nossa geração dependia literariamente de bibliotecas (pouquíssimas, mas uma das poucas lembranças acadêmicas queridas que guardo da USP), contatos no exterior e na burritzia local (impossível não lembrar da biblioteca do Ilana) e jornalismo. Na ausência dos primeiros, sobrava o Francis, em doses na Folha. Na época da guinada à direita eu já não lia mais o Francis, e como demorei a ter TV a cabo, perdi grande parte dos programas. Mas permaneceu a contribuição dos livros e crônicas, quando li "O Afeto", início dos anos 80, tinha largado a Poli e vagabundeava em Minas. Trinta anos esta tarde. Li aquilo e pensei imediatamente, pqp, estou num estágio pouco além do Cro-Magnon, lia e relia tentando captar as referências que saltavam dos parágrafos...era referência literária no sentido amplo, literatura, poesia, ensaio, biografia (nunca deixei passar nenhuma boa biografia vitoriana depois disso).
Gostei de seu texto, melhorou a antiga verve, Mainardis, Jabors e Pizas não se comparam. Francis aos 82, malhando o governo PT e apoplético com a reconhecimento do Lula, tripudiaria dos três. 
Leia partes da tese; tem coisas interessantes, por exemplo, o texto original da polêmica com a Tônia Carrero, etc. Sem falar nos resumos dos livros, que têm, sim, enredos meio conturbados. Me ocorreram duas coisas: o Francis como ficcionista não foi nota 10, mas talvez um dia alguém o transforme em personagem de ficção, e aí, sim, poderíamos ter algo nota 10...e por fim, está faltando uma análise do Francis e da importância para a formação intelectual da geração dele, da Revolução Russa, acho  o fim da URSS, já caquética, teve muito a ver com a tal guindada política (culturalmente é outra coisa). O famoso ensaio que ele dizia ter escrito sobre a Revolução estará também entre as peças da biblioteca com a viúva?
Abração e vamos nos falando.
JAPS

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Aliens do outro mundo no cinema e TV (Repostagem)

Uma garota linda e nua caminha pela cidade exalando feromônios - como se precisasse - e atraindo machos incautos para matá-los, seja por necessidade de reprodução, seja pelo alimento. Se você se lembrou de "A Experiência" (1995), filme que revelou em todos os sentidos a bela Natasha Henstrindge ("Meu Amigo Mafioso"), está certo em parte, Dez anos antes, um obscuro filme de Tobe Hopper ("O Massacre da Serra Elétrica", "Poltergeist") e roteiro de Dan O´Bannon ("Alien") chamado "Força Sinistra" tinha um ponto de partida semelhante, com a diferença de que a bela ET era uma vampira espacial e não uma experiência genética misturando DNA humano e alienígena. Aí fiquei lembrando de outras beldades do espaço exterior que fizeram a alegria de gerações de cuecas, seja no escurinho do cinema e na sala de TV. Talvez tenha sido inspirado por um artigo de Marcelo Gleiser, na Folha de S. Paulo, em que ele afirma que, se existir vida em outros planetas, será muito rara. De toda a forma as beldades listadas são artigos escassos mesmo aqui, na terceira rocha a partir do Sol. 

Cavalos de Tróia

Garota Marciana de Marte Ataca! (1996) - Lisa Marie. Muitos diretores acabam se casando ou tendo um caso com atrizes que dirigem. Tim Burton é um desses, mas guarda ainda uma tara em vestir suas amadas com as fantasias mais loucas. Lisa Marie foi sua amante e musa por nove anos, de 1992 a 2001. Dona de um corpo digno de ser esculpido em mármore e talento dramático igualmente merecedor de adjetivos minerais, não restou ao namorido-diretor escalá-la para papéis sem muitas falas. Foram quatro, como Vampira em "Ed Wood", como a mãe de Johnny Depp em "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça" e o último - de sua carreira cinematográfica também - uma rápida participação em "Planeta dos Macacos", provavelmente quando Burton já estava se engraçando com a atriz principal, Helena Boohan-Carter, que mesmo fantasiada de macaco é dezenas de vezes mais talentosa que Miss Lisa. Mas foi em "Marte Ataca!" que ela brilhou como a marciana gostosa que faz o primeiro contato com os humanos antes dos alienígenas mostrarem suas verdadeiras intenções. Como em "Força Sinistra" e "A Experiência", era um cavalo de tróia com curvas e cabelo sedoso. 



Sil de A Experiência (1995) e Eve de A Experiência 2 (1998) e 3 (2004) - Natasha Henstringe. A loira não era exatamente uma modelo famosa quando foi escalada para "A Experiência", mas o filme a tornou uma celebridade instantânea. Ela agarrou a chance e fez uma carreira interessante, contracenando com atores importantes, estrelando seu próprio seriado, "As Espiãs" e fazendo filme até no Brasil, se bem que não sei se isso favorece seu currículo. Mas todo mundo se lembra é dela nua como a bela e mortal Sil, resultado de uma experiência genética que misturou o DNA humano a uma seqüência genética recebida por meio de radiotelescópios. O resultado aparente é uma fêmea superforte e de crescimento acelerado, que ao chegar á idade fértil se revela mortal e foge do laboratório quando os cientistas tentam eliminá-la. O responsável pela experiência, Xavier Fitch (Ben Kingsley, Oscar por "Gandhi") reúne um grupo de especialista para caçá-la, formado por Preston "Pres" Lennox (Michael Madsen de "Cães de Aluguel"), o sensitivo Dan Smithson (Forrest Withaker, Oscar por "O Último Rei da Escócia") e os cientistas Laura Baker (Marg Helgenberger de "CSI -Las Vegas" e Alfred Molina de "Homem-Aranha 2"). Enquanto isso, Sil percorre a cidade movida pelo instinto de reprodução, ainda que isso custe a vida de vários machos.



Vampira espacial de "Força Sinistra" (1985) - Mathilda May. Esse eu assisti numa certa noite na TV, acho que numa sessão de sábado tipo Supercine. Foi o filme de maior orçamento da produtora Cannon Pictures - mais conhecida por cometer incontáveis abacaxis estrelados por Chuck Norris e Charles Bronson. Pois um dia a dupla que comandava a bagaça, Yoran Globus e Menahen Golan, de quem se falava à boca pequena que lavavam grana da Máfia, resolveu deixar de ser o patinho fio da indústria e fazer uma produção de classe. Eles tinham os direitos do romance "Vampiros do Espaço", que já tinha originado um filme B em 76, e queriam fazê-lo em grande estilo. Escalaram Tobe Hopper - na época por cima da carne-seca por conta do sucesso de "Poltergeist" - ; o roteirista Dan O'Bannon, que tinha roteirizado há pouco "Alien - o 8o Passageiro"; e o especialista em efeitos especial John Dykstra, que oito anos antes havia espantado o mundo com "Guerra nas Estrelas". É mole ou quer mais? Pois a dupla israelense ainda queria John Gielgud, Klaus Kinski e Olivia Hussey para estrelar o filme, só que o trio caiu fora, provavelmente depois de saber que a proposta vinha da Cannon. Ficaram mesmo com Frank Finlay, Peter Firth e Mathilda May no lugar. Com orçamento de US$ 25 milhões, "Força Sinistra" rendeu nos cinemas americanos míseros US$ 11,701 mil, um fracasso retumbante que caiu sobre a cabeça da maioria dos envolvidos. Menos de Dykstra, cujos efeitos foram considerados o que de melhor já havia sido feito até então; O'Bannon, que nunca se prendeu mesmo à indústria, e Mathilda, que é unanimimente considerada a melhor coisa do filme, mesmo hoje em dia. A visão dela andando pelada por Londres, seduzinho e sugando a energia vital (Lifeforce do título original) dos incautos só teve paralelo para mim, na TV aberta, a Luma de Oliveira desfilando de topless no Carnaval de 1987. Os seios perfeitos da francesa protagonizariam ainda "A Teta e a Lua", do espanhol Bigas Luna, e a beleza já madura da atriz apareceria em "O Chacal", como a ex-namorada de Richard Gere.



As tenentes de Star Trek 



Illia de Jornada nas Estrelas O Filme (1979) - Persis Khambatta. Muito antes de Sinéad O'Connor, Carolina Dieckman e Britney Spears, a atriz indiana Persis Khambatta já raspara o cabelo para aparecer na mídia, no caso, o primeiro longa-metragem reunindo personagens e elenco do seriado "Jornada nas Estrelas". O filme foi viabilizado pelo sucesso de "Star Wars", mas foi relativamente um fracasso e a franquia só "pegaria" no segundo, o já clássico "A Vingança de Khan". Da produção que originou a franquia de dez (10!) filmes, restou a lembrança da bela e exótica Persis - Miss India 1965 - no papel de Ilia, uma deltaniana que assumiu o posto de navegadora da Enterprise mas que é abduzida pela gigantesca nuvem artificial que ameaça a Terra. Ela é substituída por uma versão robótica que se torna porta voz da entidade por trás do fenômeno. Na foto, Persis com o canastríssimo Stephen Collins, o capitão William Decker, que mantinha um romance com a bela e calva Illia. Infelizmente a carreira da indiana não decolou e ela morreu precocemente de ataque cardíaco há 10 anos, com apenas 47 anos.



Jadzia Dax de Star Trek Deep Space Nine (1993-1998) - Terry Farrell. quase todo mundo na Estação Espacial 9 era apaixonado pela tenente Jadzia Dax, menos o capitão Sisko, para quem a bela moça era seu velho amigo e mentor Curzon Dax. Isso porque a espécie trill costuma ser hospedeiro de um simbionte milenar com quem divide emoções e memórias. A única diferença física entre eles e os humanos, ao menos externamente eram manchas que deixavam livre estrategicamente o rosto. Meiga, serena e simpática, além de linda, Jadzia acabou se casando com o klingon Dorf, personagem da tripulação original de "Jornada nas Estrelas A Nova Geração", mas acabou morrendo na penúltima temporada porque Terry arranjou emprego em outro seriado, o sitcom "Becker". Na foto, uma rara ocasião em que a trill não vestia o uniforme da federação abotoado até o pescoço.



T'Pol de Enterprise (2001-2005) - Jolene Blalock. Muitas vulcanas sexies já passaram pelo universo "Star Trek", como a noiva de Spok - T'Pring - no clássico episódio "Ciclo de Amok"; e as tenentes Saavik e Valeris - nos filmes "Jornada nas Estrelas 2 e 6" - vividas pelas posteriormente famosas Kristie Alley ("Olha quem está falando", Veronica's Closet") e Kim Catrall ("Sex and the City"). Mas nenhuma foi tão ostensivamente sensual quanto T'Pol de "Enterprise", o último seriado baseado na imaginação de Gene Roddenberry a ir ao ar. Talvez tenha sido o seriado "Star Trek" mais fraco mas com a oficial vulcana mais quente.

As robóticas



Sete de Nove de Star Trek Voyager (1997-2001) - Jeri Ryan. Ela é uma borg resgatada pela Voyager e que passou a fazer parte da tripulação da nave como uma espécie de oficial de ciências. Seu recrutamento aconteceu na segunda temporada, quando os executivos acharam que a audiência estava caindo e uma bela mulher numa roupa colante ajudaria. Funcionou: "Star Trek-Voyager' durou mais três temporadas e Sete de Nove foi uma das personagens mais marcantes. Jeri participou do elenco fixo de mais tres seriados - "Boston Public", "Shark" e atualmente em "Body of Proof" - mas é como a fria e sexy borg regenerada que a maioria se lembra dela. 



Número 6 de Battlestar Gallactica (2004 -2009)- Tricia Helfer. Trata-se do modelo seis de andróides cyclons identicos aos humanos, especializado em se infiltrar entre eles por maio da sedução. Um deles tem papel crucial no ataque que destrói as 12 colônias e dá início á saga da galactica e a busca da colonia perdida. Para fazer a andróide linda, loira e sexy foi escalada a supermodel canadense Tricia Helfer, fantasia sexual favorita de Howard nas primeiras temporadas de "The Big Bang Theory". O vestido vermelho é item de fábrica do modelo Número 6.

Bela e mimada



Princesa Aura de Flash Gordon (1980) - Ornella Muti. Naquela época, ninguém conhecia direito aquela jovem atriz italiana escalada por Dino de Laurentiis para sua superprodução espacial. A moda havia sido lançada três anos antes por "Guerra nas Estrelas" mas o roteiro e direção não se decidiam entre o novo estilo visual lançado por George Lucas ou as referências do antigo seriado dos anos 30. Não foi uma coisa nem outra e com ajuda de um elenco danado de mal-escalado, começando pelo canastrão Sam J. Jones no papel-título (inacreditavelmente, ele ainda faria outro personagem clássico das HQs, The Spirit), a insossa Melody Anderson com Dale Arden e o bergmaniano Max Von Sydow como Imperador Ming, "Flash Gordon" foi um destre tão grande quanto uma colisão de planetas. O único acerto foi Ornella, cujo derriére mereceu elogios de Ivan Lessa em sua resenha no Pasquim, como a única coisa que se salvava em "Flash Gordon". Ainda mais quando ela está sendo torturada por ter ajudado Flash a escapar e o algoz ordena: "Tragam os vermes perfurantes!" "Não"! Os vemes perfurantes, não!" Isso foi antes dela perfurar as bochechas com um alfinete de segurança em "Crônica do Amor Louco". Como diria Ben Gazzarra nesse mesmo filme, num momento romântico na janela com Ornella: "Love..." 


A perfeição 



Leelo, de "O Quinto Elemento" (1998) - Milla Jovovich. Outro caso de pigmalianismo, só que desta vez deu certo. Milla Jovovich vinha tentando se acertar no cinema já há alguns anos, inclusive fazendo ponta em "Chaplin" e refilmando "A Lagoa Azul" numa versão pior que a de Brooke Shields. Quando Luc Besson a escalou para viver Leelo em "O Quinto Elemento" o sucesso veio para ficar. Casou-se com o cineasta francês, mas relação que começou num filme acabou no outro, "Joana D'Arc", em que a desgastante relação diretor-atriz do set contaminou o romance fora dele e lá se foi o casamento. Ela acabou se arrumando com outro diretor, Paul S. Anderson, da trilogia "Resident Evil" estrelada por ela. "O Quinto Elemento" é uma divertida mistura de histórias em quadrinhos de Moebius, Richard Corben, Enk Bilal e a trilogia "Duro de Matar". A extraterrestre Leelo é enviada à Terra com o segredo que pode salvar o planeta de uma hecatombe galática. Para realizar sua tarefa ela conta com ajuda do taxista Korben Dallas (Bruce Willis) e do padre Vito Cornelius (Ian Holm), para quem ela encarna a perfeição, no que Bruce concorda, mas em outros sentido. Milla, que já era modelo desde os 12 anos e sabe muito bem o que fazer com o belo corpo, se sai bem nas tiradas humorísticas e nas cenas de ação. Tanto é que ela é uma das raras atrizes que viraram action heroines do cinema. 

Duas vezes extraterrestre

Kara, a Supergirl, em "Smallville" (2007 a 2011) e Lisa, de "V: Visitantes"(2009-2011) - Laura Vandervoort. Com essa carinha de all american girl, a canadense Laura Vandervoort foi escalada duas vezes para papéis de alienígenas. A primeira vez, como Kara, prima kriptoniana de Kal-El, ou Clark Kent, ou Superman, no cult-seriado "Smallville"; a segunda vez como Lisa, no remake de curta vida de "V". 

Inara Serra, do seriado "Firefly" (2002-2003) e do filme "Serenity" (2005), e Anna, de "V: Visitantes" (2009-2011) - Morena Baccarin: Uma das mulheres mais bonitas em ação na TV americana, Morena Baccarin é carioca da gema, filha da atriz brasileira Vera Setta, e se mudou para os EUA aos 10 anos.  Como a sacerdotisa do prazer Inara, fez parte do cult "Firefly", de Joss Whedon, que deixou saudades em muitos nerds, e reviveu o papel no longa "Serenity: a Luta pelo amanhã". Mas para o grande público ela chamou mesmo atenção como Anna, a líder dos ETs de "V: Visitantes", que fez sucesso na primeira temporada, mas afundou na segunda. Atualmente ela é a Jessica Brody do premiado "Homeland". como esposa do fuzileiro-terrorista arrependido vivido por Damian Lewis.