sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Tarantino está de volta em "Django Livre"

O Django de Tarantino, Jamie Foxx, encontra o Django de Sergio Corbucci, Franco Nero
“Django Livre”, de Quentin Tarantino, chega aos cinemas brasileiros nesta sexta (inclusive Indaiatuba, obrigado Lui Cinematográfica). Quando o cineasta foi anunciado como vencedor do Globo de Ouro de Melhor Roteiro no último domingo, o crítico Rubens Edwald Filho – que não é exatamente fã dele – comentou que ele havia conseguido transformar seu nome em um subgênero cinematográfico, o que é uma proeza. Antes dele, talvez só Frank Capra com suas comédias otimistas; Alfred Hitchcocok, com suas obras-primas do suspense; John Ford e seus westerns; Cecil B. de Mille com suas superproduções, Woody Allen e seu humor “cabeça” e o antigo Steven Spielberg pré-“A Lista de Schindler” haviam conseguido isso.
Recentemente comprei o livro “Quentin Tarantino”, de Paul Woods, uma compilação de resenhas sobre sua obra publicado originalmente em 2005 e atualizado ano passado para incluir textos sobre “Sin City” (em que ele dirige a melhor cena), “A Prova e Morte” e “Bastardos Inglórios”. É decepcionante no geral, nem tanto por não conter material inédito, mas porque as análises arranham a superfície do fenômeno Tarantino, mas não sua essência. Em resumo, não é a mistura de gêneros como kung fu, samurai, western spaghetti, policiais B ou filmes de guerra italianos - considerados menores – que fazem dele um grande diretor, mas sim saber identificar o grande cinema em filmes pequenos e transferir isso ao seu trabalho. Isso o treinou para ter um olho cinematográfico como poucos. Considere seu segmento “O Homem de Hollywood” em “Grande Hotel”, inspirado em um episódio da série de TV “Alfred Hitchcock apresenta”. A câmera entra no apartamento como a visão subjetiva da personagem de Tim Roth, num longo take em que ela é apresentada pelo próprio Tarantino aos participantes da festinha.É inspirado em “Festim Diabólico”, do mesmo Hitchcock, é sozinha, a cena é melhor que tudo o que Alison Anders, Alexandre Rockwell (que fim deram?) e Robert Rodriguez fizeram nos metros de celulóide anteriores. E a abertura de “Bastardos Inglórios”, com a música de western spaghetti, o enquadramento em panorâmica enquanto o camponês francês corta lenha?  Introduz e forma perfeita e inusitada a visita amistosamente ameaçadora do coronel Hans Landa, que durante o filme só comete um ato de violência pessoalmente, mas ainda assim é um dos vilões mais fascinantes do cinema contemporâneo.
Aliás, violência é, sim, marca regirada do cinema de Quentin Tarantino, como o subtítulo brasileiro de Pulp Fiction vaticinava: a partir daquele trabalho começava um Tempo de Violência em Hollywood. Mas não se trata de apologia, banalização ou seja lá o que mais se tenha acusado o diretor. É uma estética tirada daqueles filmes “pequenos” dos irmãos Shaw, Sergio Corbucci, Enzo Castellari, Sonny Chiba e tantos outros. Por exemplo, após a orgia de laminas e sangue em Kill Bill, segue-se a quase poética luta entre a Noiva e Oren-Ishi, sobre a neve e ao som de Santa Esmeralda.
Em “À Prova de Morte”, no entanto, suas experiências com a violência atingiram o limite do suportável, e se constituiu em seu maior fracasso. Mas ele persistiu em sua estética sádica, só que mudando de alvo, de quatro jovens lindas para nazistas, tipo de vilão de quem ninguém tem dó. Em “Django Livre”, as “vítmas” do massacre também são igualmente desprezíveis, traficantes de escravos e sulistas escravocratas. Daqui a pouco vou ver e escreverei minhas impressões.


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