sexta-feira, 13 de junho de 2014

Brasil 3 x Croácia 1

Fred e sua atuação digna de um Oscar
Os croatas se desesperaram com o pênalti "achado" pelo juiz japonês Yuichi Nishimura, e com razão. Mas o importante - para nós - foi o desempenho geral da seleção. Eu, que vejo Copas desde 1970, nem me abalei muito com o gol contra acidental de Marcelo, muito mais culpa de Daniel Alves do que dele. O Brasil jogava bem e não se desesperou com a desvantagem inicial, que felizmente acontece bem cedo, com muito jogo pela frente. O empate com Neymar - que decididamente assumiu o protagonismo - saiu naturalmente e se o segundo tempo estava enrolado, o máximo que o adversário conseguiria sem aquele pênalti seria um empate. Na única jogada que participou em toda a partida, Fred fez um teatro e o japonês entrou na dele. Neymar, que não tinha nada a ver com isso, bateu e desempatou, mas o goleiro croata ajudou com uma "mão de alface".
O terceiro gol de Oscar coroou seu desempenho pessoal, um dos melhores em campo, fazendo com que o lobby de William na imprensa agora mire no lugar de Hulk para seu eleito.

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Um rápido histórico das primeiras partidas do Brasil em Copas mostra que, apesar do "apito amigo" esta foi uma das melhores e mais tranquilas estreias da seleção, e contra um adversário duríssimo, desde já, favorito à segunda vaga no grupo.
Em 1930, no Uruguai, um escrete meia-boca, sem jogadores paulistas por conta de uma briga entre federações, foi derrotada por 2 a 1 pela Iugoslávia, ironicamente, o país da quela a Croácia fazia parte até 1992.
Quatro anos depois, em 1934, na Itália de Mussolini, nova derrota na estréia, desta vez para a Espanha de Ricardo Zamora, então o melhor goleiro do mundo, por 3 a 1. O lendário goalkeeper pegou um pênalti sofrido e batido por Waldemar de Brito, o futuro descobridor de Pelé, mas houve também um apito amigo, desta vez a favor dos ibéricos. Um foto publicada pela imprensa no dia seguinte do jogo mostrava o zagueiro Quionces agachado na linha do gol e evitando o gol de empate brasileiro, aos 20 minutos do primeiro tempo. Mas se o juiz não viu, os brasileiros também só viram no jornal. Também essa foi a última vez que o Brasil começou um Copa perdendo.
Em 1938, na França, a seleção finalmente reunia os melhores jogadores, com destaque para Leônidas da Silva, que já estava no escrete em 1934. A estreia foi contra a Polônia, batida por 6 a 5, com direito a prorrogação, porque naquele torneio os jogos eram eliminatórios desde o começo. Leônidas fez tres gols, Perácio dois, mas Willimowski marcou quatro, tornando-se o jogador que mais marcou contra o Brasil em uma só partida. Até hoje.
Em 1950, no Brasil e na inauguração de um estádio - o Maracanã, então mais incompleto que o Itaquerão - a seleção de Ademir de Meneses goleou o México por 4 a 0. Aliás, se os mexicanos andaram aprontando contra os brasileiros em torneios como a Copa América e Jogos Olímpicos, em Copas do Mundo nunca deram muito trabalho.
No encontro seguinte, em 1954 na Suiça, em outra estreia, o placar foi 5 a o a favor do Brasil. Em 58, Suécia, no primeiro título mundial do Brasil, a estreia foi contra a Áustria, batida por 3 a 0. No bi em 62, no Chile, a vítima na estreia foi, de novo, o México, que só levou de 2 a 0 porque Carbajal fechou o gol.
Em 1966, na Inglaterra, em que pese a tragédia que se seguiria, a estreia foi boa, com 2 a 0 sobre a Bulgária, no último jogo que reuniria Pelé e Garrincha.
A estreia em 1970, no México, foi a primeira que vi, e anunciava a trajetória daquela seleção brasileira. Os 4 a 1 sobre a Tchecoslováquia revelava ao mundo Jairzinho e mostrava que Pelé ainda estava longe de acabar.
A Copa de 1974, na Alemanha, ainda Ocidental, foi o início do longo jejum verdeamarelo, e o empate de 0 a 0 contra a Iugoslávia já anunciava isso. Só não perdemos porque Lis Pereira tirou uma bola em cima da linha. Foi a primeira Copa vista em cores no Brasil.
Em 1978, na Argentina, novo empate, de 1 a 1, agora contra a Suécia. O jogo ficou famoso por causa do gol de Zico após um tiro de canto, anulado pelo árbitro, que alegou ter apitado o fim do jogo com a bola no ar. Então porque permitiu a cobrança do escanteio?
A Copa na Espanha, em 1982, foi marcada por aquela que muitos consideram a melhor seleção brasileira de todos os tempos, o que é uma rematada besteira. tanto é que a estreia contra a União Soviética teve frango de Valdir Peres, dois pênaltis não marcados cometidos pelo "classudo" zagueiro Luizinho, mas os apologistas de Telê Santana só lembram dos golaços de fora da área marcados por Sócrates e Éder. As mesmas deficiências seriam decisivas mais adiante, no que passamos a chamar de "Tragédia de Sarriá".
Segue-se a maior sequencia de vitórias em estreias de Copa de uma seleção em todos os tempos. E também de "apitos amigos". Em 86, no México, vitória e 1 a 0 contra a Espanha, com chute de Michel em bola que bateu no travessão e entrou, mas não foi visto pelo juiz australiano.
Em 1990, na Itália, vitória de 2 a 1 contra a Suécia, num jogo sem graça, como era o time de Lazzaroni. Em 1994, nos EUA, vitória por 2 a 0 contra Camarões, adversário de mais adiante, com Romário apresentando seu cartão de visitas e Raí marcando em pênalti, na única coisa útil que ele faria naquela competição.
Em 1998, na França, jogo difícil contra a Escócia, 2 a 1, com gols de Cesar Sampaio, que depois acabou fazendo penalti convertido por Collins e gol contra de Boyd após jogada de Cafu, na estreia de Ronaldo em Copas, já que ele não entrou em campo nos Estados Unidos. Como se vê, Neymar se saiu bem melhor.
No primeiro jogo do penta, em 2002 na Coréia do Sul, polêmica vitória por 2 a 1 contra a Turquia, com aquele pênalti cavado por Luizão, que foi agarrado na meia-lua mas arrastu o zagueiro adversário até dentro da área, onde caiu e enganou o árbitro coreano. Os turcos ficaram tão furiosos quanto os croatas este ano, mas o os assustou mesmo foi a entrada de Denilson aos 22 minutos de segundo tempo, que infernizou tanto sua defesa que quando as duas seleções se reencontraram na semifinal, resultou no que seria a imagem do Mundial, com quatro turcos perseguindo o atacante até a linha lateral.
Em 2006, na Alemanha, a estreia também adiantou o que se veria nos jogos posteriores. O magro 1 a 0 contra a mesma Croácia, com Ronaldo e Adriano fora de forma, Ronaldinho esbanjando passes errados, teve em Kaká a salvação, em chuta da entrada da área. O goleiro era o mesmo Pletikosa, que ontem levou dois gols da entrada da área.
Na última Copa, na África do Sul, em 2010, outra vitória difícil contra um adversário quase inexpressivo, a Coréia do Norte, muito distante do escrete que surpreendeu o mundo em 1966. Foi 2 a 1, com gols brasileiros de Elano e Maicon, ou seja, o ataque não funcionou.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

70 anos do Dia D

A efeméride de hoje reúne três das minhas paixões: Cinema, História e, especificamente, a II Guerra Mundial. O Dia D, ou Dia do Desembarque na Normandia, em 6 de junho de 1944 é a mais famosa operação aliada na última grande guerra e vendida pelos americanos via Hollywood como a batalha decisiva do conflito. Na realidade, a luta contra o nazismo já havia sido decidida  em Stalingrado e Kursk, no ano anterior, quando as melhores e mais experientes tropas de infantaria e Panzer alemãs foram destroçadas pelo Exército Vermelho. Dali em diante, a guerra para a Wermacht na Frente Russa seria uma grande retirada.

Desde que os americanos entraram em combate, Stalin vinha cobrando uma frente ocidental, já que a URSS arcou com a maior parte da resistência aos alemães a partir da Operação Barbarossa. John Lukacs defende a fascinante teoria de que um dos motivos cruciais para que Hitler invadisse a União Soviética era fazer com que Churchill se rendesse antes que os Roosevelt entrasse na guerra. A posição da Grã-Bretanha era, de fato, estratégica: sem uma Marinha capaz de realizar uma invasão por mar, coube à Luftwaffe tentar por os ingleses de joelhos, o que não funcionou, e até pelo contrário, fazendo Goering perder aviões e pilotos insubstituíveis. O oposto também era verdade: sem as ilhas britânicas, os americanos pouco poderiam fazer na Europa, apenas incomodar em frentes secundárias como o Norte da África, a Itália e os Bálcãs. Como nas diversas guerras europeias anteriores, a França seria o grande campo de batalha ocidental.

Se Hitler não tinha os meios materiais para atravessar o Canal da Mancha numa operação anfíbia, o mesmo não acontecia com os Estados Unidos e seu gigantesco parque industrial fora do alcance do inimigo. A Batalha do Atlântico havia terminado na prática em 1943, quando os U-Boat alemães foram praticamente erradicados das rotas de suprimentos. Em 1944, somente o clima e Erwin Rommell, a Raposa do Deserto que se tornou comandante da defesa da costa francesa. Este achava corretamente que era imprescindível impedir o estabelecimento de cabeças de ponte nas praias, enquanto outros generais achavam que se deveria permitir o desembarque para massacrar o inimigo - que ataca com infantaria leve e poucos blindados - em contra ataques com divisões Panzer. Obviamente eles subestimavam a capacidade de mobilização de recursos dos americanos.

O que aconteceria se o Dia D fracassasse, uma possibilidade concreta, apesar da enorme superioridade aérea e naval aliada? Possivelmente a guerra se estenderia por mais alguns meses, mas o que é mais importante é que provavelmente toda a Alemanha e a Aústria se tornariam território ocupado pelos soviéticos. A inevitável Guerra Fria que se seguiu partiria de uma posição muito mais vantajosa para os russos, e talvez não houvesse nem espaço para o surgimento da Otan. Nesse caso, mesmo não tendo sido o turning point do conflito como fomos acostumados a acreditar, o Desembarque na Normandia continua tendo uma importância capital para o mundo que conhecemos hoje. A Europa e o Ocidente em geral devem reverenciar a data e seus heróis, especialmente os que desembarcaram nas praias sob fogo de metralhadoras e obuses.

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Os Filmes
Duas produções cinematográficas são fundamentais para lembrar o Dia D: "O mais longo dos dias", de 1962; e "O Resgate do Soldado Ryan", de 1998. O primeiro inaugurou o gênero "Grandes operações", que abordavam as grande batalhas da II Guerra com um elenco de astros e fragmentando a ação em cenas menores, como "Uma Batalha no Inferno" (Batalha do Bastogne), "Tora, Tora, Tora" (Pearl Harbor), "Midway" e "Uma Ponte Longe Demais" (Operação Market-Garden). Entre as estrelas que lutaram na Normandia de Hollywood estavam John Wayne, Henry Fonda, Ricchar Burton, Robert Mitchum e um Sean Connery antes de James Bond.
O segundo, que deu o segundo oscar a steven Spielberg,  tem como cenário a praia de Omaha, o desembarque mais sangrento, apenas nos primeiros minutos - mas que minutos! Deve ser a sequencia de batalha mais emocionante e estressante já filmada, especialmente para quem teve a chance de assistir no cinema, como eu. O resto nem é tão bom assim, mas aquele começo é sensacional.
Fora da telona, existe a minissérie "Band of Brothers", da HBO, que conta a trajetória da Easy Company, que fazia parte da 101a Divisão Aerotransportada. Eles pegaram as maiores pedreiras que os americanos enfrentaram na Europa - Dia D, Operação Market Garden e Batalha do Bulge - e obtiveram o grande premio de ocupar o Ninho da Águia, o Quarte-Geneal de Hitler nos Alpes.
Ficaram tão famosos que o nome Easy Company - Companhia Moleza - deu o nome à tropa do Sargento Rock, um dos grandes soldados dos quadrinhos.