sábado, 14 de novembro de 2009

Anselmo Duarte 1920-2009

Sábado passado eu estava fazendo aquele curso de Geografia, Geologia e Ecologia, no Centro de Educação de Cultura de Salto, quando, na hora do almoço, vi a notícia da morte de Anselmo Duarte. Por coincidência, eu havia justamente comentado que o teatro municipal, a Sala Palma de Ouro, localizado no térreo daquele complexo, não levava o nome do ilustre filho da cidade vizinha porque ele ainda era vivo. Abaixo da placa que identifica o espaço está escrito Tributo a Anselmo Duarte. Alguém colocou uma flor em homenagem a ele naquela tarde (foto). Único cineasta brasileiro a ganhar a Palma de Ouro do Festival de Cannes por O Pagador de Promessas, sua carreira está dividida em três fases: a de galã número um do cinema brasileiros nos anos 40, o brilhante diretor cujo auge foi o prêmio na França e a amarga personalidade que passou o resto da vida remoendo ódios e ressentimentos contra os que teriam acabado com sua carreira.
Anselmo Duarte nasceu em Salto, em 21 de abril de 1920, numa esquina da atual Rua Monsenhor Couto, em frente à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Monte Serrat, onde seu pai tinha um comércio, conhecido por Venda da Capivara. De origem humilde, é o sétimo filho de Olympia Duarte, senhora que, abandonada pelo marido poucos meses após dar a luz ao caçula Anselmo, muito se esforçava no ofício de costureira para sustentar toda a família. Ainda criança, trabalhou como engraxate, aprendiz de barbeiro e molhador de tela no antigo Cine Pavilhão, onde seu irmão Alfredo era projecionista.

Viveu em Salto até os 14 anos, quando foi para São Paulo, onde trabalhou como datilógrafo, contabilista e dançarino. Mudou-se para o Rio de Janeiro, e lá atuou como figurante em filmes e redator e repórter de uma revista.

Seu primeiro trabalho como ator foi no filme inacabado do diretor norte-americano Orson Welles, It's All True, em 1942. Maior galã do cinema brasileiro nos anos 1940 e 1950, participou de produções dos estúdios Cinédia, Atlântida e Vera Cruz. Estreou como ator principal no filme Querida Suzana, de 1946, e seu primeiro trabalho como diretor foi em Absolutamente Certo, de 1957.

De suas atuações como ator na Cinédia, destaca-se Pinguinho de Gente, de 1949. Na Atlântida, Anselmo Duarte atuou, dentre outros, em Carnaval no Fogo e Aviso aos Navegantes, ambos do diretor Watson Macedo. Uma das mais destacadas atuações de Anselmo foi em Sinhá Moça, do diretor Tom Payne, que ganhou o Prêmio Especial do Júri, em Veneza. No papel do compositor Zequinha de Abreu, em Tico-Tico no Fubá, também foi muito elogiado pela crítica.

Em Cannes, o então jovem diretor venceu concorrentes que pertencem à história cinematográfica mundial, como Luis Buñuel, Michelangelo Antonioni e Robert Bresson, mas além da glória, veio a polêmica com o pessoal do Cinema Novo, que acabou obscurecendo sua carreira posterior. A Nouvelle Vague francesa havia surgido como uma forma de reação ao que existia até então em seu país, os jovens diretores do movimento brasileiro atacaram o modelo cinematográfico predominante, cujo grande representante era o próprio Anselmo e sua Palma de Ouro. De uma hora para outro, seu cinema tornou-se velho, uma versão da cultura popular para ser vendida no Exterior, e seu talento renegado. Seus filmes seguintes – dos quais só vi o extraordinário Vereda da Salvação, baseado em peça de Jorge Andrade (como O Pagador era de um texto teatral de Dias Gomes) – foram massacrados pela crítica e fracassos de bilheteria. A partir de então, Anselmo tornou-se uma personalidade do cinema, uma figura do passado que remoia ressentimentos e ódios cada vez que lhe era dada uma oportunidade. Se estava certo ao atribuir exclusivamente aos cinemanovistas e alguns críticos o fim prematurao de sua carreira é difícil saber. No entanto, Vereda da Salvação, Quelé do Pajeú, Um Certo Capitão Rodrigo e O Crime do Zé Bigorna merecem ser reavaliados longe das polêmicas estético-ideológicas da época.

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