terça-feira, 14 de junho de 2011

Mostra Hitchcock

O apelido Mestre do Suspense apenas diminui a importância de Alfred Hitchcock para o cinema. A nenhum outro cineasta o cinema contemporâneo deve tanto: quase tudo o que você vê nas telas hoje ele já tinha feito. O cineasta inglês ganhou a maior mostra de sua obra já realizada no Brasil. Começou dia 1o, no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, mas no seu equivalente em São Paulo acontece a partir de amanhã e vai até 24 de julho. Também haverá um ciclo com 20 longas no Cinesesc entre 8 e 17 de julho. Além de 54 longas-metragens – incluindo clássicos absolutos como "Um corpo que cai", "Janela indiscreta", "Psicose", "Intriga internacional" etc – o festival inclui ainda três curtas e 127 episódios de séries de TV (a maioria deles vem das primeiras três temporadas, completas, de "Hitchcock Apresenta"). As exibições das obras do mestre do suspense são acompanhadas de um curso gratuito de 12 aulas, além de debates. A programação completa pode ser conferida no site da mostra.

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Essa foi  a nota que publiquei na coluna Navegando do dia 4 na Tribuna de Indaiá. Mas aqui posso me estender um pouco mais. Até os anos 50, Hitchcock era visto como um diretor "comercial". Os "artistas" de Hollywood eram caras como William Wyler, Fred Zinemann, King Vidor entre outros. O reconhecimento veio por meio dos Cahiers de Cinema, revista francesa que foi o berçário da Nouvelle Vague (diversos futuros cineastas do movimento escreviam lá, casos de François Truffaut e Eric Rohmer). Por influencia dessa corrente de crítica - a do Cinema de Autor - uma nova geração de cineastas americanos, a primeira formada em faculdades de cinema,  passou a admirar Hitchcok e absorveu suas inovações de linguagem.
Assim, a turma de Francis Ford Coppola, Martin Scorcese, Steven Spielberg, George Lucas e, mais que todos, Brian de Palma, trouxeram a sintaxe do mestre ingles do suspense ao cinema americano contemporâneo.
Mas a forma de americanos e europeus enxergarem sua obra continuou diferente. Para os primeiros, e seus seguidores brasileiros, como Adilson Laranjeira, "Intriga Internacional" foi sua obra-prima. Para os segundos, "Um corpo que cai" foi o ponto alto de sua carreira. O próprio Hitchcock tendia pelo primeiro, e não entendia direito a fascinação dos franceses pelo que ele considerava um fracasso pessoal, o que fica claro na entrevista que ele concedeu a François Truffaut, depois editada em um livro imprescindível, "Truffaut entrevista Hitchcock".
Na verdade, é o seguinte: Intriga Internacional foi tão decalcado pelo cinema de ação - inclusive a série James Bond - que ele acabou envelhecendo pela repetição. Já "Um corpo que cai", com todas as emulações feitas por Brian de Palma, Wes Craven e cia, é atemporal. Só a transformação do habitual bom moço James Stewart num necrófilo já é uma proeza sensacional. E, ao contrário do que ele mesmo pensava, Kim Novak está perfeita no papel (Ele queria Vera Miles - quem? - mas ela ficou grávida antes das filmagens).
Mestre do marketing até mais do que do suspense, Hitchcock deu um jeito de garantir sua posteridade. Cinco filmes que pertenciam a ele foram impedidos de serem exibidos em qualquer midia durante 30 anos: "Um corpo que cai, "Janela Indiscreta", "Festim Diabólico", "O Homem que sabia demais" e o "Terceiro Tiro". Quando eles foram relançados em 1984, e eu assisti a todos na ocasião, o impacto foi enorme. Uma nova geração de cinéfilos e cineastas saiu daquelas reapresentações irremediavelmente cativados por Hitchcock.
Agora, que puder ver a maior mostra de sua obra já feita no Brasil, terá a oportunidade de se apaixonar por um dos maiores criadores do cinema mundial.




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