quarta-feira, 23 de maio de 2012

O maestro soberano

O documentário "A música segundo Tom Jobim", exibido ontem pelo Cineclube Indaiatuba e Maio Musical para menos de 100 pessoas, mostrou a beleza e a dimensão da arte do maior compositor popular brasileiro do século XX. Realizado por Nelson Pereira do Santos, um precursor do Cinema Novo, ele narra a trajetória de Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim só por meio da música - todas dele - e imagens. Não tem nem legendas, e os artistas que aparecem só são identificados no final. 
Segundo o material de divulgação do filme, "Nelson  dirigiu, em 1985, um documentário sobre Tom Jobim para a televisão brasileira, com duração de quatro horas. Sempre teve grande admiração pelo compositor. Quando decidiu fazer A música segundo Tom Jobim percebeu que o acervo de fotos e filmes da família do compositor e os arquivos obtidos pela pesquisa de Antonio Venâncio eram tão ricos que o próprio material podia, por si só, contar a história de Tom. “Vi que em cada imagem havia uma outra história. E mais outra. Era uma história dentro da outra, contando tudo através da música', diz Nelson.A espinha dorsal do filme foi construída com base na música e nas imagens em movimento e fotográficas."
Foi um trabalho de equipe que reuniu a neta de Tom, Dora, que co-assina a direção com Nelson; o filho Paulo, que  fez a direção musical; a viúva Ana, que cedeu sua acervo fotográfico e de imagens; além da amiga e parceira Miúcha Buarque de Hollanda, com quem o maestro gravou dois memoráveis LPs (além do histórico show no Canecão com Toquinho e Vinícius), que escreveu o roteiro com Nelson.


Com tanta gente próxima ao tema do documentário, o trabalho resultou numa viagem afetiva, envolvente e emocional em que o público embarca com prazer.A ponto de um dos momentos mais marcantes e tristes na carreira do compositor é devidamente escamoteada : a a apresentação de "Sabiá", dele e de Chico Buarque, mostrada no filme é a competitiva, e não a mais famosa, a da vitória, que foi acompanhada por uma histórica vaia por parte dos partidários de "Para não falar que não falei de flores (Caminhando)", de Geraldo Vandré, a segunda colocada. O diretor optou pelo momento em que Tom ouve descontraído sua composição nas vozes das irmãs Cynara e Cybele ao lado do amigo e parceiro Chico, ainda sem a hostilidade de um Maracanãzinho lotado.
Duas ausências marcam o filme: Edu Lobo, com quem gravou um LP em 1982 (e seu parceiro em "Luiza") e a maior de todas, João Gilberto, que aparece só em foto na capa do LP inaugural da Bossa Nova e discretamente, sem crédito, acompanhando Elizeth Cardoso em "Eu não existe sem você", em cena retirada de um filme. É incompreensível, já que os dois se apresentaram juntos nos anos 90, em pelo menos dois shows registrados pela TV, que estão até no Youtube.
Mas mais importantes que as ausências são as presenças de Gal Costa cantando "Se todos fossem iguais a voce", Alaíde Costa em "Insensatez", Agostinho dos Santos em "A Felicidade, Silvia Telles em "Samba de uma nota só", Adriana Calcanhoto em "Ela é carioca", Nara leão em "Dindi", Maysa em "Por causa de voce", Nana Caymmi em "Sem você", Fernanda Takai em Estrada do Sol, Milton Nascimento em "Matita Perê", entre tantos outros, como os internacionais Dizzy Gillesppie, Ella Fitzgerld, Saraha Vaughn, Judy Garland, Gary Burton, Dianna Krall, Jane Monheit, Henri Salvador e outros menos cotados. No final, o próprio Tom Jobim e sua Banda Nova, formada por amigos e familiares, que a partir do disco "Passarim" o acompanhou até o fim.


Um dos pontos altos é "Corcovado", primeiro interpretado pelo autor com Frank Sinatra, que na sequencia passa para a voz de Elis Regina. Ou seja, o maior cantor americano passa a bola para a maior cantora brasileira. Ver em tela grande a perfomance dela e de Tom em "Águas de Março", visto e revisto em inúmeros especiais da TV, é algo emocionante e não deixa dúvida que se trata de uma das melhores gravações já feitas, num dos mais importantes discos brasileiros de todos os tempos. 

Um comentário:

Inah disse...

Excelente! Tom Jobim foi o maestro que trabalhava com seriedade e diversão, tornava se inspirador! A alegria de suas melodias são leves e ficam na nossa memória!