Segunda-feira foi comemorado (?) o Dia Mundial do orgulho Geek, que no Brasil chamamos de Nerd. Há uma sutil diferença entre um termo e outro no original em inglês, mas aqui adotamos o segundo principalmente por causa do filme “A Vingança dos Nerds”, de 1984, um dos hits da Sessão da Tarde. O termo associou-se aos CDFs que não tinham vida social e eram tiranizados pelos caras populares, como os brutamentes astros do esporte no colégio.
Ironicamente, nessa mesma época já estava em pleno curso a revolução geek, em que sujeitos como Steven Spielberg, George Lucas, Steve Jobs, Bill Gates, entre as estrelas mais fulgurantes, começavam a dominar o mundo. Ao mesmo tempo, as histórias em quadrinhos estavam chegando ao ápice criativo que faria com que 20 anos depois o cinema se curvasse à linguagem até então subestimada da Nona Arte, as Sagradas Escrituras dos Nerds.
Os anos 90 viram a popularização da informática e da Internet, e aqueles caras esquisitos do colégio passaram a ter um propósito: dominar tudo o que se referia a computadores e o mundo virtual. Os demais habitantes do planeta, especialmente aqueles que até então mandavam, passaram a ficar preocupados. Durante a década, filmes passaram a retratar os novos magnatas tecnológicos como vilões em filmes como “A Rede” (1995), “Hackers – Piratas de Computador” (1995) e “007 – O Amanhã Nunca Morre” (1997). O próprio Bill Gates foi retratado como um oportunista sem escrúpulos em “Piratas do Vale do Silício” (1999), competindo contra um idealista Steve Jobs (interpretado por Noah Wyle, de “ER”).
Mas a verdadeira Nêmesis de Jobs não foi Gates, mas John Sculley, um executivo colarinho branco que o próprio fundador da Apple tirou da Pepsi para tornar sua empresa uma potência. Foi o verdadeiro duelo entre a filosofia gerencial americana tradicional contra a nova mentalidade trazida pelos geeks ao mundo dos négócios. O primeiro round foi vencido por Sculley, que tirou o cara que o contratou da empresa que criou nos fundos de uma garagem. Mas não demorou muito para o próprio Sculley sair da Apple, depois de quase falir a empresa. Enquanto o executivo que fez a Pepsi vender mais que a Coca-Cola nos EUA entrou para a política e em alguns negócios menos visíveis; logo que saiu da Apple, Jobs pagou US$ 10 milhões pela divisão de animação digital da Lucas Film, uma brincadeira chamada Pixar que só dava despesa. O que aconteceu a partir de “Toy Story”, em 1995, é história, e a poderosa Disney se rendeu à união de alta tecnologia com ótimos roteiros que a Pixar criou.
Em 1996, a Apple comprou a NeXT que Jobs fundou ao ser demitido por Sculley e o criador se reencontra com a criatura. Logo o fundador da empresa da maçã reassumiu assumiu a chefia começou a retomar a vanguarda perdida, lançando produtos como o iMac, o iPod e o iPhone. Virou ícone pop e ídolo de milhões de geeks, que apontariam incontinenti para ele caso fossem abordados por ETs com a clássica frase “leve-me ao seu líder”. Porque se Setve Jobs não foi um inventor como Thomas Alva Edson, soube entender como ninguém as implicações do que seu amigo e xará Wozniak fez ao montar um computador na garagem de casa. Os colarinhos brancos da IBM não achavam que as pessoas iriam querer um computador em casa. Também foi Jobs que viabilizou as janelas no Mac, e que depois batizariam o sistema operacional do concorrente Microsoft.
A frase com que convenceu Sculley a ir para a Apple resume sua visão dos negócios: “Você quer passar o resto da vida vendendo água açucartada para crianças ou quer ter a chance de mudar o mundo?”
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