quinta-feira, 10 de julho de 2014

A Copa e os 7 a 1

Como todos os brasileiros, especialmente aqueles que amam o futebol,  acordei ontem e cabeça inchada tentando digerir os 7 a 1, mas fiquei mais chocado com as manchetes sensacionalistas e com o oportunismo de diversos analistas esportivos. Poucos foram equilibrados e sensatos como Tostão, avaliando a chamada “tragédia” como o que foi de fato: uma partida de futebol. E, não, não foi pior que 1950 porque não foi no último jogo e o Brasil não vinha fazendo uma campanha que a colocasse como favorita. Com os desfalques de Neymar e Thiago Silva, a derrota não era surpresa dessa vez. Só não se esperava que fosse desse tamanho.

A derrota – humilhante,  é verdade – da seleção brasileira em casa deve ser separada da Copa em si, esta sim, um sucesso, independente da campanha da anfitriã. Na era moderna do futebol, Itália em 90 e Alemanha em 2006 fizeram a Copa e não levaram. A vida continuou e ambas as seleções continuaram entre as melhores do mundo. O torneio no Brasil já se coloca como um dos melhores já realizados, em números, calor humano e até em mobilidade.
Antes dessa terça, já estava claro que o Brasil também não levantaria a taça. Sabedor da inferioridade de seu time, Felipão tentou surpreender o técnico alemão escalando Bernard. Mas foi Joachim Löw quem deu o golpe de mestre.

Ao escalar Miroslav Klose no inicio da partida – coisa que não havia feito em nenhum jogo até então – o treinador alemão acrescentou um ingrediente à tensa semifinal, o tal recorde de gols em Copas então em pode de Ronaldo, para o qual fazemos o maior carnaval e os alemães não estão nem aí. Criou obviamente uma preocupação a mais para a improvisada defesa brasileira, e o resultado foi o gol no primeiro escanteio, feito por um desmarcado Thomas Muller, enquanto todo mundo estava pulando com o veterano centroavante de 36 anos. O minutos seguintes foi resultado de um time que se jogou ao ataque na base apenas da vontade contra um adversário organizado e repleto de jogadores de qualidade, especialmente no meio-de-campo. E o gol de Klose a seguir, superando a marca do ídolo daqueles garotos, foi o que de menos ruim aconteceu. Foi tão atordoante que o próprio Luis Felipe Scolari ficou atônito no banco, sem saber o que fazer: só mexeu no time no intervalo, quando a vaca já tinha ido para o brejo.

Pode parecer um contrasenso, mas o placar jamais seria tão elástico se o jogo não fosse no Brasil. A obrigação de mostrar serviço em casa fez o time se atirar irresponsavelmente para cima da Alemanha. Lembrou o mito, criado pela propaganda nazista, da Cavalaria Polonesa fazendo carga sobre as Divisões Panzer em 1939. Historiadores militares modernos dizem que isso nunca aconteceu, mas o massacre do Mineirão, sim.


Como escreveu Tostão em sua coluna na Folha de S. Paulo: “Os jogadores, Felipão e a comissão técnica têm de ser criticados por erros técnicos, mas não devem ser massacrados. Eles trabalharam com seriedade e fizeram tudo para o Brasil ser campeão”.  Acima de tudo, se isso servir como ponto de partida para um saneamento na CBF e do que cerca o futebol brasileiro, não terá sido em vão.

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