“Crepúsculo”, o novo fenômeno adolescente, chega a Indaiatuba em lançamento nacional, dividindo as quatro salas do Multiplex Topázio apenas com “Madagascar 2”. Ou seja, se você tiver mais de quinze anos de idade mental estará órfão esta semana.
Essa programação esdrúxula é resultado de um segundo semestre muito ruim no mercado cinematográfico, então a administração optou por otimizar o espaço para maximizar o faturamento e ajudar a fechar o caixa de 2008.
Bom, voltando á vaca fria: o filme é a adaptação do primeiro de uma série de best-sellers escrito por Stephenie Meyer, que junto com o fetiche dos vampiros trouxe de volta o romantismo casto para uma geração teen que cresceu em meio a uma sociedade de consumo que sexualiza os jovens cada vez mais cedo. Mas a castidade do amor entre Bella (Kristen Stewart, de “Os Mensageiros” e “na Natureza Selvagem”) e Edward (Robert Pattinson, o Cedric Diggory de “Harry Potter e o Cálice de Fogo”) não tem conotação religiosa, apesar da autora ser mórmon, mas amaldiçoada: o rapaz tem que conter seus instintos porque não quer sugar o sangue da amada até a morte. E ela, como as noivas de Drácula, segue apaixonada mesmo correndo o risco de virar vampira.
Esse ponto de partida fez com que “Crepúsculo”, que custou US$ 37 milhões, rendesse US$ 147 milhões em apenas duas semanas de exibição.. Logicamente, a seqüência – “Lua Nova” – já foi confirmada, embora sem a diretora Catherine Hardwicke, de “Aos 13” e “Reis de Dogtown”.
O charme dos Filhos da Noite
Desde “Drácula”, o primeiro, de Tod Browning, que os vampiros são moda no cinema. Seu intérprete, a húngara Bela Lugosi, hipnotizava suas vítimas e os espectadores com seu olhar de viciado em morfina e ajudou a estabelecer a conexão entre a penetração das presas no pescoço da vítima com o sexo propriamente dito. O genial Murnau fez sua versão “pirata”do conde com “Nosferatu”, menos charmosa, mais monstruosa e muito melhor filmada. Mas depois disso, os filhos da noite ficaram restritos a produções baratas e mal-feitas, até que um estúdio inglês resolveu se especializar no horror e revisitou os monstros consagrados pela Universal nos anos 30. Em 1958, Terence Fischer, o maior nome da Hammer, dirigiu “O Vampiro da Noite”, que lançou Christopher Lee no papel de Drácula. Foram incontáveis filmes como o conde, entre produções da Hammer e outras menos cotadas.
Vindo do Leste Europeu, onde os vampiros são parte do folclore, Roman Polanski se lançou em Hollywood com uma sátira à mitologia sobre eles criada por Hollywood. Era uma comédia, mas como em tudo em Polanski, há sempre uma nota cruel e pessimista.
Nos anos 70, com o prestígio em alta, o alemão Werner Herzog anunciou que refilmaria “Nosferatu” e que superaria a versão de seu compatriota. Apesar de Isabelle Adjani no auge da beleza e Bruno Ganz, o ator que se tornaria amuleto de Wim Wenders, não conseguiu, apesar das imagens belíssimas.
Na mesma época, Anne Rice lançou sua série de romances sobre o Vampiro Lestat, começando por “Entrevista com o Vampiro”, que foi um sucesso e logo passou a ser cobiçado pela indústria cinematográfica. O filme, no entanto, só saiu 18 anos depois, quando o favorito da autora para viver seu personagem principal, Rutger Hauer, já estava velho e fora de moda para o papel. Tom Cruise se esforçou, mas faltou a ele porte físico para ser ameaçador como o personagem exigia. Em compensação, Brad Pitt se consolidou como astro e a muito jovem Kirsten Dunst surgiu para o grande público.
Mas na demora para sair a versão para a tela de “Entrevista com o Vampiro”, outro filme se apropriou do conceito de vampiros eternamente jovens e charmosos caçando vítimas em plena era pós-punk. “Fome de Viver”, de 1983, tinha Catherine Deneuve e David Bowie como casal de sugadores de sangue fashion e uma antológica abertura com Peter Murphy – do Bauhaus - cantando “Bela Lugosi is Dead”. Mas Bowie sai de cena logo no começo e La Deneuve passava a arrastar a asa para... Susan Sarandon! Uau!
Em 1992 foi a vez de Francis Ford Copolla fazer o que ele pretendia ser uma versão fiel do romance original do conde da Transilvânia, tanto é que a batizou de “Drácula de Bram Stocker”. Tratava-se na verdade de um “Drácula de Francis Ford Copolla em fase barroca”. Gary Oldman estrelou esse delírio com um prólogo sensacional, mas cujo excesso de informação visual quase mata o resto do filme. Winona Rider era Mina Harker, amada e caça do vampiro.
Para a geração que chega agora aos 30, a principal referência vampiresca deve ser mesmo o seriado “Buffy, a Caça-Vampiros”. Sarah-Michelle Gellar virou estrela, assim como David Borenaz, seu namorado-vampiro, de quem se separou para que ele pudesse estrelar o spin off “Angel”. Vampiros no ambiente high school de um subúrbio americano não é exatamente uma novidade, portanto...
Desde então os vampiros voltam à tela com êxito maior – caso da trilogia “Anjos da Noite” – ou menor – como “Drácula 2000” e “Vampiros de John Carpenter”. “Crepúsculo” é apenas o último produto de um gênero lançado há mais de um século por um escritor inglês que nunca pisou na Transilvânia.
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