quinta-feira, 10 de junho de 2010

Vai começar


Amanhã começa a Copa do Mundo da África do Sul, aberta oficialmente hoje. Mas o negócio só vale com a bola rolando, hoje foi só música.
Recebi outro dia meu exemplar de O Mundo das Copas, de Lycio Vellozo Ribas, um catatau de 608 páginas em tamanho de enciclopédia, e já estou na Copa da Espanha, em 1982, ainda me lamentando pela Tragédia de Sarriá. Já estava na USP àquela altura e tinha um querido amigo italiano em Campinas, seu Giorgio D'Ascenzi, que silenciosamente comemorou a vitória da Azzura enquanto seus filhos brasileiros amaldiçoavam Paolo Rossi.

Voltando ao livro: é um banho de informações, com breves resumos dos jogos, dados revisados em relação aos que conhecíamos até então. Por exemplo, sempre li que os artilheiros de 62 haviam sido cinco, incluindo Garrincha, com quatro gols cada, mas houve um erro de contabilidade corrigido em 1993, que colocou o iugoslavo Jerkovic isolado na artilharia com cinco tentos.

Mais importante é ver a evolução do esporte, ainda que muitos lamentem o fim do futebol-arte. De fato, mas isso se deve mais ao calendário futebolísitico que a uma suposta involução. Muita coisa melhorou como, a possibilidade de substituições, introduzidas em Copas apenas em 1970, os cartões amarelo e vermelho, idem, e a coibição da violência, que rotineiramente provocava fraturas e outras lesões mesmo em jogos do maior torneio mundial. Perto do que já aconteceu desde 1930, a cabeçada de Zidane em Materazzi em 2006 foi um afago.

Existe uma enorme expectativa em relação à primeira rodada, já que pode começar a definir o destino dos Bafana-bafana, como é chamada a seleção anfitriã. É um grupo difícil, com dois campeões do mundo - Uruguai e França - e a única equipe que teve um longo período de preparação - o México. Mas nunca antes a dona da casa deixou de se classificar para a fase seguinte, além de tradicionalmente receber uma considerável ajuda do apito amigo. Não preciso nem recorrer à enciclopédia das Copas recém-adquirida: basta lembrar como a Coréia do Sul foi empurrada para as semifinais em 2002.

Mas um dado interessante que esta oculto na avalanche de informações contida no calhamaço de Lycio Vellozo Ribas é como a arrogancia costuma ser castigadas nos torneios. A Inglaterra, do alto da empáfia de inventora do esporte, negou-se a disputar as primeirs Copas por considerá-las competições de baixo nível. Quande decidiram descer do pedestal, foram derrotados pelos amadores dos Estados Unidos, na primeira grande zebra dos Mundiais. A Argentina também pagou caro a ilusão difundida por Perón de que tinham o melhor futebol do planeta. Quando retornaram ao torneio em 1958, apanharam da Alemanha e da Irlanda do Norte por identicos 3 a 1 e levaram uma sonora goleada de 6 a 1 da Tchecoslováquia. Nem nós escapamos da maldição do salto alto, e o preço foram os 24 longos anos de jejum até que aprendessemos que os outros também sabem jogar bola.

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