Chegam às telas da cidade o épico “Austrália” e a fantasia “Coração de Tinta”. Em comum apenas o fato dos dois terem sido malhados pela crítica.
“Austrália” é o filme mais caro já realizado no país, com a explícita intenção de alavancar o turismo por lá. Para isso, foram convocados seu diretor mais renomado, Baz Luhrmann (“Romeu+Julieta”, “Moulin Rouge”); a maior estrela atual surgida nos estúdios do subcontinente, Nicole Kidman e um dos mais famosos galãs nativos, Hugh Jackman. O que podia dar errado? Muita coisa.
Já de cara, o ator pretendido pela produção, o neozelandês Russell Crowe, caiu fora por questões de salário. A segunda opção, o autraliano Heath Ledger, preferiu fazer o Coringa de “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, escolha que se revelou sábia, mesmo que ele não tenha vivido para colher os louros.
Depois de tudo isso, Nicole, que embarcou no projeto na primeira hora, encontrou Hugh Jackman numa festa e disse que ele tinha que estar no filme. O ator disse que nem tinha lido o roteiro e a estrela retrucou: “Esqueça o roteiro! Quem vai dirigir é Baz Luhrmann!”
A fé de Nicole no cineasta era justificada. Embora ela tenha ganho o Oscar por “As Horas”, a imagem dela que ficou na memória de todos é o da cortesã Satine de “Moulin Rouge”. Mesmo com as filmagens se estendendo por meio ano – ao invés dos dois meses habituais – a estrela nunca perdeu a fé no projeto. O duro é que os próprios australianos não se enxergaram na superprodução, que foi um fracasso de bilheteria dentro de casa.
Uma aristocrata britânica (Nicole) herda uma enorme porção de terras na Austrália e ao chegar lá, se depara com um barão do gado que quer tomar as terras da forasteira. Ainda que inicialmente relutante, ela vai unir suas forças a um rústico vaqueiro (Jackman), com quem vai conduzir duas mil cabeças de gado pelas mais remotas regiões do país. Mas em Darwin, no interior da Austrália, eles irão enfrentar bombardeios dos mesmos japoneses que atacaram Pearl Harbor alguns meses antes.
Luhrmann é um diretor estilisticamente ousado, barroco e com uma queda para o melodrama, beirando o cafona de vez em quando. Aliás, a mensagem de “Moulin Rouge” é, basicamente, “o amor é brega”. Daí que recrutado por seu país para realizar um “...E o Vento Levou” no Outback, ele não deixou por menos e fez um épico com cara daqueles filmões de antigamente. O problema é: as platéias de hoje estão prontas para essa estética retro?
Nos dois filmes anteriores de Luhrmann, era necessário que o espectador embarcasse na viagem proposta pelo diretor: em “Romeu+Julieta”, que aceitasse o texto original de Shakespeare declamado nas ruas de uma Miami contemporânea: em “Moulin Rouge”, na reinvenção da Belle Èpoque com músicas contemporâneas e visual barroco.
Da mesma forma, para entrar no mundo de “Austrália” é necessário uma imersão num filme à antiga, com mocinha mimada que encontra proletário rude e ambos acabam, se apaixonando durante uma viagem épica em meio a uma terra desconhecida e perigosa. Epa! Mas Nicole já havia feito esse filme antes e se chamava “Um Sonho Distante”, projeto ambicioso com o ex-marido Tom Cruise e que foi um dos poucos fracassos do astro do sorriso Colgate...
“Coração de Tinta” traz Brendan Fraser (“A Múmia”, “Viagem ao Centro da Terra”) como Mo Folchart, um pai de família dotado de um raro poder: o de tornar realidade tudo aquilo que lê em voz alta. Infelizmente, esse talento é descoberto de forma trágica e por causa disso sua mulher acaba ficando presa num romance chamado “Coração de Tinta”. Mo passa anos em busca de um exemplar do livro, até que tem a idéia de procurar seu autor. Baseado no romance homônimo de Cornelia Funke, o filme tem a direção de Iain Softley, de “A Chave Mestra”, “Asas do Amor” e “Hackers”. No elenco ainda estão Helen Mirren (“A Rainha”), Paul Bettany (“Dogville”, “O Código da Vinci”), Andy Sirkis (“O Senhor dos Anéis”) e a garota Eliza Bennett (“Nanny McPhee”).
Curiosamente, a Disney está lançando uma produção com ponto de partida semelhante, “Um Faz de Conta que Acontece”, em que Adam Sandler faz um tio que vê as histórias que conta para os sobrinhos virarem realidade, mas só nas intervenções deles. O filme está em cartaz no Topázio do Shopping Parque Prado, em Campinas.
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