quinta-feira, 16 de junho de 2011

A volta do Ramo de Primavera

Lugar de mãe não é o boteco, mas a parti de hoje passo a publicar neste blog textos da minha, Harue Kimura, escritora com livro publicado e colaboradora do meu finado hebdomadário, Gente etc. Ela fala sobre a recente segunda reunião da família Sanda, que aconteceu há algumas semanas. Curiosamente, seu último texto publicado no jornal, em 2009, falava justamente sobre a primeira reunião familiar. Sobre o título do post, Ramo de Primavera, é a tradução literal de Harue, e também nome de sua coletânea de cronicas, lançada em 2008.


Segunda reunião da família Sanda, dia 29 de maio

Lembranças do Niichan

De Harue Kimura

“Bom mesmo é ir à luta com determinação. Abracar a vida e viver com paixão. Perder com classe e vencer com ousadia/ Porque o mundo pertence a quem se atreve. E a vida é muito para ser insignificante” (Charles Chaplin).
Toda manhã, oro em agradecimento pelo fato de estar viva e bem. No budismo ensina-se que o sentimento de gratidão é o que torna um ser humano nobre. É tão fácil enxergar o negativo das pessoas ao nosso redor. Pelo menos para mim, Harue, um esforço  é necessário para olhar só o positivo. No dia 29, último domingo de maio, tivemos o Segundo Encontro da Família Sanda (minha família). Fui incumbida de falar sobre meus irmãos. Dr. Luiz Ossamu, meu sobrinho, sexto filho de Minoru, meu irmão mais velho disse-me: “Tia, fale sobre episódios pitorescos de seus irmãos”. Sentei-me diante do Notebook, que ganhei deste mesmo sobrinho e quais as primeiras lembranças que vieram?
“Torne-se senhor de sua mente, ao invés de permitir sua mente dominá-la”,  dizem as Escrituras Budistas. Vamos, Harue! Empenhe-se, você consegue! Daí, lembrei-me dos meus vinte e dois anos, ainda solteira. Minoru, carinhosamente chamado de Niichan (irmão mais velho) tratou de arrumar um pretendente por medo de ter uma solteirona na família. “Suas irmãs casaram antes dos vinte... e você, nem namorado tem”, disse.
Havia sido inaugurda uma agencia do Banco do Brasil em Guaimbê, minha cidade natal, e o gerente era um nissei. Niichan tratou de pesquisar os prós e contra do possível pretendente para sua irmã caçula, eu. Soube que era desquitado, portanto solteiro.
A persuasão de Niichan foi o seguinte: “Harue, já pensou? Ser esposa de um gerente do Banco do Brasil? Não é um banco qualquer, é do Brasil!” Antes que eu pudesse avaliar as possibilidades, afinal não tinha nem mesmo um possível candidato, minha mãe Assayo retrucou: “Minha filha está com 22 anos, mas ainda não está tão desesperada para aceitar um desquitado!” Na época, desquitados eram o segundo escalão dos pretendentes.
Pouco menos de um ano depois, conheci Tetsuo. E em um ano e seis meses de namoro fui pedida em casamento. Levei-o para conhecer minha família em Guaimbê. Niicham ao vê-lo exclamou: “Dekai (grandalhão em japonês)”. Na conversa sobre qual ramo da família pertencia, em “nihonguês”, Tetsuo respondeu-lhe com um japonês perfeito deixando meu irmão deliciado e aprovando, deixando os possíveis defeitos em segundo plano. 
Niichan foi-se aos 57 anos, durante uma cirurgia para a retirada de um coagulo (trombose). Jitsuo, seu segundo filho, grande amigo meu, faleceu decorrente do mal do século, o câncer. Saudades dos que se foram, restando boa recordações. 

Nenhum comentário: