terça-feira, 18 de maio de 2010

O Avatar que não deu certo

intolerance20set
Aproveitando recente convalescença, assisti “Intolerância”, um clássico que todo estudioso de cinema deve ver. Filme mudo, de 1916, com 3 horas e 16 minutos de duração não é ara um simples cinéfilo. Já foi, mas não hoje em dia. Com olhos contemporâneos é muito difícil assistr a uma estética morta, que com menos de 100 anos parece tão distante de nós quanto a Bablônia que ela retrata de forma nunca mais repetida.
D.W. Griffith era o mais repeitado cineasta daqueles primórdios da indústria cinematográfica americana, e provavelmente um dos poucos a considerarem o cinema como forma de arte. Foi um dos introdutores do conceito de longametragem em Hollywood, consgrando-se com o épico “O Nascimento de uma Nação”, de 1915, mas incomodou-se com a críticas sobre racismo, já que em sua obra, os membros da Klu Klux Klan eram os “mocinhos” e os negros libertos os “bandidos” (interpretados ridiculamente por brancos pintados de preto).
Decidiu então investir o que hoje é calculado entre US$ 400 mil e US$ 2 milhões – não importa, era orçamento recorde na época – num gigantesco painel histórico sobre a intolerância. São quatro histórias que são narradas paralelamente: uma, no tempo em que filme foi feito, outra na época da Noite de São Bartolomeu, na Paris do século 16; partes da vida de Cristo e a Queda da Babilônia. Tragédias do passado serviriam como alerta para a intolerancia nos dias de hoje.
A partir desse ponto de partida ambicioso, Griffith ergue um monumento às coquistas da Sétima Arte até então. Como já disseram outros estudiosos, a Paixão de Cristo é filmada dentro dos cânones consagrados até então para contar a história de Jesus, a corte de Catarina de Médicis é filmada no estilo Cinema de Arte francesa, a guerra entre Ciro dos Persas e Baltahzar dos babilonios segue a estética dos épicos italianos e a tragédia contemporânea tem a sintaxe do próprio Griffith, ou o melhor de Hollywood até então, à exceção das comédias.
O objetivo manifesto do cineasta era estabelecer um novo padrão ao cinema, fazer com que fosse reconhecido como Arte. Embora os méritos de "Intolerância" a tenham inscrito na história da Sétima Arte, no todo a obra é irregular, longa demais e pretensiosa. O resultado foi um gigantesco fracasso de bilheteria e um caminho possível para o cinema que foi abortado.
O paralelo que fiz com "Avatar" no título deste texto é que James Cameron também quis mudar o cinema, em crise por causa da pirataria e de outras opções de lazer doméstico, como a Internet, videogames e TV por assinatura. É longo, politicamente ingênuo, mas definitivamente apontou parta um novo caminho para a Sétima Arte. A tecnologia 3D que ele desenvolveu para o filme elevou o valor agregado da experiência de ir ao cinema e também tornou irreversível a conversão da projeção em película pelo digital. Se vai conseguir salvar a industria de Hollywood é outra conversa, mas que deu no mínimo um sobrevida, isso é certo.

Nenhum comentário: