Enquanto aguarda a estréia de “Madagascar 2” – visto como salvador do semestre - na semana que vem, o Multiplex Topázio traz três novas opções esta semana: o violento “Max Payne”, a comédia-cabeça “Vicky Cristina Barcelona” e o romântico “Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada”. A criançada vai ter que se contentar com as reprises e com a pré-estréia de “Madagascar 2” só sábado e domingo.
É um mistério porque Hollywood insiste em adaptar videogames para o cinema, já que falta à película algo fundamental para um bom jogo: a interatividade. Conseguem fazer com que um personagem virtual seja mais profundo que sal versão em carne e osso na telona. Por que? Porque no cinema atual tudo tem que ser bidimensional para ser compreendido pelo que os executivos acreditam ser seu público-alvo: pessoas com menos de 15 anos de idade mental. Assim o intrincado universo do game "Max Payne", que combina complôs da máfia e seres sobrenaturais foi transformado em uma trama banal de busca pela vingança. O elenco encabeçado pelos canastríssimos Mark Whalberg (O Oscar de Coadjuvante por “Os Infiltrados” foi uma piada) e Mila Kunis (famosa pela fútil Jackie de “That’s 70’s Show”) não ajuda também. Max Payne é um tira indisciplinado que explode de vez quando sua mulher e filha são assassinadas por viciados. Ele se torna um pária na busca dos responsáveis pelo crime, se aliando a uma assassina (Mila) que também quer vingar a morte da irmã (Olga Kurylenko, exibindo o mesmo cabelinho e as mesmas pernas sensacionais de “Quantum of Solace”). Também no elenco o veterano Beau Bridges (“Susie e os Baker Boys”) e o ex-candidato a astro Chris O’Donnell (lembram dele? O Robin com “peitinhos” de Joel Schumacher). O diretor é John Moore de “Atrás das Linhas Inimigas” e da nova versão de “A Profecia”.
“Eu, Meu irmão e sua Namorada” traz Steve Carrell em sua habitual persona de cara travado com as mulheres. Aqui ele é um viúvo que dá conselhos a adolescentes no rádio e que vive às voltas com suas três filhas. Um, numa viagem à praia para um encontro de família, ele está caminhando pela praia quando encontra casualmente com uma mulher e – bang! – ambos se sentem atraídos um pelo outro e passam uma tarde conversando. Quando a reunião familiar acontece, ele descobre que a moça é namorada de seu irmão mais velho. O que parece ser uma situação comum a diversas comédias românticas por aí é valorizada pelas presenças de Carrell e Juliette Binoche como seu interesse romântico. Ele, que se saiu muito bem herdando o Agente 86 de Don Martin, já demonstrou talento dramático em “Pequena Miss Sunshine” e ela, calejada por anos trabalhando com a elite do cinema europeu, também se sai bem em filmes ligeiros como “Chocolate”. Além disso, a direção é de Peter Hedges, autor do roteiro do ótimo “Um Grande Garoto” e diretor do elogiado “Do Jeito que Ela é”, melhor filme da atual sra. Tom Cruise, Kate Holmes (o que não significa muito, na verdade).
Vicky Cristina Barcelona
Assistindo “Vicky Cristina Barcelona” anteontem, no Cineclube Indaiatuba, por alguma razão misteriosa me lembrei do meu amigo Ige D’Aquino, que espero que vá ver o filme. Mesmo longe de Nova York – e bota longe nisso – Woody Allen retorna a temas recorrentes em sua obra: amor, relacionamentos, o universo dos artistas e alta burguesia. Alguém escreveu que com a idade, sua visão sobre esses temas tornou-se menos ácida, mas leve. Pode ser. Mas o toque Allen está lá, e em boa forma.
O diretor retoma o velho tema das americanas em férias na Europa latina (nos anos 50 era a Itália) onde descobrem o amor. Vicky (Rebecca Hall) é a garota certinha que está de casamento marcado com um cara certinho – e chato. Cristina (Scarlett Johansson) é uma maluquinha que não sabe o que quer mas sabe o que não quer. Essas informações no são passadas por um narrador que economiza alguns metros de rolo para apresentar as protagonistas ao espectador. Ambas passam o verão em Barcelona hospedadas na casa de uma parente de Vicky. Uma noite após uma vernissage, as duas acabam sendo abordadas pelo artista plástico Juan Antonio (Javier Barden) que as convida para uma viagem aérea para Oviedo e para a cama dele. Vicky se indigna e Cristina se encanta. Resultado? O trio vai para Oviedo. Mas nem todos farão sexo na viagem, mas ela resulta numa relação séria entre Cristina e Juan Antonio e confusão na cabeça aparentemente estruturada Vicky, especialmente quando seu noivo decide antecipar o casamento e viaja para encontrá-la em Barcelona. Já entre Cristina e Juan Antonio, tudo parece ir às mil maravilhas, quando subitamente a ex-mulher dele, Maria Elena (Penélope Cruz), retorna. O que no início parece ser o prelúdio de uma tragédia passional acaba num ménage à trois.
É incrível como o amor, paixão e sexo ainda sejam objeto de análise do cineasta, aos 73 anos, como eram aos 42, quando fez sua grande comédia romântica, “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”. A diferença talvez seja no fato de que, antes, ele participava dos filmes como ator e personagem, e agora se oculte como um narrador/observador da ação. Não é a voz dele, mas é como se o cineasta fosse um escritor descrevendo o perfil dos personagens e seus sentimentos, recurso meio preguiçoso que economiza tempo de projeção. Mas é uma comédia romântica e não uma obra ambiciosa como “Match Point”, seu melhor filme nos anos 2000. É uma diversão inteligente, sensível e sexy, principalmente nas cenas com Scarlett Johansson, que é o Viagra artístico de Woody Allen nos últimos anos. Ah, se ele tivesse algumas décadas a menos...
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