quinta-feira, 6 de novembro de 2014

The Newsroom e o jornalismo ideal em tempo de cólera

Nos últimos dias fiz uma maratona da primeira temporada de The Newsroom, da HBO. Já tinha assistido a segunda temporada numa dessas semanas em que o sinal é liberado (sou pobre, só tenho o pacote básico) e conhecer o início da trama só confirmou a ótima impressão que tive da série.

A moda pode ser os universos delirantes de Walking Dead e Game of Thrones, mas em The Newsroom, Aaron Sorkin consegue um mundo ficcional muito próximo da realidade, ajudando o espectador a compreender o funcionamento da imprensa e da política americanas. Ele já havia criado "The West Wing: Bastidores do Poder", a melhor obra audiovisual sobre como é feita a política nos EUA (que, no fundo, se parece muito com qualquer democracia representativa, incluindo o Brasil).

À exemplo da Camelot criada em torno do presidente Jed Bartlett (Martin Sheen), Sorkin cria uma redação ideal em torno do âncora Will McAvoy (Jeff Daniels, um ator que trafega com tranquilidade entre o drama e o humor), do noticiário de horário nobre, que detém a segunda maior audiência entre os canais a cabo, mas tem se acomodado nessa condição. Tido muda quando o diretor do canal, Charles Skinner (Sam Waterston, vindo de quase duas décadas de "Law and Order"), chama de volta a antiga produtora-executiva e ex-namorada de Will, Mckenzie McHale (Emily Mortimer, de "A Invenção de Hugo Cabret"), para chacoalhar a redação. O desafio proposto à nova nova equipe, que inclui o editor-senior Jim Harper (John Galagher Jr.), é criar uma pauta relevante e esclarecedora ao eleitorado americano, para que ele possa fazer escolhas lúcidas nas urnas. Para isso, o republicano Will passa a atacar o Tea Party implacavelmente, a ponto de chamá-lo de "Talibã Americano"; notícias que são manchetes na concorrência, como a mãe acusada de matar sua filhinha, são desprezadas; celebridades, metereologia e outros assuntos "carne-de-vaca" são eliminados.

A ação acontece poucos anos antes do tempo atual, e as notícias cobertas pela equipe são verdadeiras; então o público sabe de antemão o que acontece (se for minimamente informado), casos da Primavera Egípcia, da ameaça nuclear em Fukushima e da morte de Osama Bin Laden (onde descobrimos que não somos só nós que às vezes confundimos Osama com Obama). A exceção é a gigantesca "barriga" provocada pela militantismo de uma produtor temporário e a má fé de uma fonte, cujos desdobramentos atravessam toda a segunda temporada, que se passa durante a campanha presidencial que resultará no segundo mandato de Barack Obama.

Questões como jornalismo versus entretenimento; como a imprensa deveria informar os eleitores para que eles façam boas escolhas na urna ao invés de tentar manipulá-los a escolher este ou aquele; a crescente polarização política que vai transformando divergência de opiniões em ódio; são temas comuns tanto aqui como lá, e que são abordados no seriado de forma adulta, educativa e sem o cinismo de "House of Cards", por exemplo. No mundo de "The Newsroom", que se parece muito com o nosso, boa política e jornalismo relevante são coisas possíveis, apesar de tudo.

Recomendo, principalmente os colegas jornalistas, que assistam a série. Quem não tem HBO, pode alugar na locadora (se você tiver mais de 60 anos), ou usar os inúmeros recursos disponíveis na web, do torrent ao on demand alternativo, se é que você me entende. Abaixo, o trailer da terceira e última temporada que estreia por lá dia 9 deste mes.




terça-feira, 30 de setembro de 2014

Cineclube Indaiatuba exibe "Era uma vez em Nova York"

O Cineclube Indaiatuba exibe hoje o filme "Era uma vez em Nova York" às 19h, no Multiplex Topázio do Shopping Jaraguá.
Em 1921, as irmãs polonesas Magda (Angela Sarafyan) e Ewa Cybulski (Marion Cotillard) partem em direção a Nova Iorque, em busca de uma vida melhor. Mas, assim que chegam, Magda fica doente e Ewa, sem ter a quem recorrer, acaba nas mãos do cafetão Bruno (Joaquin Phoenix), que a explora em uma rede de prostituição. A chegada de Orlando (Jeremy Renner), mágico e primo de Bruno, mostra um novo amor e um novo caminho para Ewa, mas o ciúme do cafetão acaba provocando uma tragédia.
Pelo menos um crítico - Sérgio Alpendre, para a Folha e São Paulo - o considerou "o melhor filme do ano" (leia resenha aqui). O diretor James Gray tem uma filmografia bissexta, endo estreado há 20 anos com "Fuga para Odessa" e voltando a assinar uma obra só em 2000, com "Caminhos sem volta". Começa aí sua colaboração com o talentoso ator Joaquin Phoenix, com quem faria também "Os Donos da Noite" (2007), "Amates" (2008) e este "Era uma vez em Nova York", de 2013.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O Dia em que o Século XXI começou

Eric Hobsbawn, em sua “Era dos Extremos”, considera que o curto século XX começou na Revolução Russa e acabou justamente no fim da União Soviética, em 1991. Não sei como vai se chamar o intervalo de dez anos, mas o século XXI efetivamente começou no dia 11 de setembro de 2001.

Se, como pretendia Francis Fukuyama, a história acabou quando os Estados Unidos da América se tornaram a única superpotência do planeta, ela recomeçou quando seu poder foi colocado a prova por inimigos em tese pequenos, mas que conseguiram aplicar o maior golpe no orgulho americano desde o ataque a Pearl Harbor, em 1941. Os americanos já haviam sido vítimas de ataques terroristas há muito tempo, inclusive um frustrado contra o mesmo World Trade Center em 1993, mas o que aconteceu há exatos 13 anos superou até mesmo as mentes imaginativas de Hollywood. O resultado do dia: as Torres Gêmeas de Nova York no chão, um rombo no Pentágono e um avião no chão, supostamente por intervenção dos próprios passageiros antes que ele atingisse o alvo dos sequestradores da Al Qaeda.

A partir daí, tudo muda. Em nome da Guerra ao Terrorismo os americanos invadem o Afeganistão e o Iraque; prendem suspeitos em prisões por vezes clandestinas, usando tortura física e psicológica para obter informações; invadem a privacidade de seus cidadãos e os de outros países (inclusive os de chefes de governo aliados). Atentados contra membros da Otan, Espanha e Inglaterra, são bem sucedidos, mas os EUA executam Saddan Hussein (que não tinha nada a ver com o 11 de setembro) e matam diversos líderes da Al Qaeda, inclusive Osama Bin Laden, a maior vitória simbólica dessa guerra.

Os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), nações de economia emergente, demandam uma posição mais relevante no tabuleiro global, mas ainda estão longe de fazer sombra ao poder efetivo dos EUA e seus aliados mais próximos. Drones inventados para espionar e atacar suspeitos de terrorismo passam a fazer pare do cotidiano , sendo usados até por paparazzi para espionar celebridades

Passados 13 anos, como está o mundo hoje? O terrorismo está longe de acabar e o ódio aos americanos só aumentou em todo o mundo islâmico. A Primavera Árabe ao invés de levar democracia à Líbia, Egito e Síria, criou o Estado Islâmico (EI), uma horda de combatentes sob a bandeira do Jihad, que executa qualquer um que não seguir sua linha fundamentalista, mesmo que também muçulmano. Ameaçam a parca estabilidade da região diante de uma Otan indignada mas pouco disposta a enviar soldados para combatê-los diretamente. O perigo é tão imediato que fez a Casa Branca se aliar a um inimigo histórico, o Irã, para tentar deter o que é chamado em inglês de Isis (The Islamic State of Iraq and the Levant ). A decapitação de um americano transmitida para mundo via Internet levou o presidente Barack Obama a prometer destruir o Estado Islâmico, mas em final de mandato, ele não tem condições de fazer muito mais que intensificar os ataques aéreos e armar os inimigos de seu inimigo. O enorme pode militar dos EUA é limitado pela pouca disposição do público interno em aceitar o custo humano e financeiro de novas aventuras intervencionistas, principalmente após o desgaste de duas ocupações simultâneas no Afeganistão e no Iraque.

Resumindo, o 11 de setembro de 2001 tornou este novo século muito distante da Nova Ordem Mundial alardeada por George Bush Sr. na vitória na I Guerra do Iraque.


terça-feira, 12 de agosto de 2014

O legado de Robin Williams

Quando Robin Williams virou polêmica ao ironizar a vitória do Rio de Janeiro sobre Chicago na disputa pelos Jogos Olímpicos de 2016, dizendo que a eleição se devia às 50 strippers e ao meio quilo de pó enviadas pela delegação brasileira ao Comitê Olímpico (piada pouco mais agressiva que os dois episódio dos Simpsons ambientados aqui), o que me veio à lembrança foi ator que muitas vezes deixava sua verve histriônica ofuscar seu papel e cujo único  sucesso nos anos recentes era como coadjuvante de Ben Stiller na franquia “Uma Noite no Museu”.

No entanto, após o anúncio de sua morte ontem, dia 11, o que nos vem à lembrança são os inúmeros trabalhos inesquecíveis do ator. Poucos podem se orgulhar de um currículo desses.
Após o início de carreira no cinema desastroso com “Poppeye” (1980), dirigido por um improvável Robert Alrman, Williams fez alguns filmes que chamaram a atenção como “O Mundo Segundo Garp” (1982), “Moscou em Nova York” (1984) e “Clube Paraíso (1986). Ele também havia emplacado uma popular sitcom na TV chamado “Morky & Mindy”, que nunca foi exibido no Brasil.

Se o talento já era reconhecido pela crítica, ele se tornou conhecido pelo grande público a partir de “Bom dia, Vietnã” (1987) com seu famoso bordão “Goood morning, Vietnam” (que lhe deu a primeira indicação ao Oscar); e dois anos depois com “Sociedade dos Poetas Mortos (1989), sua segunda indicação ao Prêmio da Academia de melhor Ator, apesar da pedagogia duvidosa defendida no roteiro. Em 1990, em “Tempo de Despertar”, ajudou Robert De Niro a obter sua primeira indicação desde o Oscar de “Touro Indomável”.

Com o belo “Pescador de Ilusões”, de 1991, vem a terceira indicação á estatueta dourada. Nesse momento Williams já estava entre os principais nomes da indústria, a ponto de Steven Spielberg escalá-lo para o dream team de seu ambicioso – e fracassado – “Hook, a Volta do Capitão Gancho”, também de 1991. Se a superprodução afundou, o mesmo não se pode dizer de seu Peter Pan, cujo intérprete caiu como uma luva fazendo o menino que se liberta do corpo do adulto careta. 

No ano seguinte, veio mais um marco na carreira, ao fazer a voz do Gênio de “Aladdin”.A introdução do personagem, em que Williams imita inúmeras celebridades e diversos sotaques como uma metralhadora de gags (abaixo).


 iniciou a tendência de se contratar atores consagrados para dar voz a personagens de animações da Disney – que também foi seguido pela Pixar – do outro abriu as comportas do histrionismo de Williams, que a partir daí passou a improvisar mais do que interpretar. O megasucesso de “Uma babá quase perfeita” marcou o auge da popularidade.

Em 1995, mais dois grandes sucessos, “Jumanji”, um clássico da Sessão da Tarde, e “Gaiola das Loucas”, em que ele resuma a dança americana em cinco segundo ao aspirante a bailarino-bofe (abaixo).


Em 1997, trabalha com Woody Allen em “Desconstruindo Harry” e contribui para que “Gênio Indomável” coloque a dupla Matt Damon e Bem Affleck no mapa de Hollywood, levando, de quebra o tão ambicionado Oscar (de Ator Coadjuvante). Sua atuação em “Patch Adams, o Amor Contagia”, no ano seguinte, contribui, no mínimo, para que os Doutores da Alegria se multipliquem no diversos hospitais de tratamento de câncer infantil. “Amor Além da Vida” deve ser o trabalho que seus fãs espíritas lembraram no dia de ontem.

Após a consagração do premio da Academia, sua carreira parece entrar no mais do mesmo. Em 1999 tenta repetir “A vida é bela” com “Um sinal de esperança” e se repete em “O Homem Bicentenário”. Tenta se reinventar como psicopata em dois bons trabalhos, “Retratos de uma Obsessão” e “Insônia” (2002), que poucos viram.
A partir de então, como dissemos na abertura deste texto, suas atuações mais lembradas são como o Ted Roosevelt nos dois “Uma Noite no Museu” e usando apenas a voz em “Happy Feet”.

Aos 63 anos, não tão velho para um comediante, ainda poderia oferecer muito ao seu público. Pena que não houve tempo. 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Ao vencedor, as kartoffeln *

Shweinsteiger e Podolski comemoram a conquista
Podia ter sido pior. Depois da vexatória derrota para a Alemanha na semifinal e em seguida para a Holanda na disputa do 3º lugar, só faltava a Argentina se sagrar campeã em pleno Maracanã. Felizmente para o que resta do orgulho nacional, os alemães repetiram os espanhóis há quatro anos e bateram um adversário encardido com um gol na prorrogação, marcado por Mario Götze, que saiu do banco para fazer história.

Foi ótimo não apenas pela nossa rivalidade de vizinhos com a Argentina, mas pelo futebol apresentado pela Alemanha, que deve ditar a moda nos próximos anos, assim como fez a Espanha após suas duas Eurocopas e a Copa da África do Sul. Enquanto los hermanos conseguiram montar, enfim, uma defesa sólida para esperar um lampejo de gênio de Messi, os germânicos buscavam alternativas para furar o bloqueio adversário. É certo que ficaram muito perto de levar um gol no contra-ataque – especialmente na inacreditável chance perdida por Higuaín (que lembra a de Robben diante de Casillas há quatro anos) e outra de Messi – mas também meteram uma bola na trave numa cabeçada do zagueiro .

O gol redentor na prorrogação acabou fazendo justiça a uma campanha mais sólida, mesmo considerando as dificuldades contra africanos, e o time mais simpático. Pode ter sido marketing – e provavelmente foi – mas conquistou a torcida brasileira. A maioria torceu pelos alemães mesmo depois dos 7 a 1, e torceria mesmo que seu oponente não fosse a Argentina.

Fala-se agora o planejamento feito a partir da eliminação diante da Croácia em 1998 por 3 a 0, e posterior vexame na Eurocopa de 2000, que resultou em mudanças nas categorias de base de todos os times da Bundesliga. Isso resultou na melhor geração do futebol germânico em muito tempo, possivelmente desde Beckenbauer e Gerd Muller. Lembrando que Shweinsteiger, Philip Lamm, Mertesacker e  Klose estavam na seleção que perdeu a Copa em casa em 2006. A fusão com a excelente turma revelada em 2010, mais outros que estrearam este ano, resultou no time campeão de 2014.


Isso é algo que o Brasil não tem tido. Nas categorias de base, as promessas são vendidas quase nas fraldas para o mercado exterior, não havendo tempo de amadurecerem aqui. A exceção é o Santos, e o resultado, entre outros, é Neymar. Foi-se o tempo em que os craques davam em árvores por aqui. Um dos responsáveis são escolinhas, que produzem meio-campistas caneludos, enquanto a tendência mundial são primeiros volantes que armam as equipes lá de trás, casos de Pirlo, Shweinsteiger e Mascherano nesta Copa (no Barcelona ele é zagueiro). Nós tínhamos Luiz Gustavo, ótimo no desarme mas péssimo para sair jogando. Com a decadência de Paulinho, nem segundo volante decente tínhamos.  E a chamada melhor zaga do mundo fez pixotadas dignas da várzea, ou de casados x solteiros. O que foi o lance da expulsão de Thiago Silva? E o cabeceio para o meio da área de David Luiz no segundo gol da Holanda. Acabou-se a segunda Era Felipão, mas o que virá depois? Não seria tempo de arriscar um estrangeiro? Quiçá, um argentino?

Messi: a cara da decepção


*batatas em alemão

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A Copa e os 7 a 1

Como todos os brasileiros, especialmente aqueles que amam o futebol,  acordei ontem e cabeça inchada tentando digerir os 7 a 1, mas fiquei mais chocado com as manchetes sensacionalistas e com o oportunismo de diversos analistas esportivos. Poucos foram equilibrados e sensatos como Tostão, avaliando a chamada “tragédia” como o que foi de fato: uma partida de futebol. E, não, não foi pior que 1950 porque não foi no último jogo e o Brasil não vinha fazendo uma campanha que a colocasse como favorita. Com os desfalques de Neymar e Thiago Silva, a derrota não era surpresa dessa vez. Só não se esperava que fosse desse tamanho.

A derrota – humilhante,  é verdade – da seleção brasileira em casa deve ser separada da Copa em si, esta sim, um sucesso, independente da campanha da anfitriã. Na era moderna do futebol, Itália em 90 e Alemanha em 2006 fizeram a Copa e não levaram. A vida continuou e ambas as seleções continuaram entre as melhores do mundo. O torneio no Brasil já se coloca como um dos melhores já realizados, em números, calor humano e até em mobilidade.
Antes dessa terça, já estava claro que o Brasil também não levantaria a taça. Sabedor da inferioridade de seu time, Felipão tentou surpreender o técnico alemão escalando Bernard. Mas foi Joachim Löw quem deu o golpe de mestre.

Ao escalar Miroslav Klose no inicio da partida – coisa que não havia feito em nenhum jogo até então – o treinador alemão acrescentou um ingrediente à tensa semifinal, o tal recorde de gols em Copas então em pode de Ronaldo, para o qual fazemos o maior carnaval e os alemães não estão nem aí. Criou obviamente uma preocupação a mais para a improvisada defesa brasileira, e o resultado foi o gol no primeiro escanteio, feito por um desmarcado Thomas Muller, enquanto todo mundo estava pulando com o veterano centroavante de 36 anos. O minutos seguintes foi resultado de um time que se jogou ao ataque na base apenas da vontade contra um adversário organizado e repleto de jogadores de qualidade, especialmente no meio-de-campo. E o gol de Klose a seguir, superando a marca do ídolo daqueles garotos, foi o que de menos ruim aconteceu. Foi tão atordoante que o próprio Luis Felipe Scolari ficou atônito no banco, sem saber o que fazer: só mexeu no time no intervalo, quando a vaca já tinha ido para o brejo.

Pode parecer um contrasenso, mas o placar jamais seria tão elástico se o jogo não fosse no Brasil. A obrigação de mostrar serviço em casa fez o time se atirar irresponsavelmente para cima da Alemanha. Lembrou o mito, criado pela propaganda nazista, da Cavalaria Polonesa fazendo carga sobre as Divisões Panzer em 1939. Historiadores militares modernos dizem que isso nunca aconteceu, mas o massacre do Mineirão, sim.


Como escreveu Tostão em sua coluna na Folha de S. Paulo: “Os jogadores, Felipão e a comissão técnica têm de ser criticados por erros técnicos, mas não devem ser massacrados. Eles trabalharam com seriedade e fizeram tudo para o Brasil ser campeão”.  Acima de tudo, se isso servir como ponto de partida para um saneamento na CBF e do que cerca o futebol brasileiro, não terá sido em vão.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Semifinal é briga de cachorro grande

David Luis, o grane jogador do Brasil até aqui
As surpresas das quartas-de-final não sobreviveram para as semis, que reúnem três campeões mundiais e uma seleção com três finais nas costas. É a primeira vez que os jogos dessa fase reproduzem duas finais de Copa anteriores (Argentina x Holanda em 1978 e Brasil x Alemanha em 2002), a primeira desde 1970 em que dois sulamericanos são semifinalistas e a primeira da Argentina desde 1990.
Para o Brasil, confirmaram-se duas tradições: desde que entramos no primeiro mundo do futebol, em 1938, não somos eliminados por times “pequenos”, e desde 1990 não saímos nas oitavas (aliás, isso só aconteceu duas vezes desde a primeira Copa na França: em 1966 e 90).
O que esperar da partida de terça contra a Alemanha? A ausência de Thiago Silva e principalmente Neymar tira do time a obrigatoriedade da conquista da Copa, colocada como obrigação pelo técnico Luis Felipe Scolari, que nada mais verbalizou algo que estava na cabeça e todos os brasileiros. A vantagem germânica é grande, mas o peso do favoritismo deixa os ombros da seleção nacional e o fator casa continua a nosso favor.

Dá pra ganhar da Alemanha, que já sofreu contra dois adversários africanos, mas será que dá para levar a Copa? Aí já é outra história. E se for pra perder no fim de semana, que seja para a Holanda. Durma-se com o barulho de um novo Maracanazzo, desta vez para a Argentina...

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Copa do Mundo no Brasil: Não tá fácil pra ninguém!

Wim Wenders filmou "O medo do goleiro diante do pênalti", o que não é o
caso de Julio Cesar
Passado o estresse da decisão por pênaltis contra o Chile, veio o alívio e depois a apreensão: "se sofremos assim contra fregueses tradicionais, que dirá contra os cachorros grandes?" Pois todos os favoritos sofreram nos demais jogos, mas acabaram passando, fazendo que com essa seja a primeira copa em que todos os líderes de chave fase de grupos se classificaram á quartas-de-final. O único jogo que pode ser considerado tranquilo foi justamente o do nosso adversário de sexta, a Colômbia, que pegou um ex-campeçao do Mundo, o Uruguai, mas desfalcado e traumatizado de e por Luisito Soares.
Todas as demais partidas foram duras e emocionantes. A Holanda teve que virar contra o México nos 6 minutos finais, graças à covardia do técnico Miguel Herrera e não a um suposto pênalti mal marcado (na verdade, bem marcado). A Costa Rica também precisou dos pênaltis para vencer a valentia e a defesa de Esparta, digo, Grécia. A França tirou a brava Nigéria também com dois gols no final e depois de ser encurralada em boa parte do jogo; a Alemanha precisou da prorrogação para vencer a também corajosa Argélia por 2 a 1. Finalmente, ontem, a Argentina também foi ao tempo extra para bater a covarde Suiça, num descuido por cansaço do meio de campo, mas quase viu a casa cair numa bola na trave no finalzinho da prorrogação (eu adivinhei que os hermanos iam dizer que foi "a trave de Deus"); e Bélgica e EUA fizeram o que foi talvez o mais belo jogo das oitavas, decidido igualmente no tempo extra, com grande atuação do goleiro Howard, dois gols belgas nos primeiros 15' e um surpreendente desconto dos americanos no segundo tempo, deixando os ianques de cabelo em pé.
A dificuldade encontrada pelos grandes favoritos contra os chamados pequenos deve-se mais ao
O México repetiu sua triste sina de "jogar como nunca e perder como sempre"
crescimento dos segundos que por decadência dos primeiros. Se houve uma nivelação, foi por cima e não por baixo, como notou Julio Gomes em sua coluna no UOL (clique aqui). Com as partidas da fase de grupos disponíveis para todo mudo, ficou fácil para os técnicos estudarem os adversários e se prepararem devidamente. O que prevaleceu no fim foi o maior poder de finalização - que os africanos não tiveram - , preparo físico e, é claro, camisa, que não ganha jogo sozinha, mas, pelos resultados até agora, acabaou prevalecendo.
O que esperam das quartas-de-final, que começam nesta sexta? França e Alemanha duisputarão o grande clássico dessa fase, rigorosamente sem favoritos, mas com a Alemanha ligeiramente em desvantagem por ter disputado uma desgastante prorrogação na segunda-feira. Holanda e Costa Rica tem tudo para fazer um grande jogo ais ao gosto do time caribenho que dos batavos, mas se tudo o mais não der certo, eles tem Robben numa grande fase. A Argentina e franca-favorita contra a Bélgica, ambas desgastadas por terem disputado a prorrogação mas os segundos saíram mais "quebrados" de campo.
Finalmente, e o Brasil? Claro que ainda somos favoritos e podemos ganhar, mas vai ser preciso mudar quase tudo no time, de algumas peças à atitude. O jogo de sábado tornou-se difícil devido ao desequilíbrio emocional após o gol de empate chileno - de resto, uma bobeira geral - que deu moral e espaço ao adversário. O mais experiente, o goleiro Julio Cesar, fez sua parte, mas não pode sair levantando a moral do time inteiro. Está na cara que Thiago Silva não tem estofo para ser capitão e que jogadores-chave no esquema de Felipão não estão funcionando. Do outro lado, à parte a festa feita em torno de James Rodríguez, principalmente por causa do golaço contra o Uurguai, o jogador mais perigoso da Colômbia é Cuadrado (assinantes da Folha de S. Paulo e do UOL podem ler clicando aqui). Felipão deve ter visto isso e deve tomar prvidências.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Brasil 3 x Croácia 1

Fred e sua atuação digna de um Oscar
Os croatas se desesperaram com o pênalti "achado" pelo juiz japonês Yuichi Nishimura, e com razão. Mas o importante - para nós - foi o desempenho geral da seleção. Eu, que vejo Copas desde 1970, nem me abalei muito com o gol contra acidental de Marcelo, muito mais culpa de Daniel Alves do que dele. O Brasil jogava bem e não se desesperou com a desvantagem inicial, que felizmente acontece bem cedo, com muito jogo pela frente. O empate com Neymar - que decididamente assumiu o protagonismo - saiu naturalmente e se o segundo tempo estava enrolado, o máximo que o adversário conseguiria sem aquele pênalti seria um empate. Na única jogada que participou em toda a partida, Fred fez um teatro e o japonês entrou na dele. Neymar, que não tinha nada a ver com isso, bateu e desempatou, mas o goleiro croata ajudou com uma "mão de alface".
O terceiro gol de Oscar coroou seu desempenho pessoal, um dos melhores em campo, fazendo com que o lobby de William na imprensa agora mire no lugar de Hulk para seu eleito.

***
Um rápido histórico das primeiras partidas do Brasil em Copas mostra que, apesar do "apito amigo" esta foi uma das melhores e mais tranquilas estreias da seleção, e contra um adversário duríssimo, desde já, favorito à segunda vaga no grupo.
Em 1930, no Uruguai, um escrete meia-boca, sem jogadores paulistas por conta de uma briga entre federações, foi derrotada por 2 a 1 pela Iugoslávia, ironicamente, o país da quela a Croácia fazia parte até 1992.
Quatro anos depois, em 1934, na Itália de Mussolini, nova derrota na estréia, desta vez para a Espanha de Ricardo Zamora, então o melhor goleiro do mundo, por 3 a 1. O lendário goalkeeper pegou um pênalti sofrido e batido por Waldemar de Brito, o futuro descobridor de Pelé, mas houve também um apito amigo, desta vez a favor dos ibéricos. Um foto publicada pela imprensa no dia seguinte do jogo mostrava o zagueiro Quionces agachado na linha do gol e evitando o gol de empate brasileiro, aos 20 minutos do primeiro tempo. Mas se o juiz não viu, os brasileiros também só viram no jornal. Também essa foi a última vez que o Brasil começou um Copa perdendo.
Em 1938, na França, a seleção finalmente reunia os melhores jogadores, com destaque para Leônidas da Silva, que já estava no escrete em 1934. A estreia foi contra a Polônia, batida por 6 a 5, com direito a prorrogação, porque naquele torneio os jogos eram eliminatórios desde o começo. Leônidas fez tres gols, Perácio dois, mas Willimowski marcou quatro, tornando-se o jogador que mais marcou contra o Brasil em uma só partida. Até hoje.
Em 1950, no Brasil e na inauguração de um estádio - o Maracanã, então mais incompleto que o Itaquerão - a seleção de Ademir de Meneses goleou o México por 4 a 0. Aliás, se os mexicanos andaram aprontando contra os brasileiros em torneios como a Copa América e Jogos Olímpicos, em Copas do Mundo nunca deram muito trabalho.
No encontro seguinte, em 1954 na Suiça, em outra estreia, o placar foi 5 a o a favor do Brasil. Em 58, Suécia, no primeiro título mundial do Brasil, a estreia foi contra a Áustria, batida por 3 a 0. No bi em 62, no Chile, a vítima na estreia foi, de novo, o México, que só levou de 2 a 0 porque Carbajal fechou o gol.
Em 1966, na Inglaterra, em que pese a tragédia que se seguiria, a estreia foi boa, com 2 a 0 sobre a Bulgária, no último jogo que reuniria Pelé e Garrincha.
A estreia em 1970, no México, foi a primeira que vi, e anunciava a trajetória daquela seleção brasileira. Os 4 a 1 sobre a Tchecoslováquia revelava ao mundo Jairzinho e mostrava que Pelé ainda estava longe de acabar.
A Copa de 1974, na Alemanha, ainda Ocidental, foi o início do longo jejum verdeamarelo, e o empate de 0 a 0 contra a Iugoslávia já anunciava isso. Só não perdemos porque Lis Pereira tirou uma bola em cima da linha. Foi a primeira Copa vista em cores no Brasil.
Em 1978, na Argentina, novo empate, de 1 a 1, agora contra a Suécia. O jogo ficou famoso por causa do gol de Zico após um tiro de canto, anulado pelo árbitro, que alegou ter apitado o fim do jogo com a bola no ar. Então porque permitiu a cobrança do escanteio?
A Copa na Espanha, em 1982, foi marcada por aquela que muitos consideram a melhor seleção brasileira de todos os tempos, o que é uma rematada besteira. tanto é que a estreia contra a União Soviética teve frango de Valdir Peres, dois pênaltis não marcados cometidos pelo "classudo" zagueiro Luizinho, mas os apologistas de Telê Santana só lembram dos golaços de fora da área marcados por Sócrates e Éder. As mesmas deficiências seriam decisivas mais adiante, no que passamos a chamar de "Tragédia de Sarriá".
Segue-se a maior sequencia de vitórias em estreias de Copa de uma seleção em todos os tempos. E também de "apitos amigos". Em 86, no México, vitória e 1 a 0 contra a Espanha, com chute de Michel em bola que bateu no travessão e entrou, mas não foi visto pelo juiz australiano.
Em 1990, na Itália, vitória de 2 a 1 contra a Suécia, num jogo sem graça, como era o time de Lazzaroni. Em 1994, nos EUA, vitória por 2 a 0 contra Camarões, adversário de mais adiante, com Romário apresentando seu cartão de visitas e Raí marcando em pênalti, na única coisa útil que ele faria naquela competição.
Em 1998, na França, jogo difícil contra a Escócia, 2 a 1, com gols de Cesar Sampaio, que depois acabou fazendo penalti convertido por Collins e gol contra de Boyd após jogada de Cafu, na estreia de Ronaldo em Copas, já que ele não entrou em campo nos Estados Unidos. Como se vê, Neymar se saiu bem melhor.
No primeiro jogo do penta, em 2002 na Coréia do Sul, polêmica vitória por 2 a 1 contra a Turquia, com aquele pênalti cavado por Luizão, que foi agarrado na meia-lua mas arrastu o zagueiro adversário até dentro da área, onde caiu e enganou o árbitro coreano. Os turcos ficaram tão furiosos quanto os croatas este ano, mas o os assustou mesmo foi a entrada de Denilson aos 22 minutos de segundo tempo, que infernizou tanto sua defesa que quando as duas seleções se reencontraram na semifinal, resultou no que seria a imagem do Mundial, com quatro turcos perseguindo o atacante até a linha lateral.
Em 2006, na Alemanha, a estreia também adiantou o que se veria nos jogos posteriores. O magro 1 a 0 contra a mesma Croácia, com Ronaldo e Adriano fora de forma, Ronaldinho esbanjando passes errados, teve em Kaká a salvação, em chuta da entrada da área. O goleiro era o mesmo Pletikosa, que ontem levou dois gols da entrada da área.
Na última Copa, na África do Sul, em 2010, outra vitória difícil contra um adversário quase inexpressivo, a Coréia do Norte, muito distante do escrete que surpreendeu o mundo em 1966. Foi 2 a 1, com gols brasileiros de Elano e Maicon, ou seja, o ataque não funcionou.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

70 anos do Dia D

A efeméride de hoje reúne três das minhas paixões: Cinema, História e, especificamente, a II Guerra Mundial. O Dia D, ou Dia do Desembarque na Normandia, em 6 de junho de 1944 é a mais famosa operação aliada na última grande guerra e vendida pelos americanos via Hollywood como a batalha decisiva do conflito. Na realidade, a luta contra o nazismo já havia sido decidida  em Stalingrado e Kursk, no ano anterior, quando as melhores e mais experientes tropas de infantaria e Panzer alemãs foram destroçadas pelo Exército Vermelho. Dali em diante, a guerra para a Wermacht na Frente Russa seria uma grande retirada.

Desde que os americanos entraram em combate, Stalin vinha cobrando uma frente ocidental, já que a URSS arcou com a maior parte da resistência aos alemães a partir da Operação Barbarossa. John Lukacs defende a fascinante teoria de que um dos motivos cruciais para que Hitler invadisse a União Soviética era fazer com que Churchill se rendesse antes que os Roosevelt entrasse na guerra. A posição da Grã-Bretanha era, de fato, estratégica: sem uma Marinha capaz de realizar uma invasão por mar, coube à Luftwaffe tentar por os ingleses de joelhos, o que não funcionou, e até pelo contrário, fazendo Goering perder aviões e pilotos insubstituíveis. O oposto também era verdade: sem as ilhas britânicas, os americanos pouco poderiam fazer na Europa, apenas incomodar em frentes secundárias como o Norte da África, a Itália e os Bálcãs. Como nas diversas guerras europeias anteriores, a França seria o grande campo de batalha ocidental.

Se Hitler não tinha os meios materiais para atravessar o Canal da Mancha numa operação anfíbia, o mesmo não acontecia com os Estados Unidos e seu gigantesco parque industrial fora do alcance do inimigo. A Batalha do Atlântico havia terminado na prática em 1943, quando os U-Boat alemães foram praticamente erradicados das rotas de suprimentos. Em 1944, somente o clima e Erwin Rommell, a Raposa do Deserto que se tornou comandante da defesa da costa francesa. Este achava corretamente que era imprescindível impedir o estabelecimento de cabeças de ponte nas praias, enquanto outros generais achavam que se deveria permitir o desembarque para massacrar o inimigo - que ataca com infantaria leve e poucos blindados - em contra ataques com divisões Panzer. Obviamente eles subestimavam a capacidade de mobilização de recursos dos americanos.

O que aconteceria se o Dia D fracassasse, uma possibilidade concreta, apesar da enorme superioridade aérea e naval aliada? Possivelmente a guerra se estenderia por mais alguns meses, mas o que é mais importante é que provavelmente toda a Alemanha e a Aústria se tornariam território ocupado pelos soviéticos. A inevitável Guerra Fria que se seguiu partiria de uma posição muito mais vantajosa para os russos, e talvez não houvesse nem espaço para o surgimento da Otan. Nesse caso, mesmo não tendo sido o turning point do conflito como fomos acostumados a acreditar, o Desembarque na Normandia continua tendo uma importância capital para o mundo que conhecemos hoje. A Europa e o Ocidente em geral devem reverenciar a data e seus heróis, especialmente os que desembarcaram nas praias sob fogo de metralhadoras e obuses.

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Os Filmes
Duas produções cinematográficas são fundamentais para lembrar o Dia D: "O mais longo dos dias", de 1962; e "O Resgate do Soldado Ryan", de 1998. O primeiro inaugurou o gênero "Grandes operações", que abordavam as grande batalhas da II Guerra com um elenco de astros e fragmentando a ação em cenas menores, como "Uma Batalha no Inferno" (Batalha do Bastogne), "Tora, Tora, Tora" (Pearl Harbor), "Midway" e "Uma Ponte Longe Demais" (Operação Market-Garden). Entre as estrelas que lutaram na Normandia de Hollywood estavam John Wayne, Henry Fonda, Ricchar Burton, Robert Mitchum e um Sean Connery antes de James Bond.
O segundo, que deu o segundo oscar a steven Spielberg,  tem como cenário a praia de Omaha, o desembarque mais sangrento, apenas nos primeiros minutos - mas que minutos! Deve ser a sequencia de batalha mais emocionante e estressante já filmada, especialmente para quem teve a chance de assistir no cinema, como eu. O resto nem é tão bom assim, mas aquele começo é sensacional.
Fora da telona, existe a minissérie "Band of Brothers", da HBO, que conta a trajetória da Easy Company, que fazia parte da 101a Divisão Aerotransportada. Eles pegaram as maiores pedreiras que os americanos enfrentaram na Europa - Dia D, Operação Market Garden e Batalha do Bulge - e obtiveram o grande premio de ocupar o Ninho da Águia, o Quarte-Geneal de Hitler nos Alpes.
Ficaram tão famosos que o nome Easy Company - Companhia Moleza - deu o nome à tropa do Sargento Rock, um dos grandes soldados dos quadrinhos.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Jornalistas no cinema

Aproveito o Dia do Jornalista, hoje, uma segunda-feira, para listar meus filmes favoritos que tem colegas como protagonistas. O primeiro é fácil, "A Primeira Página" (1974), de Billy Wilder, a enésima adaptação da peça de Ben Hecht e Charles MacArthur, mas valorizada pelo cinismo do diretor e pelo elenco com a dupla Walter Matthau & Jack Lemmon, e uma muito jovem Susan Sarandon. Trata-se da cobertura da execução de um pobre coitado acusado de assassinar um policial, que acaba tendo uma reviravolta com o surgimento de provas que o inocentam. Mathau é o editor que faz com que seu melhor repórter, Lemmon, desista de abandonar o jornalismo por um emprego estável e o casamento com a rica e bela Sarandon

Em segundo lugar, do mesmo Wilder, "A Montanha dos Sete Abutres" (1951), com Kirk Douglas como um ambicioso repórter que vai parar num lugarejo e transforma um acidente num circo por meio do qual pretende voltar á ribalta da profissão. O recente "Quarto Poder (1997), de Costa Gravas, é quase um remake deste, como Dustin Hoffman no papel do jornalista inescrupuloso e John Travolta como um zelador que faz um grupo e estudantes reféns para ter de volta seu emprego.Aqui já estamos na era da TV e da notícia convertida em entretenimento, mesmo tema de outro grande filme, "Rede de Intrigas" (1976), de Sidney Lumet, em que Pete Finch é um âncora em vias de ser demitido que tem um ataque de nervos no ar, ameaçando se matar. Ao invés de perder o emprego, ele vira a principal atração da emissora, disparando verdades inconvenientes que o público adora. Numa ironia do destino, Finch ganhou o Oscar de melhor Ator, mas póstumo.

"Todos os homens do presidente" (1976), de Alan J. Pakula, tem a vantagem de ser baseada naquela que pode ter sido a mais importante reportagem do século XX, já que derrubou o homem mais poderoso do mundo, o presidente dos EUA, Richard Nixon. Dustin Hoffmann e Robert Redford interpretam Carl Bernstein e Bob Woodard, repórteres do Washington Post que colocaram o prédio Watergate nos livros de história.

Difícil limitar "Cidadão Kane" (1941) ao tema jornalismo, mas o roteiro de Herman J Mankiewicz e Orson Welles é preciso quando mostra a transformação do jornalismo em meados do século passado, e o poder que os magnatas da imprensa teriam com essa modernização, como William Randolph Hearst - o modelo do filme - Assis Chateaubriand e Roberto Marinho em terras tupiniquins.

"O Jornal" (1994), de Ron Howard, não é tão bom quanto os acima citados, mas traz um problema importante para o jornalismo: o processo industrial da mídia impressa versus o compromisso jornalístico. O velho bordão "Parem as máquinas!" já não existe há décadas, pressionado pelas demandas trabalhistas, de distribuição e logística da imprensa. É nesse campo que se dá o embate entre o editor-chefe Michael Keaton e a diretora industrial Glenn Close, ambos jornalistas, que que entram em conflito por conta de uma notícia e última hora que pode salvar uma vida, mas comprometer todo o cronograma do jornal.

E você, jornalista e/ou cinéfilo, tem algum outro preferido sobre essa mais do que carreira ou profissão, mas uma vocação de vida?


terça-feira, 1 de abril de 2014

Há meio século...

Marcos Kimura

Escrevo e publico este texto hoje, 1º de abril, por que essa é a data correta do golpe contra João Goulart há 50 anos. 31 de março se tornou o dia oficial da “Revolução” por que os militares não queriam que sua quartelada fosse comemorada no Dia da Mentira – ou dos Tolos, segundo os americanos. Ou seja, a história oficial ainda se dobra à manipulação dos generais quase 30 anos depois da redemocratização do Brasil.

Mais do que rememorar o início de um dos períodos mais negros da história do País, a efeméride deveria servir para olharmos para o presente de olho nas semelhanças com o cenário de meio século atrás. Está havendo um recrudescimento do moralismo ( “mulher com roupa curta está pedindo para ser atacada”), da intolerância e até mesmo do saudosismo da caserna, como atesta a ridícula – porém, significativa – tentativa de reeditar a Marcha com Deus e a Família. De certa forma, tudo isso é devidamente alimentado por uma imprensa decadente que vê na manipulação da informação como forma de voltar a ser relevante como foi na época das Diretas Já e na deposição de Fernando Collor.

Curiosamente, quando o povo foi às ruas no ano passado, jornais, revistas e TVs foram apanhados de surpresa, e por conta dos recentes cortes de pessoal feito nas redações por conta da crise das mídias tradicionais, restou pouca gente com experiência para fazer uma cobertura decente dos acontecimentos. Praticamente toda a mobilização foi feita por meio das redes sociais, que andaram se transformando em palanques, fontes de informação (falsas e verdadeiras) e manifestações on line, que muitas vezes se veem frustradas na vida real (nas urnas, especialmente) levando a muitos desses militantes de sofá a culpar o povo “ignorante” por não sabe votar. Por outro lado, houve quem tirou a bunda da cadeira e partiu para a mobilização de verdade, seja à esquerda ou à direita. Ainda é cedo para enxergar algum reflexo nas eleições que se aproximam.

Pior de tudo é a volta da paranoia anticomunista, que acusa este governo de querer transformar o Brasil num gigantesca Cuba ou Venezuela. O anticomunismo é o tradicional catalisador de golpes e tentativas de na América Latina, e mesmo sendo um anacronismo, a volta insistente desse discurso nos últimos meses não deixa de ser preocupante.

O que alivia é ver os quartéis em silêncio, sem qualquer tentativa de usar a data politicamente para confrontar o atual regime democrático. Claro que o cenário mundial é outro, mas à parte a Guerra Fria no auge no início dos anos 60 (pouco tempo depois da Crise dos Mísseis de Cuba) o golpe brasileiro tinha começado a ser gestado em 1922, no Tenentismo. A partir do episódio do Forte de Copacabana, em que 18 militares e civis enfrentaram as tropas fiéis a Artur Bernardes, grande parte da oficialidade passou a acreditar na missão redentora das Forças Armadas de salvar o País das mãos os oligarcas da política do Café com Leite. A participação na Revolução de 30 foi frustrada pelas artimanhas de Getúlio Vargas para permanecer no poder, e após 15 anos, derrubaram o ditador para garantir uma eleição em que dois militares concorriam.

O retorno de Vargas, desta vez eleito diretamente, fez os quartéis ficarem em polvorosa e tribunos como Carlos Lacerda, secundados por grande parte da imprensa, pregavam o golpe descaradamente. Getúlio conseguiu reverter a situação e forma extrema, suicidando-se adiando em 10 anos a quartelada anunciada.
Quando ela aconteceu, Lacerda, Adhemar de Barros e outros líderes acharam que, exilando o legado getulista juntamente com o governo João Goulart, finalmente havia chegado a vez deles. Só que desta feita, os militares estavam dispostos a exercer  o poder sem a interferência de políticos carismáticos, e cassaram os direitos políticos dos aspirantes ás eleições de 1965, que nunca aconteceu.

Segundo Elio Gaspari em sua importante obra “As Ditaduras”, defende que o regime militar implodiu por conta da insubordinação da Linha Dura, responsável pelo aparato repressivo que, quando não havia mais militantes da lutar armada para prender, torturar e matar, passou a caçar qualquer opositor.  Ernesto Geisel e seu “bruxo”, Golbery do Couto e Silva, articularam então a abertura lenta, gradual e progressiva, exonerando o generais mais extremistas e concedendo a anistia parcial.

Mesmo passado todo esse tempo depois da tropa ter se recolhido à caserna, parece haver um acordo silencioso entre as Forças Armadas e os sucessivos governos democrático para que os militares não se manifestem sobre assuntos políticos, em troca de não se investigar os diversos episódios obscuros da ditadura militar. A atual Comissão da Verdade começa a arranhar a superfície dos mistérios do período, como a possível assassinato de Juscelino Kubistchek e o desparecimento de Rubens Paiva. Mesmo assim, os responsáveis vivos permanecem impunes, muitos sob o manto de uma Lei de Anistia concedida por seus pares, o que vai na contramão dos vizinhos do Cone Sul, cujos militares também haviam deixado garantias de impunidade no aparato legal, devidamente derrubadas pela democracia. Como é que se supõe que o Brasil siga em frente como país civilizado enquanto os crimes da ditadura permanecerem impunes e fatos históricos como a morte de João Goulart no exílio ou o atentado do Rio-Centro continuarem sem solução?


Meio século depois do 1º de abril de 1964, ele permanece um corpo insepulto na sala de estar da democracia. É um cadáver em decomposição a céu aberto.