sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Na terra dos faraós

egito
Cairo: o governo local está decadente, o povo tomas as ruas e parte da cidade é incendiada. Militares assumem o poder aproveitando uma viagem do chefe de Estado. Embora semelhante em linhas gerais, os fatos acima ocorreram em 1952, quando os Oficias Livres assumiram o governo, mandando o rei Farouk, um fantoche dos interesses britânicos, para o exílio. Inicialmante, o poder foi assumido pelo general Mohamed Nagib, mas o verdadeiro chefe do movimento era o coronel Gamal Abdel Nasser, que se tornaria o grande líder dos povos árabes nas décadas seguintes.
O “Campeão do arabismo” foi ambicioso no cenário interno, ao promover uma reforma agrária, lançar o projeto da represa de Assuã, incentivos à industrialização do país e nacionalizar o Canal de Suez. Aqui reside sua maior vitória. Em 1956, numa operação conjunta entre o Reino Unido e Israel, o canal foi retomado pelos ingleses, mas os interesses geopolíticos de EUA e URSS fizeram com que o primeiro-ministro Anthony Eden voltasse atrás e devolvesse Suez ao Egito. No campo externo foi ainda mais longe, ao criar o grupo dos não-alinhados (embora mantivesse acordos militares com a Cortina de Ferro) e liderar a luta contra Israel. Esse foi seu grande fracasso. Ao ser derrotado na Guerra dos Seis Dias, ele assumiu a responsabilidade pelo desastre e anunciou que estava encerando sua carreira naquele instante. Milhões de egípcios encheram as ruas do Cairo exigindo sua volta ao poder. Que diferença em relação ao seu sucessor que hoje deixa o governo do Egito.
Nasser morreu em 1970, e foi sucedido por Anuar Sadat, outro guerreiro, que também foi derrotado por Israel em 1973 na Guerra do Yom Kipur. Não se sabe até hoje se por estar convencido que não era possível vencer o estado judeu ou por ter se vendido aos EUA, o fato é que Sadat tomou a iniciativa de propor paz a Telaviv, resultando no histórico acordo de Camp David, em 1978. Sadat recebeu o Premio Nobel da Paz mas foi assassinado em 1981 num atentato atribuído à Irmandade Muçulmana, e o poder foi para seu vice, Hosni Mubarak, que deixa o poder apenas hoje.
Como se vê, o Egito nunca soube o que é democracia, e o seu futuro ainda é nebuloso. A junta militar que assumiu o o governo de transição vai resistir à tentação de permanecer no poder? O fundamentalismo islâmico é de fato uma ameaça ou era só um subterfúgio de Mubarak para permanecer no cargo como sustentáculo dos interesses americanos no Oriente Médio? Seja como for, a exemplo do contragolpe na ex-URSS há 20 anos, são momentos assim que alimentam nossa fé no poder do povo de, se não conduzir, ao menos tentar mudar fatos que parecem inexoráveis a primeira vista. Seja lá no que de no final, o povo egípcio está de parabéns.

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