segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ridley Scott - um autor?

Acabo de ver o último Ridley Scott, "Rede de Mentiras", e embora não dê para dizer que é ruim, também não dá para compará-lo aos melhores momentos desserede de mentiras cineasta. É uma trama ao estilo de "Syriana", só não tão intrincada. Confronta a arrogãncia dos burocratas de Washington - encarnada por Ed Hoffman (Russel Crowe) - com o conhecimento dos agente se campo - representado por Roger Ferris (Leonardo Di Caprio) - no jogo de espiões da Guerra contra o Terrorismo. O alvo é um certo Al-Saleem (Alon Abtbul, que na verdade é israelense e fez uma ponta em "Munique"), líder de uma facção particularmente sanguinária da Al Qaeda, e para capturá-lo Di Caprio se aproxima do chefe da Inteligência jordaniana, Hani (o inglês Mark Strong, que trabalhou também em "Syriana"),  um homem refinado e perigoso. Ao mesmo tempo em que tem que lidar com as desconfianças de Hani e as pressões de Hoffman, Ferris ainda arrnaj tempo para paquerar uma bela enfermeira, Aisha (Golshifteh Farahani).

A comparação com "Syriana", "Nova York Sitiada" e até mesmo "Falcão Negro em Perigo" são inevitáveis. De "Syriana" tem os bastidores da espionagem no Oriente Médio; de "Nova York Sitiada", o preconeito americano contra a lógica da destruição do fundamentalismo isnlâmico (sempre é bom lembrar que este filme é de antes do 11 de setembro); e de "Falcão Negro em Perigo" - do mesmo Ridley Scott - a luta entre o Império e as hordas.

O confronto sempre fez parte do cinema de Scott, a começar de sua estréia, "Os Duelistas", em que dois homens travam duelos através dos anos sem ter nenhum motivo aparente. Em seguida, a explosão de "Alien - O Oitavo Passageiro", em que humanos se tornam caça de um alienígena que os usa como depósito de ovos. "Blade Runner" não fez sucesso a princípio mas acabou se tornando a maior marca do diretor, a ponto dele relançá-lo duas vezes, com mudanças na edição, remasterização e até uma cena refeita. Criador e criatura caçam uns aos outros em busca de respostas sobre a vida e a morte.

Depois desses três triunfos iniciais, Scott roda o enigmático "A Lenda", que quase afundou a carreira de Tom Cruise, como um tipo de elfo que luta contra o Lorde das Trevas pelo amor de uma bela princesa um mundo de conto de fadas. O policial romântico "Perigo na Noite" passou em brancas nuvens e o violento "Chuva Negra" provocou acusações de racismo, mas o xenófobo era o personagem de Michael Douglas, que acabava mergulhado no universo da Yakuza japonesa.

A saga feminista "Thelma e Louise" trouxe Scott de novo à tona, com Susan Sarandon e Geena Davis sendo "Butch Cassidy e Sundance Kid" de top e salto alto. Em seguida, o diretor realiza o belo "1492 - A Conquista do Paraíso", com Gérard Depardieu como o navegador genovês que enfrenta cortesãos espanhóis para realizar seu sonho de criar um mundo melhor no que acha serem as Índias. Não fez sucesso, assim como "Tormenta" e "Até o Limite da Honra", com Demi Moore careca como fuzileira naval enfrentando a hostilidade dos colegas machos. Um novo retorno acontece com "Gladiador", o filme sensação de 2000, vencedor de cinco Oscar, incluindo Filme e Ator pra Russel Crowe. Uma mistura de "A Queda do Império Romano" com "Spartacus", sustentado pelo clima épico imprimido pelo diretor e pelo talento e carisma de Crowe.

Por que ele aceitou fazer "Hannibal" é um mistério. Só se for pela grana, porque ele volta a ser o bom diretor que é em "Falcão Negro em Perigo", um "forte apache" moderno que traz no elenco novos talentos dos anos 2000, como Eric Bana, Josh Hartnet e Orlando Bloom. "Cruzada" peca pela falta de presença física de Orlando Bloom - o moço é muito delicado para o papel - mas ainda é um bom trabalho, principalmente no contexto político em que foi feito. Gosto bastante de "Um Bom Ano", em que a empáfia capitalista de Russell Crowe se choca com o fantasma do tio bon vivant Albert Finney. E ainda tem a maravilhosa de Marion Cottilard, sem a maquiagem enfeiante de "Piaf", como argumento para que o financista sem coração se converta à la vie em rose. Brût, de preferência.

Citada quase toda a filmografia de Ridely Scott, dá para falar em corerência ou uma obra no sentido "Cahiers de Cinéma"? Entre um e outro compromisso comercial, dá para dizer que sim. "Alien" e "Blade Runner" expressam uma angústia em relação ao futuro da Humanidade bem próprias da época. Thelma e Louise" e "Até o Limite da Honra" falam da luta das mulheres em se impor no universo masculino, um pela transgressão e o segundo pela igualdade. "1492" e "Cruzada" abordam dois momentos decisivos da civilização ocidental, que forma os ecnotnros com os nativos da América e com os árabes na Guerra Santa. "Chuva Negra", "Falcão Negro em Perigo" e agora "Rede de Mentiras" colocam os americanos intervindo em culturas que conhecem mal e consideram bárbaras, intervindo de forma bárbara com justificativas civilizatórias.

Há, sim, uma coerência temática. Mas não, infelizmente, qualitativa.

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