Como
todos os brasileiros, especialmente aqueles que amam o futebol, acordei ontem e cabeça inchada tentando
digerir os 7 a 1, mas fiquei mais chocado com as manchetes sensacionalistas e
com o oportunismo de diversos analistas esportivos. Poucos foram equilibrados e
sensatos como Tostão, avaliando a chamada “tragédia” como o que foi de fato:
uma partida de futebol. E, não, não foi pior que 1950 porque não foi no último jogo e o Brasil não vinha fazendo uma campanha que a colocasse como favorita. Com os desfalques de Neymar e Thiago Silva, a derrota não era surpresa dessa vez. Só não se esperava que fosse desse tamanho.
A
derrota – humilhante, é verdade – da seleção
brasileira em casa deve ser separada da Copa em si, esta sim, um sucesso,
independente da campanha da anfitriã. Na era moderna do futebol, Itália em 90 e
Alemanha em 2006 fizeram a Copa e não levaram. A vida continuou e ambas as
seleções continuaram entre as melhores do mundo. O torneio no Brasil já se
coloca como um dos melhores já realizados, em números, calor humano e até em
mobilidade.
Antes
dessa terça, já estava claro que o Brasil também não levantaria a taça. Sabedor
da inferioridade de seu time, Felipão tentou surpreender o técnico alemão
escalando Bernard. Mas foi Joachim Löw quem deu o golpe de mestre.
Ao
escalar Miroslav Klose no inicio da partida – coisa que não havia feito em
nenhum jogo até então – o treinador alemão acrescentou um ingrediente à tensa
semifinal, o tal recorde de gols em Copas então em pode de Ronaldo, para o qual
fazemos o maior carnaval e os alemães não estão nem aí. Criou obviamente uma preocupação
a mais para a improvisada defesa brasileira, e o resultado foi o gol no
primeiro escanteio, feito por um desmarcado Thomas Muller, enquanto todo mundo
estava pulando com o veterano centroavante de 36 anos. O minutos seguintes foi
resultado de um time que se jogou ao ataque na base apenas da vontade contra um
adversário organizado e repleto de jogadores de qualidade, especialmente no
meio-de-campo. E o gol de Klose a seguir, superando a marca do ídolo daqueles
garotos, foi o que de menos ruim aconteceu. Foi tão atordoante que o próprio Luis Felipe Scolari ficou atônito no banco, sem saber o que fazer: só mexeu no time no intervalo, quando a vaca já tinha ido para o brejo.
Pode
parecer um contrasenso, mas o placar jamais seria tão elástico se o jogo não
fosse no Brasil. A obrigação de mostrar serviço em casa fez o time se atirar
irresponsavelmente para cima da Alemanha. Lembrou o mito, criado pela
propaganda nazista, da Cavalaria Polonesa fazendo carga sobre as Divisões
Panzer em 1939. Historiadores militares modernos dizem que isso nunca
aconteceu, mas o massacre do Mineirão, sim.
Como
escreveu Tostão em sua coluna na Folha de S. Paulo: “Os jogadores, Felipão e a comissão técnica têm de ser
criticados por erros técnicos, mas não devem ser massacrados. Eles trabalharam
com seriedade e fizeram tudo para o Brasil ser campeão”. Acima de tudo, se isso servir como ponto de
partida para um saneamento na CBF e do que cerca o futebol brasileiro, não terá
sido em vão.
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