O título em português do novo filme de M. Night Shyamalan não é muito exato, ou entrega demais. O Fenômeno ou O Evento, mais próximos da tradução literal, seria mais acurado. Ele é bom? Eu gostei, talvez por esperar muito menos. Shyamalan continua a pagar o preço do megassucesso de "O Sexto Sentido", que fez com que todos esperem dele um nova "obra-prima". Como não sou muito fã de sua engenhosa história espírita, não me prendi a essa referência e considero seu melhor trabalho "Corpo Fechado", mas "A Vila" também não é de se jogar fora.
"Fim dos Tempos" conversa com "Filhos da Esperança" e "Eu Sou a Lenda" em sua distopia. Os três embarcam na preocupação crescente do que a destruição e manipulação da natureza estão causando ao planeta e ao ser humano. Também não é à toa que os mutantes saíram das páginas dos X-Men para ganhar até novela no Brasil. A sensação de que vivemos um tempo de mudança planetária é geral.
Só que Shyamalan tem uma mania irritante de acreditar que "all you need is love", como diriam Lennon e McCartney, e todos seus filmes têm cenas de redenção e sofrimento por amor. Aqui, ele chega ao limite do piegas, se é que não o ultrapassa.
O cineasta também parece querer virar adulto agora que se livrou da Disney -cujo fim turbulento de relação ele conta em um livro - e não poupou seu público de diversas mortes violentas (necessárias para dar clima ao filme, diga-se de passagem), ao contrário de seus filmes anteriores, em que elas - as mortes - eram mais subentendidas. Ser adulto para o diretor parece significar também abordar temas contemporâneos sem disfarce, ao invés da forma indireta de "Sinais" e "A Vila".
Sobre o elenco, apesar de Shyamalan ter anunciado que escreveu o papel principal pensando em Mark Wahlberg, este parece não ter pegado o jeito do diretor, como também aconteceu com Mel Gibson em "Sinais". O persoangem pedia um cara menos macho que o ator, ou então que se emasculasse, como o Bruce Willis do começo de "Corpo Fechado", o que é difícil para o astro de "Boggie Nights" (aliás, é difícil Mark Wahlberg interpretar qualquer coisa que não seja Mark Wahlberg).
O que é bom em "Final dos Tempos", então? Gostei da abertura, bastante intrigante, que ajuda a criar o suspense no restante do filme; o balé dos suicidas no prédio em construção; o uso de uma trilha musical retrô, que remete aos anos 50-60; os rápidos flashes da "América Profunda", com milicianos se armando para uma possível invasão terrorista e donas de casa se protegendo com máscaras de gás, amostras grátis perto da seqüência da casa fechada e da velha excêntrica no final.
Interessante também a relação com outros fenômenos naturais verídicos e igualmente inexplicáveis, como o sumiço das abelhas (que aconteceu também na Europa e na mesma época) e a maré vermelha que contamina peixes e crustáceos de alguns litorais, como Santa Catarina, no Brasil. A natureza enlouquecida é capaz de coisas como essas? Sim. Então quanto tempo falta até que eventos do tipo atinjam diretamente a espécie humana? Ou será que isso já não está acontecendo, como Shyamalan dá a entender num close de uma manchete falando no aumento dos homicídios na Filadélfia, lugar em que o diretor cresceu e locação de grande parte de seus filmes?
Nenhum comentário:
Postar um comentário