domingo, 8 de fevereiro de 2009

Uma noite no Pirandello

“Vou reabrir o Pirandello!” “Como é que é?”, perguntei assustado ante a bombástica declaração de Wladimir Soares. Isso aconteceu quarta-feira (7 de janeiro), durante “Uma Noite Pirandelliana”, no Bar Canto da Madalena, na vila paulistana do mesmo nome, que comemorou os 29 anos da abertura do lendário Spazio Pirandello, de propriedade dele, Wlad, e Antonio Maschio. Uma excursão com onze indaiatubanos – Bárbara e Aldo Fantelli, Selma e Amir El Hage, Guiomar Corsetti, Norma Silva Telles do Vale, as irmãs Tânia e Tuca Lara, Kleber Patrício, Tarik Costa e este que vos fala – foram de van para prestigiar e dar um abraço no nosso ex-secretário da Cultura, ex-vereador e amigo para sempre. O cardápio era Frango à Isadora Duncan, uma das piéce de resistènce do Pirandello; cerveja Serramalte; autógrafo do Wlad e caricatura de Paulo Caruso para quem comprasse o livro “Spazio Pirandello – Assim é se lhe parece”, que conta a história do bar que foi uma referência cultural-etílica dos anos 80 em São Paulo. Isso sem contar o calor humano de um encontro de amigos num bar aconchegante e bonito.
Não éramos os únicos forasteiros do lugar. Amigos vieram de Itu e até dos EUA: o músico Robert Black, que está hospedado na casa de Ige D’Aquino, que não foi. Entre os paulistanos, os jornalistas Mauro Chaves, Paulo Markum   – me disseram, não vi – e o músico Chico César.
O Pirandello era mais que um bar-restaurante badalado. Era o ponto de encontro em uma cidade ainda segura, despre-tensiosa e acolhedora, a seu modo. Muito diferente da São Paulo dos assaltos em semáforos, Daslu e Lei Seca. Conta-se que a campanhas da Diretas-Já nasceu em uma de suas mesas, que tinha entre seus habituées o futuro presidente Fernando Henrique Cardoso.
Muito do que ganhou com o Pirandello, Wladimir dividiu com Indaiatuba, a saber, sua agenda de telefones. Ao ser nomeado diretor de Departamento de Cultura, ele acionou seus contatos para, com muito pouca grana, a cidade passas-se a ser uma refe-rência cultural em toda a região. Quem mais traria Fernanda Montenegro para fazer uma leitura no Casarão Pau-Preto mediante um simples telefonema? Como é que uma cidadezinha como era Indaiatuba em 1993 poderia fazer um Maio Musical, que vive até hoje? Se temos hoje uma secretaria dedicada à cultura, deve-se a ele.
A excelente receptividade que o livro “Spazio Pirandello” tem recebido – com direito a reminiscências pessoais de Ignácio de Loyola Brandão, César Giobbi entre outros – mais o sucesso da festa de quarta e outros eventos evocativos devem ter gerado a afirmação que abre este texto. Wlad e seu companheiro de longa data, João Casali Neto, ainda moram em Florianópolis e um projeto dessa magnitude envolveria uma mudança de residência e de vida, sem falar no investimento financeiro e emocional.
Anos atrás, ele me confidenciou que já não se reconhecia na São Paulo da virada do século, que seus referenciais na cidade haviam mudado ou desaparecido. Ao que parece, a maratona de noite de autógrafos e eventos gerados pelo livro fizeram com que a metrópole é que passasse a reco-nhecê-lo e ao que realizou com o Piran-dello. Que a partir de então deixou de ser apenas um retrato dolorido na parede e se converteu em denominador comum de tanta gente. Se ele voltar mesmo, que seja em grande estilo, com toda a pompa e circunstância devida.

Na foto, Paulo Caruso, Wlady e Mauro Chaves

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Publicado em Gente etc 300, de 10 de janeiro

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