terça-feira, 1 de abril de 2008

Bossa Nova classe média


Acaba de passar o Roda Viva comemorativo do Cinquentenário da Bossa Nova com Carlos Lyra, em que o entrevistado ficou repetindo a tese tinhoranesca (de José Ramos Tinhorão) de que o gênero musical do qual ele foi um dos pioneiros é uma música de classe média, daí seu sucesso internacional.

Acho um reducionismo marxista, e tenho certeza que muitos entrevistadores também acharam mas calaram na hora para não tornar o bate-papo um debate. Não é isso por certo que explica o fascínio dos japoneses pela Bossa Nova - e pela música brasileira em geral. Alguém chegou a soprar que o Japão não tem música popular, o que é besteira, mas que existe algum fator cultural - e não de luta de classes - que explica o fato, é evidente que há, só não sei exatamente qual.

Ocidentais costumam reduzir o caráter nipônico ao espírito zen, como se todos os japoneses se dedicassem à cerimônia do chá, ao ikebana, etc. Nada mais falso.

Acredito que o que fascina os japas e os gringos em geral é aquela sensualidade praieira que parece soprar da Bossa Nova, mesmo que não se entenda a letra. Mesmo em "Juno" - que comentei acima - o que toca na hora da transa dos dois adolescentes é "O Amor em Paz", de Tom e Vinícius, com Astrud Gilberto, a baiana , ex de João Gilberto, que virou estrela nos EUA e Europa mas que aqui foi erradicada do mapa, nunca entendi muito bem a razão.

Carlinhos Lyra foi o primeiro da primeira leva da Bossa Nova a romper com a tchurma e denunciá-los como burgueses, entrando para os CPCs. Só que obviamente o lirismo de suas canções - Tom Jobim o achava o melhor melodista dentre eles - não combinava com a contestação do Partidão. Geraldo Vandré - outro ex-bossanovista - é que criaria o cancioneiro oficial da esquerda ansiosa, como bem apelidou Lyra no programa.

O que importa de fato é que a MPB se divide entre antes e depois da Bossa Nova - e de certa forma o modo do mundo ver o Brasil mudou a partir de então. Ao invés de Carmem Miranda e seu chapéu tutti-fruti, era João Gilberto, Tom Jobim, Astrud Gilberto, Sérgio Mendes e tantos outros que deram balanço e até uma sobrevida ao jazz e ao que Ruy Castro chama de música adulta, num momento em que os Beatles e a revolução jovem estava mudando a indústria cultural.

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