terça-feira, 12 de agosto de 2014

O legado de Robin Williams

Quando Robin Williams virou polêmica ao ironizar a vitória do Rio de Janeiro sobre Chicago na disputa pelos Jogos Olímpicos de 2016, dizendo que a eleição se devia às 50 strippers e ao meio quilo de pó enviadas pela delegação brasileira ao Comitê Olímpico (piada pouco mais agressiva que os dois episódio dos Simpsons ambientados aqui), o que me veio à lembrança foi ator que muitas vezes deixava sua verve histriônica ofuscar seu papel e cujo único  sucesso nos anos recentes era como coadjuvante de Ben Stiller na franquia “Uma Noite no Museu”.

No entanto, após o anúncio de sua morte ontem, dia 11, o que nos vem à lembrança são os inúmeros trabalhos inesquecíveis do ator. Poucos podem se orgulhar de um currículo desses.
Após o início de carreira no cinema desastroso com “Poppeye” (1980), dirigido por um improvável Robert Alrman, Williams fez alguns filmes que chamaram a atenção como “O Mundo Segundo Garp” (1982), “Moscou em Nova York” (1984) e “Clube Paraíso (1986). Ele também havia emplacado uma popular sitcom na TV chamado “Morky & Mindy”, que nunca foi exibido no Brasil.

Se o talento já era reconhecido pela crítica, ele se tornou conhecido pelo grande público a partir de “Bom dia, Vietnã” (1987) com seu famoso bordão “Goood morning, Vietnam” (que lhe deu a primeira indicação ao Oscar); e dois anos depois com “Sociedade dos Poetas Mortos (1989), sua segunda indicação ao Prêmio da Academia de melhor Ator, apesar da pedagogia duvidosa defendida no roteiro. Em 1990, em “Tempo de Despertar”, ajudou Robert De Niro a obter sua primeira indicação desde o Oscar de “Touro Indomável”.

Com o belo “Pescador de Ilusões”, de 1991, vem a terceira indicação á estatueta dourada. Nesse momento Williams já estava entre os principais nomes da indústria, a ponto de Steven Spielberg escalá-lo para o dream team de seu ambicioso – e fracassado – “Hook, a Volta do Capitão Gancho”, também de 1991. Se a superprodução afundou, o mesmo não se pode dizer de seu Peter Pan, cujo intérprete caiu como uma luva fazendo o menino que se liberta do corpo do adulto careta. 

No ano seguinte, veio mais um marco na carreira, ao fazer a voz do Gênio de “Aladdin”.A introdução do personagem, em que Williams imita inúmeras celebridades e diversos sotaques como uma metralhadora de gags (abaixo).


 iniciou a tendência de se contratar atores consagrados para dar voz a personagens de animações da Disney – que também foi seguido pela Pixar – do outro abriu as comportas do histrionismo de Williams, que a partir daí passou a improvisar mais do que interpretar. O megasucesso de “Uma babá quase perfeita” marcou o auge da popularidade.

Em 1995, mais dois grandes sucessos, “Jumanji”, um clássico da Sessão da Tarde, e “Gaiola das Loucas”, em que ele resuma a dança americana em cinco segundo ao aspirante a bailarino-bofe (abaixo).


Em 1997, trabalha com Woody Allen em “Desconstruindo Harry” e contribui para que “Gênio Indomável” coloque a dupla Matt Damon e Bem Affleck no mapa de Hollywood, levando, de quebra o tão ambicionado Oscar (de Ator Coadjuvante). Sua atuação em “Patch Adams, o Amor Contagia”, no ano seguinte, contribui, no mínimo, para que os Doutores da Alegria se multipliquem no diversos hospitais de tratamento de câncer infantil. “Amor Além da Vida” deve ser o trabalho que seus fãs espíritas lembraram no dia de ontem.

Após a consagração do premio da Academia, sua carreira parece entrar no mais do mesmo. Em 1999 tenta repetir “A vida é bela” com “Um sinal de esperança” e se repete em “O Homem Bicentenário”. Tenta se reinventar como psicopata em dois bons trabalhos, “Retratos de uma Obsessão” e “Insônia” (2002), que poucos viram.
A partir de então, como dissemos na abertura deste texto, suas atuações mais lembradas são como o Ted Roosevelt nos dois “Uma Noite no Museu” e usando apenas a voz em “Happy Feet”.

Aos 63 anos, não tão velho para um comediante, ainda poderia oferecer muito ao seu público. Pena que não houve tempo.