terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Woody Allen e o destino

Há cinco anos, Woody Allen inaugurou uma nova fase em sua cinematografia com "Match Point", seu primeiro trabalho fora dos Estados Unidos, longe de sua Manhattan e o início de sua colaboração com sua nova musa, Scarlett Johansson.Basicamente era um retorno ao tema dostoievskiano de "Crimes e Pecados", acrescido de uma paixão sexual inexistente no filme de 1989. Também entra em cena uma elemento que vai marca essa nova fase: o destino. O resultado de um jogo de tenis pode depender se a bola cai de um lado ou outro da rede, ou se a prova de um crime desaparece ou não.
O tema retorna em "Você vai conhecer o homem de seus sonhos", seu mais recente trabalho, em cartaz no Multiplex Topázio (mas, provavelmente, só até quinta), que infelizmente não foi tão bem recebido quanto o anterior, "Tudo pode dar certo". O clima parece mais com "Match Point", embora não envolva necessariamente um homicídio, e as esperanças e frustrações são criadas a partir de idealizações dos personagens em relação à vida e ao amor, como em "O Sonho de Cassandra", outro trabalho sombrio dessa fase recente. Alguns manipulam, outros são manipulados mas todos se iludem. Na subtrama do escritor frustrado, revemos citação de "Um Lugar ao Sol" que vem se repetindo em Allen. Em "Match Point", Jonhathan Rhys-Meyers reproduz o arrivista de Montgomery Clift do filme de George Stevens, que se livra da amante para manter o casamento de interesse, com a diferença que se dá bem. Em "Scoop", Hugh Jackman tenta matar Scarlett Johansson do mesmo jeito que Clift se livra de Shelley Winters, mas comete um engano de informação. Aqui, Josh Brolin, demonstrando grande versatilidade, também comete um crime para ficar com o best-seller e a garota bonita, mas um erro de informação o mantém em suspense. No placar dos trapaceiros de Allen, uma vitória, uma derrota e um empate. O acaso decide.
"Você vai conhecer os homem dos seus sonhos" mostra uma curiosa maturidade do diretor na terceira idade, em que ele não hesista em ridicularizar velhos sátiros (o próprio Allen é casado com a ex-enteada, como todo mudo sabe) na figura de um Anthony Hopkins patético (não na atuação) em sua busca pela juventude. Naomi Watts tem os melhores momentos de interpretação do filme, nas cenas da tensão sexual no carro (brilhantemente conduzida pelo diretor), da revelação da amiga e no confronto final com a mãe. A personagem da mãe é conduzido com a habitual competencia britânica pela veterana Gemma Jones, que flana pela história alheia aos dramas dos demais personagens, iludida pela vidente vivida por Pauline Collins (a Shirley Valentine do filme de 1989). Como a devota idosa do conto de Voltaire, "A Velha e o Brâmane", ela acaba feliz sendo estúpida.

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