quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Medos


Harue Kimura

Todos nós temos medos de alguma coisa. Isto é normal. Eu, por exemplo tinha medo do escuro. Tinha de ter uma luzinha no quarto senão não entrava na cama.Às vezes mesmo com a lamparina acesa tinha sobressaltos com o barulho, principalmente de batidos roucos e sincopados. Influencia das história de
lobisomem com corpo de cachorro com orelhas enormes que ao andar batiam no chão fazendo plot...plot...Então cresci e os medos foram de outras coisas.
Sabrina Assayo, minha neta tinha medo de mulher muito pintadas (maquiadas), palhaços e até do coelhos enormes que as lojas colocavam nas vitrines nas épocas de páscoa. Nos finais dos anos havia o enorme homem que fazia ho..ho...ho, o nosso conhecido Papai Noel. A criançada fazia filas para sentar no seu colo para ganhar algumas balas e dizer que presente gostaria de ganhar. Sabrina se escondia atrás dos
pais, e não chegava perto de jeito maneira..
Estava ela, a Sabrina com seus dois prá três anos, os avós (eu e Tetsuo, meu falecido marido) para ver desfile de carnaval. Enquanto Tetsuo foi procurar um local para estacionar o carro, ficamos esperando perto do local onde estavam os carros alegóricos e os carnavalescos, fantasiados que iriam desfilar.
Quando minha neta viu homens e mulheres fantasiados de índios, com todos adereços e pintados da cabeça aos pés, começou a berrar e com as perninhas rechonchudas correu prá longe daquilo e eu corria também para não a perder de vista.
“Sabrina, disse eu, são pessoas que estão fantasiadas.”Não quis saber de nada e até tremia de medo.Ela pegou na minha mão puxando-me prá longe , mais prá longe. Tinha que ficar pois Tetsuo iria nos procurar após deixar o carro estacionado. Não queria saber de nada e queria, queria ir prá casa.
Não teve nada que a segurasse.por lá.
Começamos a andar, a Sabrina me guiando...A principio devagar, eu torcendo pra que Tetsuo chegasse e nos visse. Quando a banda começou a tocar, isto é deu inico ao desfile, Sabrina agarrou minhas pernas pedindo colo pra se proteger.A menina já nasceu maior que a maioria dos bebês e aos dois anos e meio era muito pesada. Não tendo outro jeito carreguei a Sabrina e andei por dois quarteirões. “Vamos descansar
um pouco” e sentamos na calçada. “Ba, disse ela depois de alguns minutos: “Já deu pra descansar, vou andar você segurando minhas mãos”. “Tou cansada, me carrega um pouco?”
Desde o trevo da avenida Conceição até a minha casa é um bocado de chão. Enfim chegamos. Eu quase sem fôlego e Sabrina além de cansada morrendo de sono. E pra piorar mais a situação a chave da casa estava com Tetsuo. Abrimos o portão, felizmente a chave do cadeado do portão estava comigo. Tirei o agasalho, sou prevenida . mesmo em pelo verão nunca saio sem uma blusinha a mais. Forrei o chão com a blusa e deitei Sabrina que fechou os olhos e dormiu. Já eram vinte e três horas. Daí a uma hora mais
ou menos chega Tetsuo preocupadíssimo. Respirou aliviado quando nos viu.
Da outra vez, levei-a para o SESI, na semana das Crianças que a entidade sempre promove brincadeiras e eventos próprias para as crianças. Gostou do pula pula., escorregador, mas de repende aparece um palhaço oferecendo doces. O dia estava perdido, não houve palavras ou promessas que a demovesse do seu intuito de ir embora.
Agora, Rui Daisaku, meu neto menor, tem medo dos pesadelos. Muitas vezes no meio da madrugada vem ao meu quarto, pedindo para dormir comigo. Minha cama é de solteiro, e não cabe mais um, mesmo criança. Uma madrugada o Rui Daisaku se esgueirou de tal forma que só percebi quando me vi
na beirinha da cama. “Aposto que sonhou com os monstros dos quais aparecem nos seus
jogos”, falei. Daí muito sem graça concordou com a cabeça. Eram 1h3. Tirei a cama de reserva que está em baixo da minha, o que dá um trabalhão. “Eu ajudo, bá”. Não é que o menino tem força...Forrei com uma colcha e lençol.. Rui se encarregou de trazer seus travesseiros (dois) o ededron mais cobertor . Deitou e dormiu o sononos “justos”. Mas a Harue demorou prá aconchegar-se nos braços do Morfeu.

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