Livio Oricchio
Houve um momento, depois da bandeirada do GP do Brasil, ontem em Interlagos, em que as duas famílias celebravam a conquista do título. A de Felipe Massa, nos boxes da Ferrari, e a de Lewis Hamilton, nos da McLaren. E os dois pilotos, no cockpit de seus carros, perguntavam desesperadamente pelo rádio às equipes quem havia sido o campeão. A maioria dos 75 mil torcedores nas arquibancadas comemorava da mesma forma, com euforia, a conquista do Mundial. Esse quadro dá bem idéia da intensidade das emoções vividas por todos na incrível etapa de encerramento da temporada, a mais espetacular da história. Alguns segundos depois de cruzar a linha de chegada, a dura verdade no autódromo: Hamilton é o campeão!
Parte importante das pessoas que desejavam ver Massa dar à nação um campeonato que o Brasil não vence desde 1991, com Ayrton Senna, começaram a chorar. “Meu engenheiro me avisou quando eu estava na curva 3 (saída do S do Senna) que o Lewis Hamilton havia ultrapassado o Timo Glock e era o campeão”, disse Massa, com a voz embargada. Muitos não sabiam ainda o que estava acontecendo, não sabiam o que pensar. O dia 2 de novembro de 2008 já está na antologia da Fórmula 1. Desde que a competição começou a ser disputada, em 1950, nunca uma prova decisiva foi tão carregada de tudo: tensão, ansiedade, vibração, emoções antagônicas.
Hamilton foi campeão a 700 metros da linha de chegada, na última curva da última volta da última etapa do campeonato. Na história do autódromo também, iniciada em 1940, nunca um evento teve tanta importância e nunca seu desenvolvimento gerou tamanha carga emotiva. Massa venceu o GP do Brasil, sua sexta vitória no ano, e Hamilton às duríssimas penas classificou-se em quinto, ao ganhar a posição de Glock na curva da Junção, sob a chuva que mudou o cenário da corrida. Se terminasse na sexta colocação, como estava até encontrar o alemão da Toyota com pneus para pista seca, Massa seria o campeão.
Como nem todos se deram conta de que o piloto que o fantástico Sebastian Vettel, da Toro Rosso, quarto, e Hamilton haviam ultrapassado na Junção era Glock, os integrantes da Ferrari e da McLaren não sabiam se podiam celebrar ou lamentar. “Meu coração estava prestes a explodir. Eu rezava para poder me aproximar do Glock e não acreditei quando o vi na saída da curva 10. Só posso dizer ‘Obrigado, meu Deus’”, contou, em extase, Hamilton.
A variação da condição do tempo foi a maior responsável por tantas alternativas ao longo das 71 voltas do GP do Brasil. A rápida pancada de água atrasou a largada em 10 minutos e quando voltou a cair, a oito voltas da bandeirada, gerou uma mexida na classificação que ninguém sabia mais o que iria acontecer.
Assim como o alemão Vettel colocou em xeque o título de Hamilton, ao ultrapassá-lo a três voltas do fim, outro alemão, Glock, foi o responsável pelo mais jovem campeão do mundo, aos 23 anos, conquistar seu primeiro título. O quinto lugar era o mínimo que necessitava. Ontem, no entanto, seu trabalho não representou o que fez na temporada, responsável pelo merecido título. Hamilton foi amplamente ofuscado por Massa. Num certo sentido, o resultado do GP do Brasil, Massa, Fernando Alonso, da Renault, em segundo, e Kimi Raikkonen, Ferrari, em terceiro, além das colocações de Massa e Hamilton, não deixou de agradar todos os lados envolvidos na competição. O piloto da McLaren está até agora comemorando o título, Massa de certa forma ficou feliz com a vitória em casa com performance de campeão, e a torcida, definitivamente, acredita nele agora.
Não acabou: a Ferrari conquistou o Mundial de Construtores, a torcida assistiu a um dos maiores espetáculos esportivos já realizados no Brasil e Bernie Ecclestone, promotor da Fórmula 1, viu pela quarta vez seguida o campeonato ser definido na última etapa do calendário, sempre em Interlagos, e, como em 2007, campeão e vice separados por apenas um ponto, 98 a 97. O GP do Brasil de 2008 não será esquecido jamais!
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Falou e disse.
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