terça-feira, 19 de julho de 2011

Meia-noite em Paris


Todo mundo diz eu te amo para o novo filme de Woody Allen, "Meia-noite em Paris". Também gostei, mas talvez nem tanto assim. Há muitas idéias recicladas de outros de seus próprios filmes. A abertura, por exemplo, remete a Manhattan, com sua longa - mesmo! - sequencia de imagens da capital francesa. Owen Wilson é o Woody Allen da vez, assim como já o foram John Cusack em "Tiros na Broadway", Kenneth Branagh em "Celebridades", Jason Biggs em "Igual a Tudo na Vida", Will  Ferrell em "Melinda e Melinda", Rebecca Hall em "Vicky Cristina Barcelona" e Larry David em "Tudo pode dar certo". O intelectual metido de Michael Sheen também já foi ridicularizado em Annie Hall (recuso-me a usar a tradução brasileira) e Manhattan. Sem falar no realismo fantástico que ele já utilizou em Zelig, A Rosa Purpura do Cairo e Scoop.
Se não ha muita originalidade, sobra charme e encanto na história do escritor em crise - personagem recorrente, geralmente, o próprio Allen - que vive um relacionamento falido com uma bela, mas superficial mulher, e que precisa de um empurrão para se decidir. Esse vem por meio de uma viagem fantástica pelo tempo em que ele vai parar na Paris dos anos 20, habitada por personagens tornaram a cidade e a época uma espécie de Olimpo intelectual e artistico do século XX. Allen recria Paris é uma festa - livro de Hemingway sobe o período - de forma divertida, passando pelos estereótipos do casal perturbado formado por F. Scott e Zelda Fitzgerald, do machismo bravateiro do próprio Ernest, o sexismo de Pablo Picasso, a personalidade de Gertrude Stein e o nonsense marketeiro de Salvador Dalí. Tudo para levar o público medianamente letrado às gargalhadas a cada referencia.  Até surgir a musa Marion Cotillard.

O primeiro close dela é de estrela, com direito a filtro usado nos velhos tempos do Star System. Sua beleza, currículo (foi amante de Picasso, Braque e Modigliani) e formação (pagou uma prostituta da Place Pigalle para ensinar as manhas quando ainda estava no colégio de freiras) fazem o pobre Owen Wilson nem perceber que a noiva está tendo um caso com um sujeito que não suporta. Mas se ele acha que a Paris da Geração Perdida é seu habitat natural, ela tem saudades da Belle Epoque dos impressionistas.
É interessante Woody Allen abordar a sindrome da Era de Ouro, sendo que ele mesmo é integrante de um outro momento e local mítico no século XX, que é a Nova York dos anos 70 e 80, descrita por escritores como Truman Capote e Tom Wolfe, da mítica boate Studio 54, da música dos Talking Heads, Laurie Anderson e tantos outros, dos filmes de cineastas como Martin Scorcese e o próprio Allen.
Mas o diretor anda divorciado com sua Manhattan e parece apaixonado pela Europa, onde sua carreira renasceu e seus filmes não são julgados pela bilheteria. No final de seu filme, seu alter ego se concilia com seu tempo, mas decide que precisa de um lugar novo para se reciclar. Como em Manhattan, o close rosto de uma bela e jovem mulher é a esperança de um novo começo.

Um comentário:

Sheila Ginicolo disse...

Eu adorei o filme, sai encantada!! Mais uma vez Woody Allen me surpreende! #recomendo