Por Marcos Kimura (com informações da Agência Estado)
O rapper Emicida –
que será uma das principais atrações da Virada Cultural Paulista em Indaiatuba,
no próximo final de semana – foi preso domingo passado em Belo Horizonte,
acusado de desacato à autoridade durante um show. O motivo foi que antes
de cantar a música “Dedo na Ferida”, que abriu o show, ele chamou a atenção do
público: "Antes de mais nada, somos todos Eliana Silva, certo? Levanta o
seu dedo do meio para a polícia que desocupa as famílias mais humildes, levanta
o seu dedo do meio para os políticos que não respeitam a população e vem com
'noiz' nessa aqui, ó. Mandando todos eles se fu..., certo, BH? A rua é
'noiz'". “Eliana Silva” é o nome dado à invasão de um grupo de famílias
sem-teto a um terreno em Belo Horizonte. As pessoas que estão nessa área
estariam sendo impedidas de manter contato com quem se encontra fora dela. O
espaço começou a ser desocupado na manhã de sexta-feira (11).
Os policiais militares que
prestavam serviço no local consideraram o gesto ofensivo e encaminharam o
cantor para o 39º DP por volta das 19h30. Ele foi liberado três horas depois
sem assinar o Boletim de Ocorrência, acusando erro nas informações prestadas
pelos PMs.
Ao sair da delegacia, Emicida
foi abordado pela reportagem da TV Record e se mostrou abalado com a situação.
"Dia 13 de maio de 2012, dia da Abolição da Escravatura. Dia em que um
negro foi preso por cantar uma música", disse.
A coincidência do episódio
ter ocorrido no dia 13 de Maio reforça o caráter preconceituoso da ação
policial. Se no lugar de Emicida estivesse um medalhão branco da MPB – como Caetano
ou Chico Buarque – ou mesmo um negro “institucionalizado” – como o ex-ministro
Gilberto Gil – , os PMs teriam a mesma atitude? Claro que não.
Emicida é um dos grandes nomes do rap nacional, só que isso
não é música para muita gente – inclusive para a tradicional Polícia Mineira,
que já foi gíria para “grupo de extermínio”. Particularmente, não sou fã dele –
no gênero, prefiro Racionais MC e até Pavilhão 9, que ressuscitou mês passado
no Lollapalooza. Mas o direito do artista à expressão é uma das principais e
mais duradouras conquistas do processo de redemocratização do Brasil. Não pode
ser questionado nem pelo gosto musical, nem pela vaga alegação de “desacato à
autoridade”.
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