sábado, 22 de março de 2008

Caio Túlio Costa. De novo.



Todos os dias ao entrar na Internet cumpria um roteiro fixo de navegação, que incluía entrar no portal IG para ver a chamada do Conversa Afiada na capa. Dependendo do que tratava, entrava. Na semana que termina reparei que o espaço fixo de Paulo Henrique Amorim, num ponto nobre na "primeira dobra", ao lado do Último Segundo, deixou de existir. Achei que fosse uma mudança editorial e que tinha posto o Conversa na geladeira por ter ficado muito repetitivo nos ataques aos tucanos e ao PIG - Partido da Imprensa Golspita. Só hoje fiquei sabendo que seu contrato com o IG foi "descontinuado" na terça, dia 18. O editorial do diretor-presidente do IG, Caio Túlio Costa, dá o lado da empresa:

Editorial
Sobre a saída de Paulo Henrique Amorim do iG
Na tarde de terça-feira (18/3/08), o iG descontinuou o contrato com o jornalista Paulo Henrique Amorim, do site Conversa Afiada. Com o passar do tempo, os custos do contrato e as condições de mercado tornaram inviável a sua manutenção. Tomada a decisão, todas as condições rescisórias foram atendidas e o jornalista devidamente indenizado. Aos funcionários do Conversa Afiada, presentes na sede do iG no momento em que foi despachada a notificação de rescisão e retirado da rede o site, foi facultada a possibilidade de levar embora os materiais necessários, mas não o fizeram. Paulo Henrique Amorim preferiu agir sob força de um mandado de busca e apreensão para retirar seus pertences e copiar o arquivo do seu site, o que poderia ter feito sem precisar de recurso judicial. Descontinuar colaborações faz parte da vida das empresas e da vida dos jornalistas. O próprio Paulo Henrique já passou por empresas como a Editora Abril, Jornal do Brasil, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Cultura e UOL. Suas colaborações, evidentemente, cessaram quando ele partiu. Não podia ser diferente no iG. O iG não abre mão da sua independência e da necessidade de manter-se uma empresa equilibrada e saudável. O iG segue firme na determinação de ser um portal que aposta na pluralidade de opiniões, no respeito à liberdade de expressão e no protagonismo dos internautas. Caio Túlio Costa Diretor Presidente do iG

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A saída abrupta de Paulo Henrique Amorim levou seu amigo Mino Carta a deixar seu blog no IG - um dos recomendados da minha lista à esquerda - em solidariedade. Na Carta Capital, revista que Mino dirige, ele conta o lado do jornalista:

Ao batuque da minha Olivetti, tenho um blog no iG. Ou melhor, tinha. Hoje foi ao ar o meu último post. Acostumei-me com estas expressões, mas confesso desabridamente ter medo do computador, tenho certeza de que ele me engolirá caso me aproxime demais. De sorte que resisto no comando da minha vetusta máquina de escrever. Assim diz a minha derradeira manifestação: “Meu blog no iG acaba com este post. Solidarizo-me com Paulo Henrique Amorim por razões que transcendem a nossa amizade de 41 anos. O abrupto rompimento do contrato que ligava o jornalista ao portal ecoa situações inaceitáveis que tanto Paulo Henrique quanto eu conhecemos de sobejo, de sorte a lhes entender os motivos em um piscar de olhos. Não me permitirei conjecturas em relação ao poder mais alto que se alevanta e exige o afastamento. O leque das possibilidades não é, porém, muito amplo. Basta averiguar quais foram os alvos das críticas negativas de Paulo Henrique neste tempo de Conversa Afiada”.
As razões alegadas oficialmente pelo portal não convencem sequer o mundo mineral. Fala-se, porém, de uma pendência pessoal entre o diretor-presidente do iG, Caio Túlio Costa, e Paulo Henrique. Certo é que o jornalista recebeu uma lacônica e inesperada notificação de que seu contrato estava rompido. Invocava-se ali um artigo do mesmo, pelo qual qualquer uma das partes pode denunciá-lo com 60 dias de aviso prévio. Não somente esta determinação do tal artigo não foi cumprida, mas também Paulo Henrique foi informado a respeito da decisão do iG quando Conversa Afiada já fora tirada do ar. Sua equipe tivera cancelado o crachá de entrada na sede do portal e o computador sofrera o vexame final de ser lacrado. Se havia desentendimentos pessoais entre o diretor-presidente e o jornalista, quem sabe pudessem ser dirimidos de outra maneira. O tratamento reservado a um profissional honrado e competente como Paulo Henrique é inadmissível. Contudo, e infelizmente, a situação justifica a forte impressão de que houve razões mais fortes, a significar censura.

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Caio Túlio Costa protagonizou uma das mais famosas polêmicas do jornalismo brasileiro quando era ombudsman da Folha de S. Paulo - o primeiro - com a estrela da casa, Paulo Francis. O episódio levou à ida de Francis ao concorrente Estado de S. Paulo e tornou Costa famoso. Agora, segundo Mino Carta, como executivo, ele tira da sua empresa uma de suas estrelas por "desentendimentos pessoais", dessa vez, por meio de uma demissão sumária. Mas não custa lembrar que o IG é uma empresa da Brasil Telecom, um dos alvos preferenciais do Conversa Afiada, junto com os tucanos em geral e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Eu achava o superblog do jornalista um pouco recorrente e agressivo demais, apesar de admirar sua postura de foco de resistência ao senso comum que se formou na grande mídia e adorar alguns apelidos que ele inventava, como "Farol da Alexandria" para FHC (porque iluminava a Antiguidade) e "presidente eleito" para Serra(porque, para o PIG - sigla que ele também criou, mas que não "inventou" - só faltava ele tomar posse). A "descontinuidade" (eita eufemismo pra demissão) do Conversa Afiada é uma grande perda para a Internet brasileira, como o No Mínimo, curiosamente também uma ex-grande atração do IG.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Kimura

Parabéns pelo blog.

A demissão do Paulo Henrique só comprova a existência do PIG. Continuaremos visitando seu blog agora independente e acreditando na internet como um espaço importante para a democratização da informação e do direito de expressão.
Grande abraço.
(www.janioribeiro.zip.net)