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O Django de Tarantino, Jamie Foxx, encontra o Django de Sergio Corbucci, Franco Nero |
“Django Livre”, de Quentin Tarantino, chega aos cinemas
brasileiros nesta sexta (inclusive Indaiatuba, obrigado Lui Cinematográfica).
Quando o cineasta foi anunciado como vencedor do Globo de Ouro de Melhor
Roteiro no último domingo, o crítico Rubens Edwald Filho – que não é exatamente
fã dele – comentou que ele havia conseguido transformar seu nome em um
subgênero cinematográfico, o que é uma proeza. Antes dele, talvez só Frank Capra
com suas comédias otimistas; Alfred Hitchcocok, com suas obras-primas do
suspense; John Ford e seus westerns; Cecil B. de Mille com suas superproduções,
Woody Allen e seu humor “cabeça” e o antigo Steven Spielberg pré-“A Lista de
Schindler” haviam conseguido isso.
Recentemente comprei o livro “Quentin Tarantino”, de Paul
Woods, uma compilação de resenhas sobre sua obra publicado originalmente em
2005 e atualizado ano passado para incluir textos sobre “Sin City” (em que ele
dirige a melhor cena), “A Prova e Morte” e “Bastardos Inglórios”. É
decepcionante no geral, nem tanto por não conter material inédito, mas porque
as análises arranham a superfície do fenômeno Tarantino, mas não sua essência.
Em resumo, não é a mistura de gêneros como kung fu, samurai, western spaghetti,
policiais B ou filmes de guerra italianos - considerados menores – que fazem
dele um grande diretor, mas sim saber identificar o grande cinema em filmes
pequenos e transferir isso ao seu trabalho. Isso o treinou para ter um olho
cinematográfico como poucos. Considere seu segmento “O Homem de Hollywood” em “Grande
Hotel”, inspirado em um episódio da série de TV “Alfred Hitchcock apresenta”. A
câmera entra no apartamento como a visão subjetiva da personagem de Tim Roth,
num longo take em que ela é apresentada pelo próprio Tarantino aos
participantes da festinha.É inspirado em “Festim Diabólico”, do mesmo
Hitchcock, é sozinha, a cena é melhor que tudo o que Alison Anders, Alexandre
Rockwell (que fim deram?) e Robert Rodriguez fizeram nos metros de celulóide anteriores.
E a abertura de “Bastardos Inglórios”, com a música de western spaghetti, o
enquadramento em panorâmica enquanto o camponês francês corta lenha? Introduz e forma perfeita e inusitada a visita
amistosamente ameaçadora do coronel Hans Landa, que durante o filme só comete
um ato de violência pessoalmente, mas ainda assim é um dos vilões mais
fascinantes do cinema contemporâneo.
Aliás, violência é, sim, marca regirada do cinema de Quentin
Tarantino, como o subtítulo brasileiro de Pulp Fiction vaticinava: a partir
daquele trabalho começava um Tempo de Violência em Hollywood. Mas não se trata
de apologia, banalização ou seja lá o que mais se tenha acusado o diretor. É
uma estética tirada daqueles filmes “pequenos” dos irmãos Shaw, Sergio
Corbucci, Enzo Castellari, Sonny Chiba e tantos outros. Por exemplo, após a
orgia de laminas e sangue em Kill Bill, segue-se a quase poética luta entre a
Noiva e Oren-Ishi, sobre a neve e ao som de Santa Esmeralda.
Em “À Prova de Morte”, no
entanto, suas experiências com a violência atingiram o limite do suportável, e
se constituiu em seu maior fracasso. Mas ele persistiu em sua estética sádica,
só que mudando de alvo, de quatro jovens lindas para nazistas, tipo de vilão de
quem ninguém tem dó. Em “Django Livre”, as “vítmas” do massacre também são
igualmente desprezíveis, traficantes de escravos e sulistas escravocratas.
Daqui a pouco vou ver e escreverei minhas impressões.
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