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terça-feira, 19 de agosto de 2008
Complexo de vira-lata
Nelson Rodrigues escreveu que a conquista da Copa de 58 tinha acabado com o Complexo de Vira-latas do brasileiro. Pode até ser no futebol, mas nos Jogos Olímpicos ele permanece. E não se trata de esportes sem infra-estrutura ou tradição, mas em modalidades nas quais os competidores já haviam se destacado em outras competições internacionais. Como explicar o fracasso - e não há outra palavra para isso - da ginástica olímpica e do judô?
Diego Hypólito chegou dizendo que não é amarelão, mas que outra explicação há para suas quedas na hora decisiva? É muita pressão, etc, mas hoje em dia os atletas de ponta não são mais abnegados dedicados ao esporte, mas profissionais bem pagos, especialmente os que são de ponta e têm a visibilidade de Diego. Acontedeu também com Daiane dos Santos em Atenas, mas ela vinha de uma contusão recente e de um carnaval em cima de suas performances muito maior que de Hypólito.
O mesmo se aplica a João Derly e Tiago Camilo, campeões mundiais de suas categorias no judô. Vi a luta em que Derly deu adeus ao ouro e foi, no mínimo, uma desconcentração. Perdeu, e o investimento pessoal e dos patrocinadores de anos foi para o saco em segundos.
E o que dizer do futebol? Pode parecer fácil jogar pedra após a derrota, mas até hoje havíamos jogado contra quem? A Bélgica foi massacrada pela finalista Nigéria na outra semifinal e fez um jogo equilibrado contra o Brasil. A China é o chamado café-com-leite e Camarões arrastou o time de Dunga até a prorrogação. Esperar o que contra Messi e Riquelme? Que, de repente, Ronaldinho jogue o que não joga desde antes da Copa de 2006? Acho que era essa a esperança do nosso treinador de primeira viagem, porque organização tática capaz de compensar a superioridade técnica do adversário ele não deu aos seus comandados. Infelizmente, deu a lógica.
A mesma lógica que tirou as duas duplas femininas do volei de praia da disputa do ouro. Há quatro anos Walsh e May são o time a ser batido, exibindo uma superioridade técnica e sobretudo física impressionante sobre todas as outras duplas. No masculino, Phil Dalhouse e Todd Rogers devem decidir contra Ricardo e Emanuel na condição de favoritos, mas como os brasileiros são os atuais campeões olímpicos, podem até equilibrar a disputa, já que a hegemonia dos americanos não é igual à das compatriotas, virtuais bicampeãs olímpicas.
No vôlei de quadra, as meninas brasileiras vivem um momento melhor que os rapazes, mas após a amarelada de Atenas elas têm que mostrar que - mais evolução técnica - houve uma mudança de atitude na hora de decidir, que ainda está por vir. Vão fazer uma semifinal contra as donas da casa, o que nunca é fácil. Decisões "caseiras" da arbitragem podem abalar as brasileiras, de resto, muito melhores que as chinesas. Em tempo, como havia dito em nota anterior, as russas não andavam bem mesmo e deixaram a disputa atropeladas pela China.
Já o time de Bernardinho vive um momento "freguês" da Rússia e - principalmente - dos EUA, que vêm numa ascendente consistente e são fortíssimos candidatos ao ouro. Mas aí - ao contrário do futebol - o técnico pode fazer e tem feito a diferença.
No Atletismo, após a pataquada de que foi vítima Fabiana Murer, Maureen Maggi e Kely Costa foram beneficiada pela desclassificação da portuguesa Naide Gomes, que visivelmente foi mais longe que todas as outras nas tentativas queimadas. E no salto triplo, o marrento Jardel Gregório pode fazer jus à tradição nacional na modalidade ou amarelar de novo. Tem uma história mal contada envolvendo seu treinador - que foi a Pequim e acabou voltando - que não se sabe ainda que efeitos terá sobre sua performance.
A única glória verdeamarela até o momento, César Cielo, volta ao Brasil para uma turnê de homenagens, entrevistas e festas antes de retornar aos Estados Unidos, onde estuda, treina e compete por sua universidade. Quer dizer, tem pouco a ver com a estrutura brasileira de natação. Não desmerece de forma alguma sua proeza pessoal - que no nível Brasil é quase igual ao de Michael Phelps para os americanos - mas não deve ocultar o real estágio da natação brasileira em relação ao Primeiro Mundo da modalidade.
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Um comentário:
Análise perfeita! mas enquanto os brasileiros participarem de competições com o lema "o importante é participar/chegar à final" vamos ter que nos contentar no máximo com um bronze mesmo.
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