terça-feira, 14 de setembro de 2010

A irrelevancia do cinema


Pouca coisa – ou nada – que Diogo Mainardi escreve ou diz me impressiona, a não ser pela babaquice. Entretanto, no último Manhattan Connection ele disse algo que me incomodou. Morando no palco do mais antigo festival de cinema do mundo, ele falou sobre o quanto o evento passa despercebido pelos venezianos. “O cinema tornou-se irrelevante”, disparou. Para justificar a frase, disse que nem era necessário recuar até os tempos do Neo-realismo ou da Nouvelle Vague. Nos anos 70, cineastas como Bergman e Buñuel ainda lançavam filmes no festival, e hoje o que resta?

O que me incomodou não foi por discordar, mas perceber que na verdade ele tem razão. Leiam as críticas de cinema hoje em dia. Falam de bilheteria, fofocas de bastidores e muito pouco sobre o que importa: as qualidades ou defeitos estéticos do filme. Isso nem é tanto culpa dos jovens resenhadores e mais da forma como o cinema e visto hoje: um produto e não uma obra de arte.

Sou da geração que aguardava cada filme de Wim Wenders com ansiedade, especialmente em sua espetacular fase entre O Amigo Americano (1977) e Asas do Desejo (1987). Depois disso, ele não se distinguiu mais do resto, ainda que tenha feito o video-evento Buena Vista Social Club, em 1999, muito mais um documentário bem feito que uma obra cinematográfica. Que cineasta hoje gera tanta aquela expectativa a cada lançamento? Tarantino, talvez. Mas por melhor que ele seja, sua motivação é o cinema em si, sem praticamente nenhuma preocupação humanística. Goddard fazia filmes pela revolução, Wenders buscava um sentido na existência humana (e quando conseguiu, apelou para anjos), mas Tarantino faz cinema sobre o cinema. Não interessa a ele o que acontece fora da tela, incluindo a Historia. Os mais antigos ainda em atividade buscam algum sentido num mundo que cada vez mais lhes escapa em significado. Mas o que os mais jovens estão fazendo que impacte as gerações posteriores?

Significativamente, o filme mais importante dos últimos tempos foi Avatar, mas por ser uma revolução industrial e não artística. Cadê aquela obra que representa uma época, cria uma estética ou muda a vida de quem assiste?

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