sexta-feira, 6 de junho de 2014

70 anos do Dia D

A efeméride de hoje reúne três das minhas paixões: Cinema, História e, especificamente, a II Guerra Mundial. O Dia D, ou Dia do Desembarque na Normandia, em 6 de junho de 1944 é a mais famosa operação aliada na última grande guerra e vendida pelos americanos via Hollywood como a batalha decisiva do conflito. Na realidade, a luta contra o nazismo já havia sido decidida  em Stalingrado e Kursk, no ano anterior, quando as melhores e mais experientes tropas de infantaria e Panzer alemãs foram destroçadas pelo Exército Vermelho. Dali em diante, a guerra para a Wermacht na Frente Russa seria uma grande retirada.

Desde que os americanos entraram em combate, Stalin vinha cobrando uma frente ocidental, já que a URSS arcou com a maior parte da resistência aos alemães a partir da Operação Barbarossa. John Lukacs defende a fascinante teoria de que um dos motivos cruciais para que Hitler invadisse a União Soviética era fazer com que Churchill se rendesse antes que os Roosevelt entrasse na guerra. A posição da Grã-Bretanha era, de fato, estratégica: sem uma Marinha capaz de realizar uma invasão por mar, coube à Luftwaffe tentar por os ingleses de joelhos, o que não funcionou, e até pelo contrário, fazendo Goering perder aviões e pilotos insubstituíveis. O oposto também era verdade: sem as ilhas britânicas, os americanos pouco poderiam fazer na Europa, apenas incomodar em frentes secundárias como o Norte da África, a Itália e os Bálcãs. Como nas diversas guerras europeias anteriores, a França seria o grande campo de batalha ocidental.

Se Hitler não tinha os meios materiais para atravessar o Canal da Mancha numa operação anfíbia, o mesmo não acontecia com os Estados Unidos e seu gigantesco parque industrial fora do alcance do inimigo. A Batalha do Atlântico havia terminado na prática em 1943, quando os U-Boat alemães foram praticamente erradicados das rotas de suprimentos. Em 1944, somente o clima e Erwin Rommell, a Raposa do Deserto que se tornou comandante da defesa da costa francesa. Este achava corretamente que era imprescindível impedir o estabelecimento de cabeças de ponte nas praias, enquanto outros generais achavam que se deveria permitir o desembarque para massacrar o inimigo - que ataca com infantaria leve e poucos blindados - em contra ataques com divisões Panzer. Obviamente eles subestimavam a capacidade de mobilização de recursos dos americanos.

O que aconteceria se o Dia D fracassasse, uma possibilidade concreta, apesar da enorme superioridade aérea e naval aliada? Possivelmente a guerra se estenderia por mais alguns meses, mas o que é mais importante é que provavelmente toda a Alemanha e a Aústria se tornariam território ocupado pelos soviéticos. A inevitável Guerra Fria que se seguiu partiria de uma posição muito mais vantajosa para os russos, e talvez não houvesse nem espaço para o surgimento da Otan. Nesse caso, mesmo não tendo sido o turning point do conflito como fomos acostumados a acreditar, o Desembarque na Normandia continua tendo uma importância capital para o mundo que conhecemos hoje. A Europa e o Ocidente em geral devem reverenciar a data e seus heróis, especialmente os que desembarcaram nas praias sob fogo de metralhadoras e obuses.

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Os Filmes
Duas produções cinematográficas são fundamentais para lembrar o Dia D: "O mais longo dos dias", de 1962; e "O Resgate do Soldado Ryan", de 1998. O primeiro inaugurou o gênero "Grandes operações", que abordavam as grande batalhas da II Guerra com um elenco de astros e fragmentando a ação em cenas menores, como "Uma Batalha no Inferno" (Batalha do Bastogne), "Tora, Tora, Tora" (Pearl Harbor), "Midway" e "Uma Ponte Longe Demais" (Operação Market-Garden). Entre as estrelas que lutaram na Normandia de Hollywood estavam John Wayne, Henry Fonda, Ricchar Burton, Robert Mitchum e um Sean Connery antes de James Bond.
O segundo, que deu o segundo oscar a steven Spielberg,  tem como cenário a praia de Omaha, o desembarque mais sangrento, apenas nos primeiros minutos - mas que minutos! Deve ser a sequencia de batalha mais emocionante e estressante já filmada, especialmente para quem teve a chance de assistir no cinema, como eu. O resto nem é tão bom assim, mas aquele começo é sensacional.
Fora da telona, existe a minissérie "Band of Brothers", da HBO, que conta a trajetória da Easy Company, que fazia parte da 101a Divisão Aerotransportada. Eles pegaram as maiores pedreiras que os americanos enfrentaram na Europa - Dia D, Operação Market Garden e Batalha do Bulge - e obtiveram o grande premio de ocupar o Ninho da Águia, o Quarte-Geneal de Hitler nos Alpes.
Ficaram tão famosos que o nome Easy Company - Companhia Moleza - deu o nome à tropa do Sargento Rock, um dos grandes soldados dos quadrinhos.

Um comentário:

Araba disse...

Uma das mais brilhantes sínteses sobre o tema que já li. Parabéns !