terça-feira, 25 de março de 2008

O futebol por outros pontos de vista


Em um mundo cada veez mais globalizado, poucas coisas permanecem tão anacronicamente patrióticas como o futebol. Porque outra razão os sócios menores do Reino Unido fazem questão de montar seleções separadas da inglesa, mesmo com escassas chances de ganhar qualquer torneio importante.

Em "Transpotting", que se passa na Escócia, um dos personagens tem como reliquia um vídeo da vitória da seleção de seu país contra a Holanda na Copa de 78 - o que pode parecer estranho para nós, brasileiros, para quem o torneio mundial é tudo ou nada, mas perfeitamente normal para uma nação para quem ir à fase final já constitui um feito memorável.

Outro filme que nos dá um interessante ponto de vista do futebol fora de nosso umbigo verde-amarelo é "Milagre de Berna", apelido que os alemães deram à vitória de seu escrete sobre a poderosa Hungria de Puskas na final da Copa de 54. É uma fábula que fez enorme sucesso no país de origem (5 milhões de espectadores para uma população de 82,5 milhões de pessoas) que conta a trajetória da seleção de Sepp Herberger no torneio da Suiça, tendo como pano de fundo um país se recuperando da guerra, mas ainda sofrendo suas conseqüências, como a pobreza, o desemprego e o retorno dos soldados feitos prisioneiros na Frente Russa (os últimos só seriam repatriados em 1955, dez anos após a rendição alemã).

Herberger era o técnico da seleção desde a eliminação prematura da Alemanha nos Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim até 1942 - auge da Segunda Grande Guerra - e retomou o cargo em 1946, mesmo tendo sido nazista de carteirinha, deixando o posto somente em 1964. Como acontece também com os selecionados brasileiros que acabaram campeões do mundo, o da Alemanha em 54 também saiu desacreditado de casa, carregando nas costas o peso da auto-estima de uma nação derrotada e humilhada nos campos de batalhas e tornada pária das competições esportivas até aquela data.

O grande trunfo era a experiência e liderança do capitão Fritz Walter, que jogava na seleção desde 1940 e foi paraquedista durante a II Guerra Mundial. Mas o jogador que mais aparece no filme é Helmut Rahn, apelidado "Derr Boss" - ou "O Chefe" - e que foi autor de dois gols na lendária final contra os húngaros (3 a 2 de virada para a Alemanha).

A vitória inesperada enlouqueceu um país calejado com reveses como a derrota na guerra e a divisão de seu território em dois. A partir daí surgia uma nova superpotência do futebol e, por que não dizer, foi dado o empurrãozinho para que o país voltasse a ser também uma potência econômica.

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