segunda-feira, 15 de março de 2010

Ilha do Medo


Acabo de ver "Ilha do Medo", quarta parceria entre Martin Scorsese e Leonardo di Caprio, e creio que foi a que mais me agradou à saída do cinema. Fui desconfado por conta de Luiz Carlos Merten, que disse que o filme não o pegou, mas a mim, sim. Além disso, a referencia ao "Gabinete do Doutro Caligari" feita no pressbook entrega o mistério, ao menos pra quem assistiu a obra que inaugurou o Expressionismo Alemão. A maioria talvez pense em "O Sexto Sentido", mas Scorsese é mais honesto do que Shyamalan, que fez da supresa a grande - senão única - grande virtude de seu filme.


O que importa em "A Ilha do Medo" não é tanto o insight final, mas a construção da narrativa, ao mesmo tempo cheia de cultura cinematográfica sem necessariamente cair na citação óbvia - a não ser num traveling hitchocockiano mais para o final. Em entrevista a Merten no Festival de Veneza, Scorsese teria citado Mark Robson como uma das referências, e logo imaginei o clima claustrofóbico de seus filmes na RKO produzidos por Val Lewton. Mas há também algo do clima anti-comunista de "Os Criminosos não Merecem Premio", também de Robson. Patricia Clarkson num rápida aparição até cita o argumento de "Sob o Domínio do Mal" original, outro clássico da Guerra Fria, como uma conspiração. Divertido.
Há uma certa tradição no suspense psiquiátrico (em que a solução do caso está nas mãos ou na cabeça de um psiquiatra), que começa com "Spellbound - Quando Fala o Coração", de Alfred Hitchock. Divulgado na época como primeiro filme inspirado nas teorias de Freud, acabou soando falso, tanto pela psicanálise de botequim quanto pelas sequencias de sonhos criadas por Salvador Dali. Outra incursão de Hitchcock na área foi em "Psicose", na explicação final do psiquiatra, justamente o ponto fraco deste clássico. Existem outros exemplos, que de cabeça me lembro de "Irmãs Diabólicas" (1973), "Vestida para Matar" (1980) e "Sindrome de Cain" (1992), todos de Brian de Palma emulando Hitchcock; "Identidade" (2003), do eclético James Mangold etc.
"Ilha do Medo" se soma a essa lista, porém, com a classe e talento de Martin Scorsese. Programão.



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