segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Oscar 2015 - acertamos o que importava

Sean Penn anunciando "Birdman" como Melhor Filme: "quem eu  o
Greencard pra esses caras?" 
Mais uma premiação da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood, o popular Oscar, foi realizada ontem, dia 22,fazendo com que cerca de 1 bilhão de pessoas sintonizassem o show na TV em 24 fusos horários diferentes. Nenhum outro evento do gênero desperta tanto interesse global, nenhuma láurea é tão reconhecida, fora o Nobel.Eo Conversa de Botequim On Line acertou no que importava (clique aqui)!

No entanto, esse espetáculo cheio de pompa e circunstância não deixa de ser o que foi desde o começo: uma festa paroquial de autocongratulação da indústria de cinema americano.  É como chamar o jogo final entre os campeões das duas ligas nacionais de World Series, mas como no beisebol, os latinos já andam desbancando os donos da casa. Alfonso Cuarón no ano passado e Alejandro Iñarritu este ano marcaram o bi dos diretores mexicanos. Arriba!

Mas não se trata de escolher os “melhores”, mas o que os “acadêmicos” consideram importante no momento. Ou uma execução de projeto extraordinária. Isso explica a ocasional esquizofrenia de dar o Oscar de melhor filme para um e melhor direção para outro, como no ano passado, quando “12 anos de escravidão” ganhou o primeiro e Alfonso Cuarón o segundo, por “Gravidade”. Não vamos subestimar também o preconceito ianque: alguns poucos negros já ganharam como intérpretes, mas como diretores – um cargo executivo – é outra história. Lembremo-nos de 10 anos atrás, quando o rotineiro “Crash – No limite” deixou para trás o muito melhor “Brockeback Mountain”, restando a Ang Lee o prêmio de Diretor.

"Birdman" recebeu três dos cinco prêmios principais, portanto, independente
do total é o gane vencedor da noite
Isso não aconteceu este ano, com “Birdman” vencendo em Filme, Direção e Roteiro Original, tendo como única derrota significativa na categoria Ator, com Eddie Redmayne (“A Teoria de Tudo”) batendo Michael Keaton, em sua chance de ouro. Pessoalmente achei “Teoria de Tudo” fraco e condescendente, e a atuação de Redmayne, um nome em ascensão, inferior à de Keaton e Benedict Cumberbatch (este, sim, vai ter outras oportunidades). Mas a Academia não resiste a um handcap.
O premio para Julianne Moore, também por um trabalho sobre deficiência, foi a grande chance para uma atriz respeitada que nunca havia levado um premio de cinema importante em seu país, mesmo já tendo vencido em Cannes, Berlim e Veneza. Com “Para sempre Alice” levou o Oscar, o Globo de Ouro e o Sindicato dos Atores. Pena para Rosamund Pike, uma atriz que sempre se destacou pela beleza fria (Hitchcock faria horrores com ela) e que teve em “Garota Exemplar” o papel de sua vida.

Entre os coadjuvantes, J.K. Simmons, um coadjuvante veterano querido por todos, era uma barbada por “Whiplash” (que erá exibido amanhã, dia 23, no Cineclube Indaiatuba); e Patricia Arquette, era favorita por ter carregado o projeto “Boyhood” em cena. Se não pela atuação – que achei parecida da mãe-vidente de “Medium” – valeu pelo seu discurso feminista ao receber sua estatueta. Tão importante quanto o de Emma Watson na ONU, o que não deixa de ser triste, em pleno século XXI.

Common e John Legend com seu Oscar pela canção "Glory":
prêmio de consolação para "Selma" 
O show em si foi um dos melhores dos últimos anos, com um ótimo número de abertura e algumas apresentações marcantes, como o de Commom e John Legend interpretando “Glory” imediatamente antes de receberem o premio de Melhor Canção-Consolação pelo filme “Selma”; e Lady Gaga cantando um medley de “Noviça Rebelde”, na homenagem pelos 50 anos do musical que bateu “...E o Vento levou” nas bilheterias. Quem poderia pensar em alguém mais surpreendente para fazer um cover de Julie Andrews?

Lady Gaga foi meme no Red Carpet, mas se redimiu na hora de cantar
Na categoria Longa de Animação, um dos prêmios mais recentes e que já foi mais relevante, “Operação Big Hero” deu o bi à Disney, enquanto o mestre Hayao Miyazaki se aposenta e a Pixar vive seu período sabático.


Em Documentário de Longa-Metragem, o teuto-brasileiro “O Sal da Terra”, sobre Sebastião Salgado, dirigido por seu filho Juliano e por Wim Wenders, perdeu para “Citzenfour”, sobre Edward Snowden. O polonês “Ida” deu o primeiro Oscar ao seu país, batendo o argentino “Relatos Selvagens” e “Timbuktu”, que Inácio Araújo considerou o melhor filme de toda a seleção deste ano. 

sábado, 21 de fevereiro de 2015

And the Oscar goes to...

Amanhã acontece mais uma cerimônia de premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, mais conhecido como Oscar. No Brasil, a maior festa do cinema pode ser visto pelo canal pago TNT a partir das 20h30 e na Globo só depois do Big Brother Brasil, lá pelas 23h45.

Michael Keaton em "Birdman"
No páreo principal estão “Birdman (ou a Inesperada virtude da ignorância)”, “Boyhood – da Infância à Juventude”, “O Grande Hotel Budapeste”, “O Jogo da Imitação”, “A Teoria de Tudo”, “Whiplash: Em busca da perfeição”, "Selma" e “Foxcatcher: Uma história que chocou o mundo”. Concorrendo a melhor diretor estão Alejandro González Inárritu (“Birdman”), Richard Linklater (“Boyhood”), Bennet Miller (“Foxcatcher”), Wes Anderson (“Grande Hotel Budapeste”) e Morten Tyldum (“O Jogo da Imitação”). Os atores principais indicados são Eddie Redmayne (“A Teoria de Tudo”), Michael Keaton (“Birdman”), Bennedict  Cumberbatch (“O Jogo da Imitação”), Steve Carrell (“Foxcatcher”) e Bradley Cooper (“Sniper Americano”). As atrizes principais são Julianne Moore (“Para sempre Alice”), Felicity Jones (“A Teoria de Tudo”), Marion Cottilard (“Dois dias, uma noite”), Rosamund Pike (“Garota exemplar”) e Reese Witherspoon (“Livre”). A disputa para ator coadjuvante está entre J.K. Simmons (“Whiplash”), Robert Duvall (“O Juiz”), Ethan Hawke (“Boyhood”), Edward Norton (“Birdman”) e Mark Ruffalo (“Foxcatcher”). As indicadas a atrizes coadjuvantes são Patricia Arquette (“Boyhood”), Laura Dern (“Livre”), Keira Knightley ("O Jogo da Imitação”), Meryl Streep (“Caminhos da floresta”) e Emma Stone (“Birdman”). Vamos nos focar nesses, que são os de maior interesse geral.

As mudanças ao longo de 12 anos em Boyhood
Eu já ordenei em primeiro de cada lista os favoritos, que não o são por serem necessariamente melhores, mas pelas chances. O Oscar não é concedido pelo mérito artístico, mas pelo que os votantes da Academia consideram ser meritório. Pelos meus anos de janela, o premio fica entre “Boyhood” e “Birdman”, pela ótima execução de seus projetos complicados. Os acadêmicos são, em geral, profissionais de cinema, então como não se impressionar com um filme feito ao longo de 12 anos e outro que simula uma gigantesco plano-seqüência. E os dois são mesmo os melhores da lista, que poderia incluir ainda “O Grande Hotel Budapeste”, mas vai ser difícil. Em geral, filme e diretor ganham juntos, e é o que deve acontecer este ano, ao contrário de 2014, quando “12 anos de escravidão” foi o melhor filme e Alfonso Cuarón foi melhor diretor por “Gravidade” (justamente pela dificuldade do projeto, ainda que tenha resultado num longa mais ou menos).
Eddie Redmayne em "A Teoria de Tudo"

Entre os atores, a disputa é entre Michael Keaton e Eddie Redmayne, com ligeira vantagem para o segundo. Atuações físicas como a do inglês em geral prevalecem na Academia, sem falar que é sempre mais interessante valorizar um jovem talento a premiar um veterano que teve o papel de sua vida, mas de quem não se espera muito no futuro. A primeira vez que notei Redmayne foi na minissérie "O Pilares da Terra" (que tinha ainda a Agent Carter Halley Atwell) e de lá para cá sua ascensão foi meteórica. A atuação de Cumberbatch e, como sempre, impressionante, mas deve ficar para uma próxima vez.
Julianne Moore, barbada com "Para sempre Alice"
A estatueta de atriz principal é uma barbada. Julianne Moore ganhou tudo até agora, é uma intérprete respeitada por todos e só tem um Urso de Prata de Berlim como premio significativo no cinema (tem cinco indicações ao Oscar).  Azar de Rosamund Pike, que teve o papel de sua vida em “Garota Exemplar”, mas dificilmente leva.
Entre os coadjuvantes, J.K. Simmons é a barbada entre os homens (também ganhou tudo e é um veterano querido entre seus pares) e Patricia Arquette é a favorita entre as mulheres, mesmo parecendo ainda estar no seriado “Medium”.  Achei Emma Stone em “Birdman” melhor, mas acho que deve dar Patricia mesmo.


O sensacional "Relatos selvagens, que pode marcar 3 a O
da Argentina contra o Brasil no Oscar
Os dois principais concorrentes a melhor Filme disputam também Roteiro Original, e quem levar aqui deve ganhar também o grande premio. Há ainda algum interesse em Filme de Animação, mas não tenho a menor idaia de quem leva, e Filme em Lingua Não-Inglesa, que tem entre os indicados o argentino “Relatos selvagens”. Se ganhar, será a terceira vez que los hermanos ganham o Oscar, contra nenhuma do Brasil.