segunda-feira, 30 de março de 2009

O final muda tudo

Quando assisti "Apocalipse Now" pela primeira vez, aqui no finado Cine Alvorada, lembro do final, durante os créditos, as fantásticas cenas do acampamento de Kurtz (Marlon Brando) sendo bombardeado, uma sequência pirotécnica que dava todo sentido ao título. Revi várias vezes em São Paulo no Cinesesc e sempre me maravilhava com o filme. Anos depois, revendo em VHS, vi que o filme acabava com os créditos passando em fundo preto, sem aquelas maravilhosas imagens de destuição. O que terá acontecido?
Aí veio a versão Redux, e fui vê-la aqui no Topázio crente que as cenas tinham sido reinseridas por Coppola. Mas apesar dos 49 minutos recuperados pelo diretor não houve nem sinal da sequência de que eu me lembrava tão bem. Teria sonhado?

Agora, ao comprar o DVD da Cinemateca Veja, encontro a explicação. Quando o filme foi lançado em 70 mm, nçao tinha créditos e o público recebeia um programa impresso com eles. Ao ser lançado em 30 mm, bitola mais comum nas salas de exibição, seria impossível produzir e distribuir tantos folhetos e Coppola decidiu usar como fundo dos créditos as cenas de destruição dos cenários montados na selva, uma exigência do governo das Filipinas, onde "Apocalipse Now" foi rodado.

Segundo conta nos extras do DVD, isso gerou o boato de que o filme teria dois finais, o que ele desmentiu, retirando as cenas nas versões posteriores. Coppola diz que sua intenção era encerrar com Willard assumindo o lugar de Kurtz, mandando os nativos se desarmarem e levando o jovem Lance pela mão, significando um novo recomeço, sem guerras. Bom, quem diz isso é o autor um quarto de século depois de sua aventura mais custosa, cheia de incidentes dentro e fora do set, que quase o levaram á falência (ele faliu mais tarde, em outro maravilhos empreendimento megalomaníaco, "O Fundo do Coração"). Não teria o inconsciente do cineasta se manifestado ao incluir a sequência que filmara sem saber se utilizaria posteriormente? Pelo que vemos na versão Redux, Coppola não tinha na cabeça exatamente o filme que o consagraria com mais uma Palma de Ouro em Cannes. Mais do que as interessantes mas desnecessárias longas cenas das coelhinhas e da fazenda francesa, a destruição da loucura de Kurtz mudaram o significado de sua obra-prima. Não teria ele percebido isso na época?

Abaixo, a cena em questão, com comentários de Coppola. Eu acho que com ela o filme fica melhor.

Nenhum comentário: