"Quem quer ser um milionário?", de Danny Boyle é um dos favoritos para Melhor Filme
A entrega do Oscar acontece este ano em pleno domingo de Carnaval, já que para os americanos a Folia de Momo não tem a mesma importancia que para nós. Essa coincidência deve fazer com que a Globo não transmita a festa ao vivo, já que o desfile das Escolas de Samba é um evento muito mais lucrativo. Pode ser a primeira vez em anos que o Oscar não pasa ao vivo na TV aberta.
Se a cerimônia de premiação da Academia de Ciências e Artes Cinematográficas de Hollywood (nome inacreditavelmente pomposo) do ano passado foi esvaziada pela greve dos roteiristas, este ano a crise parece vir dos concorrentes. Nenhum dos indicados trouxeram ao Oscar aquela eletricidade que “O Segredo de Brockeback Mountain”, “Os Infiltrados” ou “Senhor dos Anéis” trouxeram em anos anteriores.
Talvez o filme que pudesse fazer isso pelo evento fosse “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, esnobado pela Academia, muito provavelmente por se basear em histórias em quadrinhos, forma de arte considerada menor por muitos. Foi o grande produto de Hollywood de 2008, tanto em termos de bilheteria – que se aproxima do US$ 1 bilhão – quanto de repercussão. A presença do blockbuster na grande festa da indústria ficou restrita à indicação póstuma de Heath Ledger, que é favoritíssimo ao premio de Ator Coadjuvante. Seus rivais são: Philip Seymour Hoffman, por “Dúvida”, que ainda não tem o estofo para ter duas estatuetas (ele já tem uma por “Capote”); Robert Downey Jr., por “Trovão Tropical”, um grande ator considerado ‘freak’ pelos votantes mais conservadores; o desconhecido Michael Shannon, por “Foi Apenas um Sonho”; e Josh Brolin, por “Milk – A Voz da Igualdade”, um ator que se reinventou a partir de “Onde os fracos não tem vez”.
Entre as mulheres coadjuvantes, Vila Davis, de “Dúvida” talvez tenha feio o trabalho mais difícil, apesar das poucas cenas, ao duelar com Meryl Streep em uma cena caminhando ao ar livre; Amy Adams, no mesmo filme, faz um papel bem diferente de “Encantada”, que a transformou uma estrela; Penélope Cruz, por Vicky Cristina Barcelona”, pode se juntar ao time de atores que deve a Woody Allen sua estatueta; Marisa Tomei, de “O Lutador”, é a favorita de Carlos Reichenbach e Taraji P. Henson é meio a azarona pelo papel de mãe de Benjamin Button.
Na disputa entre atrizes principais, há a expectativa de que Kate Winslet receba a primeira estatueta da carreira por “O Leitor”, após seis indicações. Já corre por aí uma frase dela numa desconhecida série chamada “Extras”, em que a atriz afirma que “só ganharia o Oscar se fizesse um filme sobre o Holocausto”. Adivinha qual o pano de fundo de “O Leitor”? Meryl Streep, que concorre por “A Dúvida”, tem dois prêmios na estante e não precisa de mais um para ganhar prestígio. Os americanos acreditam que ela é a maior atriz de cinema viva. Angelina Jolie, indicada por “A Troca”, consolidaria sua posição de megastar com uma estatueta, mesmo ela já tendo recebido uma no começo da carreira por “Garota, Interrompida”). Anne Hathaway, pelo “Casamento de Rachel”, e Melissa Leo, de “Rio Congelado”, são azarões.
Acho que a competição entre os atores principais está entre Mickey Rourke, que já ganhou o Globo de Ouro por sua performance em “O Lutador”, e Brad Pitt, que concorre por “O Curioso caso de Benjamin Button”. O primeiro por fazer tipo o papel de sua vida e o segundo por ser o tipo de trabalho lacrimogêneo que conquista a Academia, como Forrest Gump, com quem tem comum o roteirista Eric Roth e diversos elementos da história. Sean Penn, de “Milk”, já tem um Oscar por “Sobre Meninos e Lobos” e não me parece perto de repetir o feito. O especialista em vilões Frank Langella foi indicado por um papel que já viveu na Broadway, na versão original para o palco de “Frost/Nixon” mas não me parece oscarizável, assim como Richard Jenkins, de “The Visitor”, o azarão, mas é bom lembrar que neste ano não há um grande favorito, e aí...
A categoria Animação – uma das mais recentes – cresceu em interesse por que os indicados normalmente são filmes de grande público. Mesmo ficando restrita a três indicados, a torcida para cada um é grande. Assim, este ano, se “Wall-E” não ganhar de “Bolt” e “Kung Fu Panda”, é melhor fechar esse buteco chamada Academia de Hollywood. E olhe que o robozinho ainda disputa na categoria Roteiro Adaptado.
“Quem quer ser um milionário?” parece ser o mais interessante concorrente ao grande premio deste ano e, nesse caso, deve arrastar o diretor Danny Boyle com ele, já que todos indicados a Melhor Filme também concorrem para Melhor Diretor, o que deve significar uma dobradinhas nessas categorias. Dos demais – “Milk”, “Frost/Nixon”, “O Leitor” e “O Curioso Caso de Benjamin Button” – somente o último tem mais “cara de Oscar”.
O que decide o Oscar?
Kate Winslet em "O Leitor"
A piada de Kate Winslet supracitada tem seus motivos. Filmes sobre o Holocausto sempre comovem Hollywood, criada majoritariamente por judeus. Em 1961, “Julgamento de Nuremberg” recebeu 11 indicações e levou duas estatuetas, mas não era exatamente ambientado nos campos de extermínio. O genocídio foi abordado com maior crueza a partir da minissérie de TV “Holocausto”, de 1978, que deu um Emmy à jovem Mery Streep, no papel de uma alemã cujo marido é levado a Auschwitz. Seis anos depois, ela própria vai para o campo de extermínio em “A Escolha de Sofia” e ganha seu Oscar de Atriz Principal. Apenas em 1993 um filme sobre o Holocausto voltaria a ser premiado, “A Lista e Schindler” (sete prêmios, entre os quais de Filme e Diretor para Steven Spileberg) . Mais um hiato e “A Vida é bela”, de 1998, vence como melhor ator para Roberto Benigni e Filme Estrangeiro, batendo o brasileiro “Central do Brasil”. Em 2002, Adrien Brody e Roman Polanski recebem seus Oscar de Ator e Diretor por “O Pianista”.
O alcoolismo, uma obsessão americana, foi tema de três filmes premiados pela Academia: “Farrapo Humano”, de 1946 (Filme e Ator para Ray Milland), “Amar é Sofrer”, de 1954 (Atriz para Grace Kelly interpretando a esposa do bebum Bing Crosby) e “Despedida em Las Vegas”, de 1996 (Ator para Nicholas Cage).
Três atrizes se enfeiaram para ganhar a estatueta, prática impensável nos anos dourados: Hillary Swank em “Meninos não Choram (1999), Nicole Kidman em “As Horas (2002) e Charlize Theron em “Monstro” (1993).
Alguns tipos de papeis parecem ser pule de 10 no Oscar. Prostitutas: Helen Hayes (“O pecado de Madelon Caudet”, 1931), Donna Reed (“A um passo da Eternidade”, 1953), Elisabeth Taylor (“Disque Butterfield 8”, 1960), Shirley Jones (“Entre Deus e o Pecado”, 1960), Jane Fonda (“Klute, O Passado Condena”, 1971), Mira Sorvino (Poderosa Afrodite”, 1995), Kim Basinger (“Los Angeles, Cidade Proibida, 1997) e Charlize Theron (“Monstro”, 2003).
Portadores de deficiência física, mental, insanidade ou transtorno: Harold Russell (“Os Melhores Anos das Nossas Vidas”, 1947), Jane Wyman (“Belinda, 1949), Joanne Woodward (“As Três Faces de Eva”, 1957), Paty Duke (“O Milagre de Annie Sullivan”, 1962), Shelley Winters (“Quando só o coração vê”, 1965), Cliff Robertson (“Os Dois Mundos de Charlie”, 1968), John Mills (“A Filha de Ryan”, 1971), Jon Voight (“Amargo Regresso”, 1978), Marlee Matlin (“Filhos do Silêncio, 1986), Dustin Hoffman (“Rain Man”, 1988), Daniel Day Lewis (“Meu Pé Esquerdo”, 1989), Al Pacino, (“Perfume de Mulher”, 1992), Tom Hanks (“Forrest Gump”, 1994), Geoffrey Rush (“Shine”, 1996), Jack Nicholson (“Melhor Impossível”, 1997) e Jaime Foxx (“Ray”, 2006).
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