quarta-feira, 20 de maio de 2009

O francês que inventou a MPB


Acompanhando a história da música popular brasileira moderna (pós-Bossa Nova), esbarramos constantemente com o nome de André Midani. Sírio-francês que desembarcou no Brsil nos anos 50, por meio de Ruy Castro em "Chega de Saudade" ficamos sabendo de sua importante participação na criação da Bossa Nova, como executivo da Odeon que "bancou" João Giberto e, mais tarde, como presidente da Philips no Brasil, que abrigava a creme-de-la-creme da MPB entre o final dos anos 60 e início dos 70. Quem quer que tenha colecionado os velhos LP vai perceber a quantidade de clássicos que ostentavam no centro o selo azul da gravadora holandesa: os grandes discos de Chico Buarque, do quarto até "Vida"; todos os Caetanos e Gils antes e depois do exilio, toda Bethânia a partir de "Drama", toda Elis, Gal, Tim Maia, Jorge Ben etc, a ponto dele pagar uma página dupla de Manchete - revista que foi uma mistura de Veja com Caras - com todos seus contratados com a legenda: "Só falta o Roberto" Sim, porque até Erasmo Carlos era da Philips.
Num terceiro momento, já na Warner e amargando prejuízos com a crise econômica do inícios dos anos 80, ele se "descobre" o rock nacional contratando Kid Abelha, Ultraje a Rigor, Titãs, Barão Vermelho, a ponto do Rock'n Rio 1 ter como metade das atrações - entre brazucas e gringos - contratados da gravadora.
Graças ao que realizou no Brasil,Midani acabou se tornando um dos mais poderosos executivos da indústria fonográfica no mundo e recentemente foi nomeado pelo ministro e seu ex-contratado Gilberto Gil como comissário-geral do ano Brasil na França em 2005.

Sempre desconfiei que, se a MPB é o que é - ou foi o que foi - mutito se deve à Midani e o modo comos e relacionava com o principal ativo de uma gravadora: os artistas. Essa história de sucesso é contada pelo seu protagonista em "André Midani - Música, Ídolos e Poder", lançado no segundo semestre do ano passado pela Nova Fronteira, e que li em uma noite, de ontem para hoje.
Nessa livro de memórias, descobrimos que Midani não testemunhou apenas o nascimento da Bossa Nova e a profissionalização, apogeu e decadência da indústria fonográfica; como também o desembarque dos Aliados na Normandia.
A trajetória profissional do autor acompanha a evolução do negócio dos discos do ponto em que ele chegou, ainda na França, como um empreendimento de apaixonados pela música, passando pela modernização nos anos 60 e 70 até chegar à mercantilização total e que já anunciava a decadência da indústria assolada pela pirataria e pela falta de visão dos tecnocratas, poucos anos depois. Tudo entrecortado por incríveis histórias de como a MPB e alguns de seus discos memoráveis foram sendo criadas.
É um livro indispensável para quem quer compreender como nossa música popular se tornou um artigo de exportação tão valioso quanto o futebol - ao menos na Europa e Japão - e porque hoje nossos ouvidos são assaltados pela mediocridade generalizada.

2 comentários:

Edu Silvério disse...

Entrevistei o Rogério Flausino sexta-feira passada e ele comentou que tinha acabado de ler esse livro. Teceu muitos elogios inclusive.

Anônimo disse...

Amigo Kimura: tô tentando contato com você pelo Sonico e não tô conseguindo. Quem sabe por aqui você me dá atenção. Meu email: rj.ceconello@uol.com.br. Grande abraço. Ruy Jacques