terça-feira, 8 de março de 2016

Filmes para assistir no Dia Internacional da Mulher

Marcos Kimura

Em janeiro, o Cineclube Indaiatuba exibiu “As Sufragistas”, de Sara Gravon, que bateu o recorde de público em 10 anos de atividade dessa sessão especial dos cines Topázio. É interessante também notar que o recorde anterior era do filme “A Separação”, que embora não tratasse diretamente do feminismo, abordava os papéis de homem e mulher na família numa sociedade regrada por uma doutrina religiosa patriarcal. Pensando em como o Cinema contribui para uma reflexão a respeito, fiz uma listinha de filmes que abordam o assunto com talento, relevância e sensibilidade.

Para começar, o próprio “As Sufragistas”, que opta por mostrar o movimento pelo voto feminino na Inglaterra do início do século XX do ponto de vista de uma mulher comum, e não de suas líderes ou da organização como um todo. O resultado é um retrato dos preconceitos, sacrifícios e luta pelos quais as militantes tinha que passar em uma jornada que só seria vitoriosa muitos anos depois.  Atuações pungentes de um elenco encabeçado por Carey Mulligan, Helena Boohan-Carter e participação afetuosa de Meryl Streep ajudam muito a direção sensível, mas convencional de Sarah Gravon.

Outro filme exibido pelo Cineclube Indaiatuba sobre o tema é o libanês “E agora, onde vamos?”, da diretora e atriz Nadine Labaki, que ganhou notoriedade internacional a parti de “Caramelo”, também exibido no Cineclube. Ambientado numa pequena pequena aldeia que tem como ligação com o resto do país uma pequena ponte, o filme já começa com um cortejo fúnebre de mulheres no cemitério local, prestando homenagem a filhos, irmãos, maridos e outros parentes mortos na interminável guerra civil entre cristão e muçulmanos. Unidas na dor, na saída elas se separam, cada grupo indo para seu lado da cidade. Decididas a acabar com o morticínio, elas acabam usando diversos subterfúgios para distrair os homens da ideia de vingança, desde interrompendo o sinal da TV para que não vejam o noticiário até patrocinar um grupo de belas estrangeiras perdidas nos rincões do Líbano. Embora tenha seus momentos engraçados, o longa destaca que, em todos os conflitos, a mulher é sempre quem enterra e chora os mortos.

Também exibido pelo Cineclube Indaiatuba e igualmente de uma mulher árabe, Haifaa Al-Mansour, “O Sonho de Wadjda” é também o primeiro filme oficialmente realizado na Arábia Saudita. Ele acompanha a adolescente do título, que gosta de brincar com os garotos e que sonha em comprar uma bicicleta que viu numa loja do bairro. Só que além de não ter o dinheiro, andar de bicicleta é algo proibido às mulheres em seu país. Ao mesmo tempo, a mãe enfrenta problemas oriundos da sociedade machista e acaba se comovendo com a luta da filha pelo seu singelo sonho. O que amplia o interesse sobre este trabalho é que não se trata da ótica etnocentrista ocidental, mas de uma mulher inserida nessa sociedade, e que conseguiu fazer um filme muito bom sem apelar para saídas fáceis.

Tomara que seja mulher” é um clássico dos anos 80, o único da lista dirigido por um homem, o grande Mario Monicelli, com um elenco de estrelas: Catherine Deneuve, Liv Ullman e Steffania Sandrelli. Os homens são Philippe Noiret, Bernard Blier e o Giuliano Gemma dos western spaghetti..  Um grupo de mulheres opta por viver numa fazenda na Toscana praticamente sem homens, á exceção de um tio idoso e senil. Obviamente, nem tudo é hramonia, e a ausência masculina é sentida apesar dos pesares, mas, ao final, quando uma das jovens fica grávidas, todas torcem que seja mais uma mulher, como diz o título.


Finalmente, defendendo as cores nacionais, o recente “Que horas ela volta?”, de Ana Muylaert, com show da dupla Regina Casé e Camila Márdia. Carioca de duas gerações, Regina se consolida com o título cujo equivalente masculino um dia já foi de Jofre Soares, o de “maior atriz nordestina do mundo” (vide “Eu, tu, eles”). Como a mãe que opta por deixar a filha com uma irmã na terra natal para ganhar a vida como empregada doméstica em São Paulo, ela dá tridimensão ao personagem que com outra atriz poderia cair na caricatura. A atuação é complementada pelo contraste oferecido por Camila, uma jovem vindo de outro momento político-econômico-social do Brasil, cujo inconformismo chega a soar inconveniente para o espectador acostumado dom aquele status quo (no Exterior, as pessoas entranhavam era comportamento senhorial dos donos da casa até para tomar um copo d’água).Um filme que não apenas dá o protagonismo – e antagonismo, da parte da personagem da ótima Karine Teles – mas também vislumbra uma nova realidade para as jovens como Camila, que não apenas escapa do destino da mãe como a desperta da relação perversa que ela via como afetuosa.