sexta-feira, 17 de junho de 2011

Melhor do mundo


Para qualquer brasileiro, é dado como certo que o Santos foi o melhor time do mundo nos anos 60. Para muita gente pode parecer inacreditável, mas espanhóis e uruguaios não concordam. Para os primeiros, o Real Madrid, que ainda contava com Alfredo Di Stefano (para os ibéricos, o maior jogador de todos os tempos, mais que seus conterrâneos argentinos, que em geral preferem Maradona), Gento e Ferenc Puskas, foi o time da década, com seu título mundial de 1960 e da Copa dos Campeões da Europa de 1959-60 e 1965-66. Para os uruguaios, foi o Peñarol (foto) o melhor time do planeta naqueles anos, com a Libertadores de 60, 61 e 66 e os títulos mundiais de 61 e 66.Como escreveu o escritor Eduardo Galeano em Futebol ao sol e à sombra, "A bola tinha a entrada proibida no arco de Mazurckiewcz, no meio campo obedecia a Tito Gonçalves e na frente voava nos pés de Spencer e Joya. Às ordens de Pepe Sasía, rompia a rede. Mas ela se deleitava, principalmente, quando era embalada por Pedro Rocha".
Matéria publicada na Folha de S. Paulo de hoje fala sobre o ex-craque - que Pelé considerava um dos cinco melhores de sua época - , seu neto que está nas categorias de base do São Paulo e da doença que o incapacita até de falar. Lembro dele no São Paulo, que era a pedra no sapato do grande Palmeiras de Ademir da Guia, Luis Pereira e Leivinha. O tricolor paulista o contratou em 1971, após a Copa do Mundo em que o Uruguai fez sua última grande campanha antes do quarto lugar ano passado na África do Sul. (Curiosamente, no México, a Celeste Olimpica também perdeu a disputa do terceiro lugar para a Alemanha). O destino da seleção uruguaia poderia ter sido outro se Rocha, como o chamam os compatriotas, não tivesse se contundido logo na estréia, privando a equipe de seu cérebro. Era um meio-campista de toque refinado á moda Ademir da Guia, com a vantagem de ser goleador. Só pelo São Paulo marcou 113 gols e deu ao time seu primeiro título brasileiro, em 1977.

Mas apesar de lamentar o habitual bairrismo tupiniquim, e com todo o respeito ao grande Peñarol e ao Eduardo Galeano, o Santos foi mesmo o melhor time do mundo na época, porque tinha o melhor jogador do mundo. O alvinegro praiano só não dominou a Liberadores na década por que à certa altura a diretoria achou que era mais lucrativo excursionar pelo mundo do que expor as canelas de seus craques aos truculentos zagueiros sul-americanos (em meio à classe de Santos e Peñarol, o Estudiantes da Argentina descobriu a fórmula da botinada para ganhar a Libertadores). Com isso, o time de Pelé virou patrimônio do planeta, chegando a interromper uma guerra e contribuindo para autoestima de negros de todos os países.

PS: Leiam o belo texto de Xico Sá no Caderno de Esportes da Folha de S. Paulo, a respeito da atuação do zagueiro Durval no primeiro jogo da final da Libertadores em Montevidéu. Coisa de Nelson Rodrigues!

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