sexta-feira, 19 de maio de 2017

Corra! – Um filme a ser visto

Consagrado com o percentual de 99% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes, o site americano que recolhe críticas de filme em todos EUA, “Corra!” estreia esta semana no Brasil. O autor – diretor e roteirista – é Jordan Peele, um comediante praticamente desconhecido por aqui (mas que já ganhou um Emmy em 2012), que conseguiu juntar cerca de 5 milhões de dólares para realizar seu projeto, que arrecadou quase 175 milhões até o dia 15 deste mês.

Daniel Kaluuya (da série “Black Mirror”) é o jovem fotógrafo negro Chris Washington, que namora a hipster branca Rose Armitage (Allison Williams, do seriado “Girls”, em sua estreia no cinema). Eles partem em viagem para visitar os pais dela, o neurocirurgião Dean (Bradley Withford, do melhor seriado político americano – fuck “House of Cards” – “The West Wing”) e a terapeuta Missy (Catherine Keener, de “Quero ser John Malkovich” e “O Virgem de 40 anos”), além do irmão esquisitão Jeremy (Caleb Landry Jones, o Banshee de “X-Men: Primeira Classe”). Ele fica sabendo que o pai votaria no Obama para um terceiro mandato, que a mãe usa hipnose para curar tabagismo e que o irmão tem tendências psicopatas. Além disso, o caseiro e a criada negros comportam-se como zumbis. Mas a coisa piora quando ele fica sabendo que naquele fim de semana acontece uma grande festa cheia de brancos ricos e esquisitos, que o tratam com uma condescendência acima do normal, e que o único negro presente além dele, Andrew (Lakeith Stanfield, de “Straight Outta Compton”) também parece um morto vivo.  Mas um incidente faz com que Andrew desperte e grite para Chris o título do filme: Corra! Ou Get Out, em inglês.

Até então o que me vinha à mente era que se tratava de uma espécie de “Esposas de Stepford” (que, por sua vez é nitidamente inspirado em “Vampiro de Almas”) com negros. Mas aí vemos que o negócio é outro, e mais aterrorizante. A virada final é sensacional e faz  o filme ganhar vida. Chris, até então se comportando como negro “civilizado” em um campo minado, tem que lutar por sua vida de forma inesperada.

Se nos EUA o filme causou um grande impacto, aqui ele recebeu resenhas mornas do meu amigo Ângelo Cordeiro, no Nerd Interior, e Marcelo Hessel, no Omelete. Acho que a diferença é de contexto. Numa América pós-Obama e em pleno governo Trump, o clima opressivo do filme causa identificação imediata. Não é apenas o racismo segregacionista, mas os clichês dominantes entre os brancos sobre negros. Possivelmente a visão de humorista do diretor Peele seja responsável por este mérito de “Corra!”. E pouco depois de ver o brazuca “O Rastro”, outro terror que aborda temas contemporâneos, admiramos ainda mais as soluções do roteiro americano.

A escalação do elenco é outro trunfo do filme, desde o protagonista Daniel Kaluuya, passando pelo seu melhor amigo Rod, um segurança de aeroporto interpretado por LilRel Howery (do sitcom de curta vida “The Carmichael Show”), pela família da moça e os criados, especialmente na caracterização sinistra de Betty Gabriel.


Não costumo dar notas neste blog, mas como agora colaboro intermitentemente com o Nerd Interior, que pede notas, dou 8/10. Para mim mais satisfatório dentro do tema que o vencedor do Oscar “Moonlight”.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

O Dia do Atentado: já vimos e vale a pena

O Dia do Atentado chega ao Brasil nesta semana contando a histórias das bombas detonadas na Maratona de Boston, em 2013. O filme traz no elenco o astro Mark Wahlberg (Transformers: A Era da Extinção), Michelle Monaghan (Missão: Impossível 3), Kevin Bacon (série The Following), J.K. Simmons (Whiplash) e John Goodman (Rua Cloverfield, 10). Prestando atenção você verá a Supergirl da TV, Melissa Benoist, no papel da mulher de um dos dois terroristas.

Para quem está cansado do festival de efeitos especiais e fantasia que assola os cinemas, é um ótima opção, que conta um acontecimento recente de forma séria e quase sem apelações. O diretor Peter Berg, que repete a parceria com Wahlberg que já havia ocorrido em Horizonte Perdido: Desastre no Golfo e O Grande Herói, conduz a trama quase como uma daquelas reconstituições históricas dos canais Discovery, National Geographic ou History (só que com elenco estelar), acompanhando determinados participantes da tragédia desde pouco antes das explosões. Wahlberg interpreta o sargento Tommy Saunders que, ao contrário da maioria dos personagens, é uma composição de diversos policiais que acompanharam os fatos, do atentado à caça aos criminosos. O título original, Pattriots Day, se refere ao feriado estadual que lembra a batalha de Lexington, na Guerra da Independência, quando acontece a maratona.


É notável a preocupação com a fidelidade aos fatos, como no atrapalhado tiroteio entre a polícia e os dois terroristas, incluindo o discurso final do jogador David Ortiz, durante o jogo dos Red Sox, em que ele usa a palavra fuck em transmissão nacional, mas que acaba impulsionando o time para a conquista da World Series, o campeonato de beisebol que os americanos chamam modestamente de “mundial”. A reconstituição da tragédia também deixa claro que este maior atentado nos EUA após o 11 de setembro foi perpetrado por dois amadores sem nenhuma conexão com redes terroristas, movidos apenas por teorias conspiratórias e armados com uma pistola e diversas bombas caseiras. Estava mais para Columbine que para World Trade Center e, no entanto, paralisou uma das maiores cidades americanas e mobilizou praticamente todos os recurso de segurança municipais, estaduais e nacionais. É de se pensar.